País deve usar energia limpa para atrair multinacionais, diz CEO da Sonepar
A exploração de energia limpa no Brasil é um atrativo grande para trazer mais multinacionais. É o que diz, em entrevista ao UOL Líderes, Yannick Laporte, CEO da Sonepar no Brasil, multinacional francesa que está no Brasil desde 2001 e atua na distribuição de materiais elétricos, como cabos e disjuntores. Laporte é francês e atua na Sonepar no Brasil há sete anos.
ELE FALOU SOBRE:
- As oportunidades que a crise global abre para o Brasil.
- O apelo econômico, e não apenas ecológico, da sustentabilidade.
- O avanço da automatização residencial e dos carros elétricos.
Ouça a íntegra da entrevista no podcast UOL Líderes. Você também pode assistir à entrevista em vídeo no canal do UOL no YouTube.
Veja a seguir destaques da entrevista:
OPORTUNIDADES NO BRASIL
No longo prazo, os dois mercados em que atuamos - a indústria, em que somos mais fortes no Brasil, e a construção civil - têm potencial muito grande. Energia também tem um potencial gigante. Não tenho dúvidas de que, daqui a alguns anos, o Brasil vai se tornar um grande exportador de energia limpa para o mundo.
A saúde econômica do Brasil em curto prazo não é ruim. O PIB esse ano vai fechar em um nível razoável. No ano que vem, quando o céu na Europa e nos EUA está parecendo bastante cinza, o Brasil é capaz de se destacar, com controle de inflação, como já está acontecendo nesse final de ano.
ENERGIA LIMPA
[O Brasil] Tem uma oportunidade grande de convencer indústrias a produzirem no Brasil. Porque a pegada de carbono é menor do que em outros países. Na Alemanha, só 25% da matriz elétrica é sustentável. É pouco. E tem alguns estados dos Estados Unidos indo à Alemanha para convencer fábricas a se instalar em seu estado. Porque ele já tem matriz energética bastante sustentável, como solar, eólica.
As multinacionais têm metas internas. Esse apelo de sustentabilidade não é mais só legal e ecológico, virou um apelo econômico de verdade. Precisamos aproveitar.
CARROS ELÉTRICOS
O carro elétrico pegou muito bem na Europa. Lá 20% dos carros vendidos já são elétricos ou híbridos. No Brasil ainda está engatinhando porque o país é grande, a autonomia dos carros não é tão grande, não é possível ir de São Paulo a Ribeirão Preto, por exemplo, ainda faltam lugares para carregar.
Há também poucos incentivos do governo. Lá fora você tem um prêmio na hora de comprar um carro elétrico. E temos mais um fator: no Brasil há o etanol, que é uma excelente fonte sustentável, gera uma pegada de carbono muito inferior à da gasolina. Mas é um mercado que vai crescer cada vez mais, já aconteceu lá fora, e daqui a alguns anos vai crescer aqui também. Não tem como ser diferente.
CASAS INTELIGENTES
A pandemia foi um acelerador para essa sofisticação, as pessoas investiram em suas casas para ter uma melhor internet, e isso começou a puxar produtos mais sofisticados, como objetos conectados, controle de ar-condicionado, automação predial. Sem falar de carregadores elétricos e solares nas casas.
Acredito que sim [a automação residencial será mais popular no Brasil]. Quando eu trabalhava na Sonepar da França, há sete anos, 20% do meu faturamento já era nesse segmento. No Brasil também vai acontecer, com soluções mais econômicas, como poder mexer na temperatura de cor da luz. E essas soluções vão ao encontro da redução de consumo de energia, então vai ter um apelo econômico.
PROPOSTAS PARA O BRASIL
A parte de educação, para mim, é muito importante. Eu estudei a vida toda na escola pública na França e tinha um ótimo nível, e vejo que no Brasil não é o caso. A educação é importantíssima para dar as mesmas chances para todos.
O segundo ponto é a parte tributária. A gente sabe lidar com isso hoje, mas é burocrático, se gasta energia. Isso, bem como a modernização do aparelho político e administrativo, seriam pontos importantes. A questão da infraestrutura também. É preciso um investimento de longo prazo.
RESILIÊNCIA DO BRASILEIRO
Quando eu comecei, via que tinha pessoas que trabalhavam comigo de dia e faziam faculdade de noite. Isso não tem na França. Você aprende a ser resiliente no Brasil. Cheguei em 2016, e o Brasil estava com um PIB que caiu muito em 2015. E as pessoas estavam se encaixando. Na Europa teria sido um trauma.
Quando veio a pandemia foi a mesma coisa. Organizamos quase todos os funcionários para trabalhar em home office em três dias. Isso porque o brasileiro é muito ágil. Na França, nos perguntavam como fizemos isso tão rápido. E eu dizia: "Não sei".
COMO É A SONEPAR
Ano e local de fundação: Surgiu em 1867, na França
Número de funcionários no Brasil: 1.800
Países onde atua: Mais de 40 países
Faturamento no Brasil em 2020: R$ 1,48 bilhão
Faturamento no Brasil em 2021: R$ 1,92 bilhão
Faturamento previsto para 2022: Projeta crescimento perto de 10%
QUEM É YANNICK LAPORTE
Nome completo: Yannick Joel Laporte
Data e local de nascimento: 15/06/1976 em Gueret, Creuse, França
Primeiro emprego e cargo: Gerente de produtos na Saint-Gobain (França)
Cargos de destaque na carreira: Diretor Terreal (França+Internacional), Diretor Geral Regional Sonepar França, CEO Nortel - grupo Sonepar (Brasil), CEO Sonepar Brasil
Cidades em que morou: Auxerre (França), Paris (França), Bloomington (Indiana-EUA), Madrid (Espanha), Jodhpur (Índia), Curitiba, São Paulo, Vinhedo
Graduação e pós: Administração de empresa HEC Paris-France e Exchange program MBA Kelley-EUA
Família: Esposa e 2 filhos
Hobbies: Família, viagens, leitura, esportes (tênis, futebol, ciclismo, golfe)
Livro: "The Descarbonization Imperative", de Michael Lenox e Rebecca Duff: "O livro detalha as iniciativas que já estão dando resultados e traça as necessárias ações para conseguirmos descarbonizar e salvar o planeta."
Filme: "Intocáveis", dos diretores Olivier Nakache e Éric Toledano: "Um encontro improvável e divertido entre um aristocrata rico tetraplégico e um jovem preto da periferia. Os dois superam suas diferenças para virar amigos; uma bela maneira de falar de diversidade e inclusão."
Time de futebol: PSG
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