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Preço irreal de multinacionais afetou Livraria Cultura, diz líder do setor

Marcus Teles, presidente da Livraria Leitura - Divulgação/Livraria Leitura
Marcus Teles, presidente da Livraria Leitura Imagem: Divulgação/Livraria Leitura

Do UOL, em São Paulo

26/02/2023 04h00

Uma das razões da quebra da Livraria Cultura são os preços artificialmente baixos de grandes multinacionais do setor, diz Marcus Teles, presidente da Leitura, a maior rede de livrarias do Brasil hoje.

Empresas brasileiras não conseguem bancar custos

Livrarias brasileiras, como Cultura e Saraiva, tentaram acompanhar os preços baixos e se deram mal. Multinacionais, como Amazon, cobram preços abaixo do custo. Isso é difícil de sustentar, diz Teles em entrevista exclusiva ao UOL.

Manter uma livraria de 4.000 metros na avenida Paulista não é fácil. A livraria Leitura também tem lojas com mais de mil metros quadrados, mas a maioria de suas unidades tem tamanho menor.

Apesar do momento delicado da Cultura, a venda de livros cresceu no último ano. Segundo Teles, isso mostra que não é o setor que está em dificuldades, mas algumas empresas.

A Leitura é hoje a maior rede de livrarias do país, segundo a Associação Nacional de Livrarias, seguida pela Zastras Nobel e pela Paulus. A Leitura nasceu em Minas Gerais, cresceu em cidades distantes dos grandes centros e hoje está também em shoppings de São Paulo, como West Plaza e Ibirapuera.

Leia os principais destaques da entrevista:

Multinacionais têm práticas danosas para o mercado

O problema do mercado de livros é que algumas empresas, grandes grupos multinacionais, vendem abaixo de preço de custo, dão frete grátis, e isso é muito danoso para o mercado. Muitos países já proíbem o desconto abusivo no primeiro ano após o lançamento do livro.

Algumas empresas tentaram fazer a mesma coisa, e com isso foram se endividando. Foi o que aconteceu com Cultura e Saraiva, que entraram em recuperação judicial em 2018. É algo parecido com o que está acontecendo nas Americanas.

Venda de livros cresceu no Brasil

A venda de livros cresceu no último ano. As pessoas estão lendo mais depois da pandemia. A venda de livros juvenis cresceu, a Bienal do Livro do ano passado foi recorde, esgotou ingresso. Então, parece um problema de mercado, mas é um problema de algumas empresas.

Impacto da situação da Cultura para o mercado

Lamentamos muito os problemas da Cultura. Cada vez que fecha uma livraria a gente fica triste, é ruim para o mercado. Mas isso vem de muito tempo, ela está em recuperação judicial já há anos, hoje só tem duas lojas, não está nem entre as dez maiores livrarias. Então, o problema para o mercado já aconteceu lá atrás.

Para quem está endividado, juros altos atrapalham

Acredito que se o novo governo fizer um bom trabalho, no segundo semestre pode haver queda nos juros. A inflação está em menos de 6%, mas teve modificações como na gasolina que foram provisórias. Para quem está endividado, os juros altos atrapalham, é um momento mais difícil. No caso da Leitura, que tem caixa positivo, o impacto é menor.

Lojas da Livraria Cultura são muito grandes

A Cultura ainda está recorrendo [da falência], mas a gente estuda todas as áreas. A loja da Cultura no Conjunto Nacional em São Paulo é muito grande. Podemos estudar na região uma loja boa, mas não naquele tamanho. Manter uma livraria de 4.000 metros na avenida Paulista não é fácil. Em Porto Alegre, estamos estudando oportunidades, mas não nos interessa uma loja do tamanho da que eles têm naquele ponto.

Brasil terá menos livrarias mega-stores

A Cultura está em outro formato, não é uma loja igual à nossa. Ela tinha uma mega-store, tentou abrir 14 no país, e demorou muito para fechar as lojas que davam prejuízo. Nos últimos anos, houve uma diminuição das mega-stores no mercado, por conta da internet. Tínhamos livrarias muito grandes. Ainda vamos continuar tendo, mas elas tendem a diminuir.

Livraria Leitura deve fechar o ano com mais de 100 lojas

Na crise apareceram muitas oportunidades, abrimos muitas lojas. Em 2020 foram nove novas lojas, em 2021 foram 14. Agora voltamos para o ritmo de antes, foram cinco novas lojas em 2022, e devem ser cinco em 2023. E todo ano fechamos alguma loja que não vai bem. O plano é fechar o ano com até 103 unidades, mais a loja virtual. O Brasil é muito grande, tem muita cidade que não tem livraria.