Corrida aos bancos: o que é e por que EUA não querem repetição de 2008
A reação rápida das autoridades dos Estados Unidos diante do colapso de dois bancos americanos não foi suficiente para afastar os temores do mercado financeiro sobre uma possível "corrida aos bancos".
O que aconteceu:
- O Silicon Valley Bank (SVB), especializado em financiamento de startups, foi fechado e submetido a controle do Estado na sexta-feira (10), após um aumento de capital fracassado.
- O Signature Bank de Nova York, um dos mais importantes no mercado de criptomoedas, também foi fechado no domingo (12), depois que grande número de clientes retirou seus fundos da instituição financeira.
- Em ambos os casos, os fundos estão assegurados, informaram em declaração conjunta a secretária do Tesouro dos EUA, Janett Yellen, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, e a agência seguradora de depósitos bancários FDIC.
- No entanto, a incerteza ainda paira no ar. Após as perdas significativas, a bolsa de valores de Frankfurt chegou a cair 3% nesta segunda (13), arrastada sobretudo pela queda das ações do banco em todo o continente.
"Os investidores temem que outros bancos possam jogar a toalha diante do aumento das taxas de juros e dos rendimentos", comentou Christian Henke, da IG Markets.
Temores de uma corrida aos bancos
O pesadelo dos supervisores financeiros é a "corrida aos bancos", quando os clientes praticamente invadem os institutos na ânsia de colocar suas economias em segurança. Para evitar eventuais efeitos dominó como esse, as autoridades norte-americanas intervieram de forma decidida e, acima de tudo, enfatizaram que os depósitos dos clientes estavam assegurados.
As consequências disso puderam ser vistas durante a crise financeira global de 2008, quando o setor financeiro enfrentou em colapso. Se um grande número de clientes faz isso ao mesmo tempo, os bancos ficam sobrecarregados, por não dispor de capital suficiente para atender a todos os pedidos. Eles "secam", por assim dizer, e a confiança mútua cai.
No entanto, o Centro de Pesquisa Econômica Europeia (ZEW) não vê risco de uma nova crise financeira global após o fechamento dos dois bancos americanos.
"Como financiador de startups, o modelo de negócios do SVB é muito específico", avalia Friedrich Heinemann, chefe do Departamento de Estudos de Fiscalidade das Empresas e Finanças Públicas da ZEW. "Nesse aspecto, não espero um alastramento em direção a uma crise financeira."
Quem será o próximo?
Moritz Schularick, professor de economia da Universidade de Bonn, aponta que a "ação decidida" dos EUA reduziu o risco de novas falências bancárias. "A medida elaborada no fim de semana pelo Departamento do Tesouro americano e pelo Federal Reserve (Fed) deve tranquilizar os depositantes nesses dois bancos."
Ao mesmo tempo, o mundo precisa ficar muito atento aos problemas existentes no setor financeiro global: "Essas coisas são essencialmente difíceis de prever, e a verdade é que os problemas que derrubaram o SVB e o Signature Bank não afetaram apenas esses dois bancos. A questão, portanto, é: o que ainda está por vir?"
Por que o Silicon Valley Bank quebrou?
O SVB era um dos principais bancos voltados ao financiamento de startups nos EUA. Diante do aumento das taxas de juros no país, muitas delas decidiram sacar seus fundos mais rápido do que o esperado, obrigando o banco a liquidar suas participações em títulos.
O problema é que, com a guinada nas taxas de juros pelos bancos centrais, os rendimentos aumentaram, mas os preços dos títulos caíram, fazendo a venda dos títulos refletir-se em perdas para o banco. O SVB recorreu então a um aumento emergencial de capital, mas a providência acabou gerando ainda mais incerteza.
Só na quinta-feira (9), as ações do SVB na bolsa de Nova York caíram cerca de 60%, uma perda diária recorde para Wall Street. Após a despencada, na sexta-feira as ações foram suspensas, e o banco foi colocado sob controle do Estado.
*Com informações de Mischa Ehrhardt, da DW
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