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De estagiária a 'tradutora' da geração Z: ela virou 'ZEO' na empresa

Luiza Guerra tem 22 anos e recentemente assumiu o posto de ZEO - Divulgação
Luiza Guerra tem 22 anos e recentemente assumiu o posto de ZEO Imagem: Divulgação

Camila Corsini

Do UOL, em São Paulo

06/04/2023 04h00

Um cargo de liderança é o sonho de muitos trabalhadores. Mas, geralmente, para chegar lá, são necessários anos de trabalho e especialização.

Em uma empresa de comunicação de São Paulo, no entanto, uma oportunidade está disponível justamente para quem acabou de entrar no mercado de trabalho: em novembro de 2022, foi criado o cargo de ZEO.

"Ela é responsável por trazer uma visão dinâmica, inovadora e diversa à empresa, representando os ideais da geração Z", comunicou, em suas redes sociais, a VCRP Brasil.

Segundo a empresa, a posição de ZEO faz referência aos cargos de C-level (CEO).

Em resumo, a ideia é que uma pessoa da geração Z dialogue diretamente com aqueles da mesma classe geracional, com o objetivo de entender o comportamento e as metas de quem nasceu entre os anos de 1995 e 2010.

Por lá, quem ocupa o cargo é Luiza Guerra de Oliveira, de 22 anos. "Sempre quis fazer a diferença de alguma forma, liderar, me comunicar de forma efetiva. Sempre pensei grande", diz ela, que ainda está no 3.º ano de relações públicas na faculdade.

Na empresa desde julho de 2021, Luiza entrou como estagiária — foi seu primeiro trabalho na área em que está se formando. Antes, ela foi professora de inglês.

Vi uma oportunidade para eu falar diretamente com os meus
Luiza Guerra de Oliveira, ZEO

Internamente, a jovem passou por diversas entrevistas até ser, de fato, escolhida como ZEO. Em uma das etapas, entregou um planejamento nomeado de StartZ — documento lapidado com auxílio de outras lideranças da empresa e que hoje norteia a atuação de Luiza.

Como o cargo é novo no mercado, é uma construção mútua. Eles se preocupam em entender o meu lado e o que eu quero ou acho que deve ser feito a partir do meu olhar como geração Z. Tive várias conversas com os CEOs, o RH e a gerente-geral para alinharmos em conjunto

No dia a dia, ela conta com apoio de um comitê formado por mais duas mulheres também da geração Z — Janayna e Jasmyne. "A gente se completa, porque cada uma tem afinidade com uma parte do trabalho."

Perfil do profissional Z

O cargo de ZEO, um "executivo especializado em jovens", é uma novidade no mundo corporativo. No ano passado, uma das maiores empresas de relações públicas, a Edelman, nomeou um jovem de 26 anos para um cargo com este nome.

O desafio é lidar com as diferenças de pensamentos e objetivos dentro de uma mesma empresa.

Os baby boomers [nascidos entre 1945 a 1964] são filhos do pós-guerra. Eles têm uma visão de trabalho, relação familiar e metas pessoais ligadas a carro e casa própria, além da estabilidade. A geração Z não tem isso. Nossas necessidades são outras

Os jovens entre 18 e 24 anos são os que mais "pulam" de trabalho — cerca de 1/4 fica menos de três meses no mesmo emprego, segundo dados do Ministério do Trabalho e Previdência de 2020.

A prática é conhecida como "job hopping" — e não existe mais o medo de ser "mal visto" pelo mercado de trabalho por pouco tempo de vínculo empregatício.

Além disso, para a geração Z, já não basta mais um bom salário ou o nome de uma grande empresa no currículo: se não fizer sentido na carreira ou se o cargo não estiver alinhado com as convicções pessoais, é hora de trocar de emprego.

Outro comportamento comum entre essa geração é o "quiet quitting" — ou, simplesmente, demissão silenciosa.

Enquanto as gerações anteriores ficaram conhecidas por serem workaholics (trabalhadores compulsivos) e, consequentemente, terem esgotamentos, os recém-chegados ao mercado priorizam a saúde mental.

'Não dá para segregar'

Pela primeira vez, o mercado de trabalho tem cinco gerações ativas ao mesmo tempo: os baby boomers, X, Y, Z e Alpha — esta última, de nascidos após 2010.

Apesar de os jovens de 13 anos não poderem ter um emprego formal, muitos já produzem conteúdo nas redes sociais e, amparados pela tecnologia, geram renda para as famílias.

Não dá para segregar, as outras gerações existem. Quero fazer com que todo mundo consiga ser ouvido, trazer a voz ativa e aprender um com o outro

"A gente sabe se comunicar com as gerações passadas, mas a geração Z tem novas necessidades. Estamos muito ligados com a tecnologia, temos uma forma de consumir mais rápida e necessidades latentes de pertencimento", diz Luiza.