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Mercado de carros blindados cresce mesmo com menos crimes, diz DuPont

Do UOL, em São Paulo

08/05/2023 14h40

A procura por blindagem de carros cresce no Brasil, ainda que a criminalidade diminua. É o que diz Fabio Correa Leite, presidente da DuPont no Brasil, em entrevista ao UOL Líderes.

A DuPont é uma indústria química que fornece materiais para diversos usos. Um dos principais mercados da empresa no Brasil hoje é o da segurança. A DuPont fornece o kevlar, fibra sintética usada em coletes à prova de balas e blindagem de veículos.

O que ele disse

A procura por blindagem de carros não está diretamente relacionada com o aumento da violência. A blindagem de carros no Brasil cresceu 45% de 2020 para 2021. Leite disse que isso tem mais a ver com a percepção das pessoas do que com a violência em si, já que os índices de criminalidade têm caído, tendo como base os dados do estado de São Paulo. "Não necessariamente é mais crime que está levando a um crescimento do mercado, mas se a sua expectativa em relação à segurança aumenta faz com que você precise de mais para poder se sentir protegido", diz.

Centro de pesquisas da DuPont testa resistência para armas pesadas. A empresa tem uma área de teste balístico em Barueri (SP) para medir a resistência dos materiais a tiros de armamentos pesados. Segundo Leite, a meta é desenvolver produtos para forças de segurança que sejam efetivos na proteção e ao mesmo tempo leves, a fim de não comprometer o desempenho de quem vai usá-los.

Tecnologia pode facilitar acesso ao saneamento básico. Leite também falou sobre a atuação da empresa no setor de saneamento básico e defendeu maior presença do capital privado no setor. Segundo o executivo, é possível ter estações de tratamento menores e mais baratas usando tecnologia.

Governo precisa aproveitar início do mandato para fazer reformas. O presidente da DuPont disse que seria positivo se a reforma tributária fosse votada nos próximos meses e que o governo deveria ter menos tensões e fazer as reformas no início do mandato.

Sistema tributário e câmbio atrapalham investimentos de multinacionais no país. O executivo também disse que a complexidade do sistema tributário brasileiro e o câmbio dificultam os investimentos das empresas no Brasil.

Meta da empresa é dobrar de tamanho no Brasil em cinco anos. Segundo ele, um dos mercados com maior potencial é o de saneamento. O país é um dos dez maiores mercados da DuPont no mundo, mas a maior parte dos produtos vendidos aqui ainda vem de fora.

Ouça a íntegra da entrevista no podcast UOL Líderes. Você também pode assistir à entrevista em vídeo no canal do UOL no YouTube. Veja a seguir destaques da entrevista:

Blindagem de carros e criminalidade

É mais uma questão de percepção das pessoas. Em São Paulo, a criminalidade tem diminuído nos últimos 20 anos. Ao mesmo tempo em que a tendência do mercado de blindagem é o contrário. Acredito que com pandemia, por terem ficado muito em casa, quando as famílias voltaram a se relacionar e a sair, aquelas têm esse poder aquisitivo passaram a buscar esse tipo de solução.

O número de homicídios dolosos caiu 75,7% no estado de São Paulo de 2002 a 2022. Em 2002 foram 12.532 casos, ante 3.044 em 2022. No entanto, o número subiu 6,9% de 2021 para 2022. O número de vítimas de latrocínio em 2022 foi o menor em 20 anos. Foram 152 vítimas, ante 478 em 2002.

Testes de novos produtos militares

A gente inaugurou um centro de pesquisas [no Brasil], com um túnel balístico com equipamentos que simulam o desempenho de um armamento. Ajudamos nossos clientes a desenvolver produtos que sejam leves, que podem ser capacetes, coletes, proteções para veículos militares. Quanto mais leve for um equipamento, menos você compromete o desempenho de quem vai usá-lo.

Disrupção no saneamento básico

Vemos grande potencial de disrupção no saneamento. Ao fazer uma estação de tratamento, é preciso desapropriar para construir os tanques. Com a tecnologia [da DuPont], você usa um terço do espaço. Consegue trazer aquela estação mais perto. A maior parte das perdas no saneamento está no bombeamento da água. Quando coloca a estação perto de quem vai consumir, você reduz a quantidade de perda do sistema.

Capital privado no saneamento

Se você oferecer ao capital privado previsibilidade e ambiente regulatório adequado para que ele possa fazer o investimento [em saneamento], ele vai fazer. Colocar a responsabilidade sobre o pagador de impostos de fazer tudo é uma solução que já temos tentado há tanto tempo, e ela tem um prazo para execução abaixo das expectativas das pessoas. Ninguém quer ter um rio na qualidade que temos em São Paulo.

Avaliação do governo Lula

Temos algumas expectativas com relação à reforma tributária. Estive em um evento onde um oficial do governo falou que existe uma chance grande de a reforma tributária ser votada nos próximos meses. É um sinal positivo, mas isso precisa realmente acontecer, ter menos tensões e fazer as reformas. Aproveitar o início dos governos, quando as coisas costumam, historicamente, andar mais calmamente.

Entraves para investimentos de empresas estrangeiras

A nossa estrutura tributária é complexa e onerosa. Uma reforma poderia facilitar esses investimentos. Outra questão que dificulta é o câmbio. Se hoje você faz um aporte de US$ 1 milhão, seriam R$ 5 milhões. Se daqui uns anos o câmbio estiver em 7, então precisa gerar R$ 7 milhões para dar aquele US$ 1 milhão. Por isso que os investidores têm uma expectativa maior de retorno em mercados de risco, como é o Brasil.

Expectativas para o futuro

O Brasil é um dos dez países mais importantes para a empresa. A gente quer dobrar o negócio em cinco anos. Vê um grande potencial, e uma das áreas é a de saneamento. Tivemos uma queda importante em 2020 no lockdown, mas temos crescido e já estamos nos níveis pré-pandemia e com potencial de crescimento.


Quem é Fabio Correa Leite

Idade: 42 anos
Cargos de destaque na carreira: Entrou na DuPont como estagiário em 2003. Desde então atuou como engenheiro, supervisor, líder de projetos na DuPont nos Estados Unidos, gerente de engenharia e depois diretor de infraestrutura na DuPont Américas
Formação: Graduado e mestre em Engenharia Elétrica pela USP, MBA pela Universidade de Pittsburgh Katz e especialização pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology)

Como é a DuPont Brasil

Funcionários: 20 mil no mundo e 220 no Brasil

Faturamento global:
2021: US$ 12,6 bilhões
2022: US$ 13 bilhões

Lucro global:
2021: 3,1 bilhões
2022: 3,3 bilhões

Países onde atua: Mais de 40 países