Idec: Nova rotulagem de alimentos e lupa têm confundido o consumidor
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Desde ano passado, as embalagens de alimentos industrializados ganharam uma nova rotulagem, com alertas sobre produtos com altos índices de açúcar, gordura saturada e sódio.
Uma das mudanças incluiu um ícone de uma lupa na parte frontal do rótulo. Mas isto tem ajudado ou confundido os consumidores?
Para ressaltar essa novidade, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) lançou, no mês passado, uma campanha de publicidade que pretende alertar às pessoas sobre a importância da verificação dos ingredientes - e de como a lupa se tornou uma ferramenta de saúde pública para informar sobre o excesso de ingredientes que podem ser nocivos à saúde. A criação da campanha foi da agência Moringa, de Brasília.
O UOL Mídia e Marketing conversou com Laís Amaral, coordenadora da campanha e supervisora técnica do Programa de Alimentação Saudável e Sustentável do instituto para entender um pouco mais sobre a iniciativa. Confira:
Qual o balanço desses primeiros meses das novas rotulagens?
Essa primeira etapa da rotulagem vale apenas para os produtos que são lançamentos. Isso torna a percepção do público mais difícil. Até por isso, é difícil dar uma resposta concreta sobre as mudanças.
Vimos uma maior implementação da nova norma nos ovos de Páscoa, porque grande parte era de produtos novos, com novas composições.
Ainda não estamos fazendo um monitoramento sistemático de quem tem atualizado os rótulos, mas é óbvio que gostaríamos que essa implementação acontecesse de forma mais rápida possível.
Com o faseamento de alterações determinado pela Anvisa, as pessoas podem não entender muito bem o que está acontecendo. Por que um produto tem uma lupa e outro não tem? Os que têm a lupa foram verificados? Quais ultrapassam os limites estabelecidos pela Anvisa? Isso pode causar uma confusão na cabeça do consumidor.
Vocês concordam com os limites sugeridos pela Anvisa?
O limite de Anvisa é bem alto. Então, para ultrapassar esse índice, o produto precisa ter uma quantidade absurda de ingredientes que não são saudáveis.
Nós defendemos um perfil parecido com o Opas (Organização Pan-Americana da Saúde), que está sendo utilizados por países da América Latina.
No site De Olho nos Rótulos, nós analisamos os índices tanto pela Anvisa, quanto pelo perfil da Opas. Com isso, vemos que um mesmo produto, pelo perfil da Opas, teria mais advertências do que possui hoje.
Em relação à campanha do Idec: a lupa faz parecer que o produto foi verificado, que está de acordo, não?
Sim. O Idec defendeu um rótulo diferente de advertência, o octógono. A gente tem visto isso na América Latina. A lupa tem essa questão de chamar menos atenção. Talvez passe essa impressão mais amenizada.
A lupa não traz essa interpretação tão clara de advertência, de alerta, digamos assim. Isso também foi uma escolha da Anvisa".
Quando teremos a estreia da nova fase de rotulagem?
A partir de outubro desse ano começa a valer para a grande maioria de produtos. A partir dessa data, teremos um boom maior de mudanças nos rótulos. Nem tanto pela lupa, mas pela tabela nutricional, que será obrigatória em todos os produtos.
Mais para a frente teremos a implementação para pequenos produtores e empresas menores e mais um ano para bebidas de embalagem retornável.
O prazo para finalizar as mudanças termina em outubro de 2025. Ou seja: esse faseamento acaba causando uma confusão para o consumidor.
Temos outra questão, dos nutrientes. A Anvisa selecionou sódio, açúcar adicionado e gordura saturada. Eles são importantes, têm conexão com saúde pública, mas não abarcam tudo o que precisaria chamar atenção do consumidor.
Um exemplo clássico, e que temos visto nos outros países, são os adoçantes - os edulcorantes. A gente tem a lupa para produtos com altos teores de açúcar.
Nossa preocupação é que as empresas poderão trocar o açúcar por edulcorante. Isso já foi visto no Chile, por exemplo. A gente sabe que isso também vai acontecer no Brasil".
Por isso, a lista de ingredientes também ganha muita importância. Por ela, a gente consegue identificar um ultraprocessado. Precisamos dar autonomia para o consumidor entender a escolha dele. O produto não tem lupa - mas tem corante, edulcorante, aromatizante. Ele é ultraprocessado e também não é recomendado.
Questionada, a Anvisa informou que a escolha está "largamente amparada em dados técnicos" e que, antes de propor o design da lupa, "analisou os modelos adotados em mais de 40 países". Além disso, afirma ter recebido mais 80 mil contribuições na consulta pública e que fomentou pesquisas para "avaliar a compreensão dos consumidores brasileiros em relação a modelos". Depois de tudo isso, o "modelo da lupa foi escolhido por ser o mais alinhado ao objetivo regulatório traçado", para facilitar a compreensão da rotulagem nutricional pelo consumidor.
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