Para governo, Shein é parceira, mas acaba com indústria, diz CEO da Reserva

O governo vê a Shein como um parceiro, mas a empresa está acabando com a indústria do Brasil, segundo Rony Meisler, co-fundador da Reserva e CEO da AR&Co, durante a inauguração da Casa Reserva, loja da marca no MorumbiShopping, em São Paulo.

Concorrência com Shein

A Shein é um problema para o Brasil, segundo Meisler. Existe uma briga entre as varejistas de moda nacionais e os sites asiáticos que vendem no Brasil, devido à taxação. Hoje todas as compras abaixo de US$ 50 não têm cobrança de imposto de importação, apenas de ICMS.

O povo não entende o problema. Ele acha que o governo quer taxar o benefício que é do povo. Ele não entende que ele está matando a indústria nacional, que isso vai gerar desemprego, que diminui a renda no Brasil.
Rony Meisler, co-fundador da Reserva e CEO da AR&Co

Meisler considera que o governo deveria fazer uma campanha de conscientização para a população. O objetivo seria explicar o que os impostos significam, porque, para o executivo, a população não entende a tributação atual.

O governo entende que a Shein é um parceiro, só que a Shein está acabando com a indústria brasileira. A gente tem que se preocupar com o que pode mudar. Eu vejo pouco pensamento de inovação de modelo no varejo de moda no Brasil. O pessoal fala 'vocês fizeram um monte de inovação no modelo'. Cara, desculpa, a gente escutou o cliente e foi fazendo as coisas. É o básico, mas acho que se pensa pouco no básico, porque [o varejista] está sempre muito atarefado com a operação e olhando para fora.
Rony Meisler, co-fundador da Reserva e CEO da AR&Co

Incertezas no Brasil

O Brasil é um país com muitas incertezas econômicas, para Meisler. "Estamos vivendo um período muito longo de incerteza. Não sabe para que lado vai. Tem reforma, mas não está escrita. Só sabe o impacto, não sabe a lei. Tem previsão de diminuição de taxas de juros, mas não tem previsibilidade de longo prazo para onde o juro vai", diz.

O executivo afirma que, institucionalmente, o país parece em uma continuação da gestão de Jair Bolsonaro, mas com uma ideologia de esquerda. "É um país que manda recados, que não tem necessariamente a ver com a nossa realidade, e que não nos geram certezas. Isso é muito ruim para o Brasil, em todos os pontos", afirma Meisler.

A impressão que o executivo tem do governo federal é de que existe uma "raiva às empresas". Isto acontece devido à forma como o presidente Lula se refere a empresas em alguns casos.

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É uma sensação de raiva às empresas, à iniciativa privada. Essa sensação que passa. Eu acho que isso é péssimo. A empresa é parceira do governo. A empresa não é um inimigo a ser combatido.
Rony Meisler, co-fundador da Reserva e CEO da AR&Co

Apesar desta avaliação, as incertezas não afetam a operação da empresa. Meisler afirma que a companhia tem um modelo de negócios sustentável, uma cadeia de fornecimento terceirizada e que quando uma crise afeta o consumo, a empresa tende a sentir menos (ou nem sentir), pelo perfil consumidor da marca.

Fusão com Arezzo

Em 2020, a Reserva foi comprada pela Arezzo por R$ 715 milhões. Com a fusão, a Reserva foi batizada de AR&Co. A integração de culturas das marcas era uma preocupação no começo da negociação, segundo Meisler.

A fusão deu medo, de início, conforme o executivo. Apesar de tudo ter sido combinado na negociação, só seria possível ver o funcionamento da operação no dia a dia, o que hoje Meisler vê que deu certo principalmente pelas diferenças entre ele e Alexandre Birman, CEO do grupo Arezzo&Co.

A Arezzo investiu. A gente é muito grato. O nível de credibilidade, de investimento feito na companhia nesses três anos é um negócio absurdo. Isso permitiu que a gente operasse o nosso plano que a princípio ia ser operado com IPO e a gente fez com a Arezzo.
Rony Meisler, co-fundador da Reserva e CEO da AR&Co

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A fusão fez com que a Reserva conseguisse aumentar o número de franquias da marca. Hoje são 212 lojas físicas, sendo 89 franquias. Meisler diz que, antes da fusão, a empresa tinha entre 30 e 40 franquias.

A lógica hoje é abrir lojas próprias dos grandes centros e apostas nas franquias em médios e pequenos. São considerados a quantidade de moradores e o PIB da região para decidir qual dos modelos faz mais sentido, entre outros critérios.

A autonomia dos negócios é uma das características das fusões e aquisições do grupo Arezzo&Co. O mesmo aconteceu com a Reserva. Neste ano, a Arezzo anunciou a fusão com o grupo Soma, operação que está sendo avaliada pelo Cade.

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