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PF desvenda esquema de corrupção em frigoríficos para fraudar fiscalização

17/03/2017 12h54

Por Sérgio Spagnuolo

CURITIBA (Reuters) - A Polícia Federal lançou nesta sexta-feira uma operação em seis Estados e no Distrito Federal com o objetivo de desarticular uma organização criminosa liderada por fiscais agropecuários federais e cerca de 40 empresas, entre elas as gigantes JBS e BRF, acusadas de pagamento de propina para a liberação de mercadorias sem fiscalização.

Nas investigações, que duraram dois anos, também foi identifica a possibilidade de parte da propina gerada ter ido para partidos políticos. Segundo o delegado da PF Maurício Moscardi Grillo, uma fatia teria ido para o PP e o PMDB.

"Nós torcíamos para aparecer uma empresa correta (na operação). Mas não aconteceu", afirmou Grillo a jornalistas.

De acordo com a PF, as investigações da chamada operação Carne Fraca, a maior já realizada pelos policiais federais, apontaram que os fiscais recebiam propina para emitir certificados sanitários sem qualquer fiscalização efetiva. Um dos exemplos de fraude era o uso de substâncias capazes de ocultar odores de carnes estragadas que foram comercializadas.

As superintendências regionais do Ministério da Agricultura nos Estados do Paraná, Minas Gerais e Goiás atuavam diretamente para proteger grupos empresariais, acrescentou a polícia.

"Dentre as ilegalidades praticadas no âmbito do setor público, denota-se a remoção de agentes públicos com desvio de finalidade para atender interesses dos grupos empresariais. Tal conduta permitia a continuidade delitiva de frigoríficos e empresas do ramo alimentício que operavam em total desrespeito à legislação vigente", disse a PF em nota.

Segundo o delegado, foram presos nesta manhã dois executivos da BRF e um da JBS.

A operação contou com aproximadamente 1.100 policiais federais para o cumprimento de 309 mandados judiciais, sendo 27 de prisão preventiva, 11 de prisão temporária, 77 de condução coercitiva e 194 de busca e apreensão em endereços dos investigados e de empresas supostamente ligadas ao grupo criminoso.

Os mandados judiciais foram expedidas pela 14ª Vara da Justiça Federal de Curitiba e estão sendo cumpridos nos Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goiás, além do DF.

Em comunicado, a JBS informou que "repudia veementemente qualquer adoção de práticas relacionadas à adulteração de produtos, seja na produção e/ou comercialização" e que não houve ação da PF na sede da companhia em São Paulo.

A BRF não tinha qualquer comentário de imediato sobre a ação da PF, assim como o Ministério da Agricultura.

As ações da JBS e BRF despencavam perto de 8 por cento na Bovespa às 12h25.

A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) afirmou que falhas da indústria de carnes investigadas pela PF na operação Carne Fraca, se comprovadas, seriam "exceções em um modelo produtivo que é referência para o mundo".

O Ministério da Agricultura marcou entrevista coletiva às 16h desta sexta-feira para comentar o assunto.

POLÍTICA

As investigações da PF na operação também detectaram que parte da propina no esquema de corrupção descoberto teria ido para campanhas políticas. Segundo Grillo, não foi possível detectar parta quais políticos, mas recursos teriam ido para o PMDB, partido do presidente Michel Temer, e para o PP.

Em nota, o PMDB informou que "desconhece o teor da investigação, mas não autoriza ninguém a falar em nome do partido".

O atual ministro da Justiça, Osmar Serraglio, também foi identificado em ligações na operação, mas não foi identificado ato ilícito, afirmou o delegado da PF.

Em nota, Serraglio, que assumiu o ministério no início do mês, disse que "a conclusão tanto pelo Ministério Público Federal quanto pelo juiz federal é a de que não há qualquer indício de ilegalidade nessa conversa degravada".

(Reportagem adicional de Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro, e Roberto Samora, em São Paulo)