Leilão de linhas de transmissão atrai investidor privado e anima indústria
Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - Um leilão que ofertará concessões para a construção de novas linhas de transmissão de energia em 26 de abril tem atraído forte interesse de investidores, principalmente privados, o que gera otimismo na indústria fornecedora de equipamentos.
A perspectiva de quem acompanha os preparativos para o certame é de que haverá lances de empresas por todos ou quase todos os 35 lotes de projetos que serão ofertados, com possíveis exceções para empreendimentos vistos como mais complexos do ponto de vista ambiental.
O certame, assim, poderia repetir ou superar o desempenho da última licitação de linhas de energia, em outubro passado, que teve o melhor resultado desde 2012, ao receber propostas para 21 dos 24 lotes disponíveis.
"Acho que esse leilão vai ser mais fervente que o do ano passado... Tem aí uma dúzia ou mais de investidores (estudando projetos) e cada proponente desse estuda um ou mais lotes, alguns estudam todos os lotes", disse à Reuters o diretor de energia da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Newton Duarte.
A avaliação é compartilhada pelo coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Nivalde de Castro. "O leilão será muito competitivo, com deságios, e possivelmente sem lotes vazios."
A maior movimentação é atribuída à elevação da taxa de retorno dos projetos, efetivada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) no ano passado para evitar novos fracassos após uma série de leilões de transmissão malsucedidos realizados desde 2013.
"Os retornos são bastante bons, e evidentemente isso é o que está atraindo tantos possíveis investidores. Estamos com uma perspectiva bastante positiva a respeito do resultado do leilão", avaliou o vice-presidente de Desenvolvimento de Negócios da fabricante de equipamentos ABB no Brasil, José Paiva.
A avaliação dos especialistas é que devem participar do certame empresas de transmissão privadas já presentes no país --como Cteep, Taesa e Alupar-- e elétricas mais presentes em outros segmentos, como a geradora Engie, além de fundos de investimento.
"De todos leilões em que participamos, esse é o que tem maior demanda. E uma característica distinta é que são muitos investidores, e há um grande número de fundos de investimento. Isso já foi acentuado no último leilão, e agora vem muito mais forte", disse à Reuters o diretor-executivo da Alubar Metais e Cabos, Mauricio Gouveia.
Ele disse, inclusive, que a Alubar começa a avaliar uma expansão em sua fábrica no Brasil para atender a demanda que será gerada por esse e outros leilões de transmissão de grande porte que estão na agenda da Aneel.
"Estamos planejando ampliações para os próximos anos... vamos definir até o final do primeiro semestre o tamanho da ampliação, devido à expectativa com os negócios, crescendo com os leilões", disse o executivo da Alubar, fornecedora de vergalhões e cabos elétricos para linhas de transmissão e redes distribuição de energia.
LIMINARES
Decisões judiciais liminares que livram indústrias de pagar parte de uma cobrança que será incluída nas tarifas de energia a partir do segundo semestre, para quitar indenizações devidas pela União a transmissoras de energia, devem ter pouco impacto no leilão, avaliou o especialista em energia do Demarest Advogados, Raphael Gomes.
Ele disse que, embora algumas companhias como Eletrobras Cteep, Cemig e Copel corram risco de receber menos recursos que o esperado devido às liminares, essa discussão está centrada em concessões antigas, com pouco impacto sobre novos empreendimentos.
Essas indenizações haviam sido prometidas pelo governo às elétricas no final de 2012, quando as empresas aceitaram renovar antecipadamente contratos de concessão que venceriam nos anos seguintes.
"Existe um temor em relação a uma nova judicialização no setor, mas no leilão, especificamente... não tenho sentido essa preocupação", disse.
Castro, da UFRJ, mantém o otimismo com o leilão, mas avalia que a Cteep "fica fragilizada" para a disputa. Já a Eletrobras, outra companhia com recursos a receber, já anunciou que não vai participar da licitação.
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