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Tuíte de Trump interrompe negociações sobre exportações futuras de aço do Brasil

Lopes evitou comentar se o setor poderia judicializar a disputa - Getty Images
Lopes evitou comentar se o setor poderia judicializar a disputa Imagem: Getty Images

05/12/2019 15h21

As negociações sobre futuras exportações de aço do Brasil para os Estados Unidos foram interrompidas depois que o presidente norte-americano, Donald Trump, escreveu no Twitter nesta semana que vai retomar tarifas sobre importações do Brasil e da Argentina, afirmou o presidente do Instituto Aço Brasil (IABr), nesta quinta-feira.

Trump surpreendeu Brasil e Argentina nesta semana ao publicar um tuíte afirmando que as importações de aço e alumínio desses países serão alvo de sobretaxas imediatamente porque, segundo ele, os países estariam desvalorizando artificialmente suas moedas, o que prejudicaria agricultores dos EUA.

Lopes, presidente-executivo do IABr, grupo que representa companhias como Usiminas, Gerdau e CSN, teceu fortes críticas à postura do presidente norte-americano.

"O Trump usou a seção 232 para impor as cotas. Isso é sério, ele não pode acordar de manhã e da cabeça dele mandar um tuíte. Existem procedimentos a serem cumpridos", afirmou o presidente do IABr a jornalistas, referindo-se ao recurso legal sob o qual o presidente dos Estados Unidos alegou defesa da segurança nacional para proteger a indústria norte-americana produtora de aço.

"Contratos de longo prazo estão sendo cumpridos, mas as negociações com outros clientes estão suspensas. Não tem nada formalizado ainda pelo governo americano, mas os clientes querem saber se o preço vai ter 25% de sobretaxa ou não e sem saber isso não tem como fechar negócio", disse Lopes.

Ele não deu detalhes, mas afirmou que cerca de metade dos embarques brasileiros de aço aos EUA refere-se a contratos de longo prazo. Citando dados do Departamento de Comércio dos EUA, o IABr afirmou que em 2018 as importações de aço dos EUA somaram 30,57 mi de toneladas, das quais 3,98 milhões foram embarcadas pelo Brasil.

O tuíte de Trump foi publicado semanas depois que uma comitiva brasileira saiu de Washington com expectativas de que o sistema atual de quotas de importação, estabelecido em meados do ano passado, seria flexibilizado no curto prazo.

Lopes afirmou que o governo brasileiro junto com o setor siderúrgico do país levaram propostas em outubro para a equipe de defesa comercial dos EUA sobre retirada das cotas de importação no caso de produtos semiacabados, usados pela indústria norte-americana para produção de itens como laminados que podem ser usados por montadoras de veículos.

Do total de exportações brasileiras de aço no ano passado aos EUA, a maior parte, ou 3,55 milhões de toneladas, foi de produtos semiacabados. Caso o fim da cota de 3,5 milhões de toneladas não fosse aceito, a comitiva brasileira propôs o pagamento de tarifa de 25% sobre o volume de importações que excedesse esse limite.

Reunião nos EUA

Atualmente, compradores de aço brasileiro nos EUA não pagam tarifas de importação, mas quando o volume de material importado atinge o teto da cota, o país não aceita receber mais produtos, o que gera dificuldades ao comércio.

"As equipes norte-americanas mostraram boa vontade e saímos daquela reunião com uma visão extremamente otimista de que pelo menos alguma coisa dos nossos pedidos fosse aceita", disse Lopes ao explicar parte de surpresa do setor com o tuíte de Trump.

Os EUA registraram importações de 7,13 milhões de toneladas de aço semiacabado em 2018, segundo o IABr, com os maiores fornecedores sendo Brasil, México e Rússia.

Lopes evitou comentar se o setor poderia judicializar a disputa, uma vez que o governo dos EUA não formalizou a decisão publicada por Trump no tuíte sobre as tarifas. "Mas quando se tem uma 45 apontada para sua cabeça, você não pode achar que ele não vai atirar, tem que estar preparado para tudo", disse o presidente do IABr.

Ele mencionou que a entidade foi procurada por escritórios de advocacia internacionais especializados em questões comerciais, que mencionaram que a disputa poderia ser levada ao Tribunal Internacional de Comércio, sediado em Washington.

A questão é semelhante à enfrentada recentemente pela Turquia. Em outubro, Trump ameaçou elevar as tarifas de importação dos EUA de aço turco em 50%.

"Estamos tentando colocar o pino de volta na granada", disse Lopes sobre atuação do setor junto ao governo brasileiro para evitar a imposição das tarifas ao aço do país.

De janeiro a setembro deste ano, as importações de aço do Brasil pelos EUA somam 3,38 milhões de toneladas, com 2,99 milhões sendo de material semiacabado, segundo dados do Departamento de Comércio dos EUA citados pelo IABr.

Lopes lembrou que o Brasil importa 1 bilhão de dólares por ano em carvão siderúrgico dos EUA, fluxo que "pode sofrer uma redução, caso pararmos de mandar placas (de aço) para lá".

Sobre as perspectivas para 2020, o IABr estimou mais cedo que a produção de aço do Brasil no próximo ano vai subir 5,3%, para 34,2 milhões de toneladas. O setor também estimou aumento nas vendas da liga no país para 19,4 milhões de toneladas, crescimento de 5,1%. O consumo aparente, que reúne vendas de produtos produzidos no país e importações, deve crescer 5,2%, para 21,8 milhões de toneladas.

Para 2019, o IABr prevê queda de 8,2% na produção, para 32,5 milhões de toneladas, com vendas internas em baixa de 2,3%, para 18,5 milhões de toneladas.

O presidente do IABr também criticou instâncias do governo federal que são contrárias a políticas de estabelecimento de conteúdo local em grandes projetos como na exploração do pré-sal. Segundo a entidade, o setor, que convive atualmente com ocupação de cerca de apenas 65% de sua capacidade instalada, projeta um consumo potencial de 10,7 milhões de toneladas de aço apenas com a carteira de projetos de óleo e gás inscritos no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI).

"Temos dificuldades muito fortes com o governo sobre questões como conteúdo local, que era defendido no governo passado e agora está um pouco demonizado", disse Lopes. "O viés liberal do Brasil deixa a gente com preocupação bastante grande porque o mundo assumiu um viés protecionista", acrescentou.