Eneva encerra conversas com AES Tietê sobre proposta de fusão
SÃO PAULO (Reuters) - A Eneva decidiu encerrar tratativas com a AES Tietê sobre uma proposta de combinação dos negócios das companhias avaliada em 6,6 bilhões de reais, informou a empresa em comunicado na noite de terça-feira.
O fim das negociações vem após o conselho da AES Tietê ter rejeitado a oferta e sua controladora, a norte-americana AES , afirmar que a operação envolvendo a empresa não poderia ser implementada sem seu aval, uma vez que possui a maior parte das ações com direito a voto na elétrica.
"No entendimento da Eneva a operação não deveria seguir, nesse momento, em meio a um provável embate acerca dos direitos dos acionistas preferenciais da AES Tietê e os interesses do acionista controlador daquela companhia", disse a Eneva.
As ações da AES Tietê chegaram a recuar mais de 5% após a informação sobre o fim das negociações com a Eneva. Por volta das 16 horas, elas recuavam 1,8%, contra avanço de 2,2% do Ibovespa.
A Eneva disse entender que o posicionamento da AES sobre a oferta descumpriria o estatuto da AES Tietê e o regulamento de listagem da empresa no nível 2 de governança corporativa da bolsa B3.
A AES defendeu, em carta divulgada pela AES Tietê na segunda-feira, que "está claro para nós que a combinação de negócios proposta não pode ser implementada sem a aprovação da maioria dos titulares de ações ordinárias da companhia".
A AES Tietê, apesar de ter rejeitado a fusão, havia deixado a porta aberta para a apresentação de uma nova oferta pela Eneva, sinalizando que poderia avaliar uma proposta maior e envolvendo pagamento em dinheiro.
A Eneva propôs inicialmente um negócio envolvendo 2,75 bilhões de reais em dinheiro e o restante em ações.
"Mesmo disposto a viabilizar possíveis alternativas para melhorar ainda mais os termos econômicos da proposta para os acionistas da AES Tietê em uma negociação que finalmente se anunciava, informamos que em reunião realizada nesta data o conselho de administração da Eneva decidiu encerrar as tratativas em torno da proposta", diz o comunicado da Eneva, da noite de terça-feira.
A empresa acrescentou que "seguirá trabalhando na geração de valor para seus acionistas" e "sempre atenta a futuras novas oportunidades de combinação de negócios".
A AES Tietê disse em fato relevante nesta quarta-feira que recebeu uma carta da Eneva sobre a retirada da proposta hostil.
"A administração analisará o seu conteúdo de forma detalhada, mantendo o mercado e seus acionistas informados sobre eventuais desdobramentos."
Se viabilizada, a operação criaria uma gigante do setor de geração no Brasil, ao unir ativos termelétricos a carvão e gás da Eneva a um parque de usinas hidrelétricas, eólicas e solares da empresa da AES, focada em renováveis.
BNDESPAR
A controvérsia em torno dos direitos de decisão sobre a proposta da Eneva cresceu após o BNDESPar, que possui 28,4% da AES Tietê, ter enviado carta à diretoria da elétrica na segunda-feira pedindo a convocação de assembleia de acionistas para avaliar a oferta, segundo documento divulgado na terça-feira.
O braço de participações do BNDES é acionista da AES Tietê desde uma renegociação de dívidas com a AES nos anos 2000, mas os norte-americanos detêm o controle da empresa, com 61,6% das ações votantes.
O banco estatal destacou que sua carta "não é e nem deve ser lida como qualquer manifestação de mérito" em relação à proposta da Eneva, sobre a qual não fez "qualquer juízo de valor", mas defendeu que o tema fosse levado a todos acionistas.
"A BNDESPar acredita ser do dever do conselho de administração da AES Tietê negociar melhores termos para a operação... não obstante, a administração da AES Tietê também têm o dever fiduciário de convocar uma assembleia geral", afirmou o banco.
Ao divulgar o documento enviado pelo BNDES, a AES Tietê disse em comunicado ao mercado que convocaria uma assembleia após discussões com a Eneva, "independente da proposta ser aprimorada ou não".
(Por Luciano Costa)
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