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Ibovespa fecha em queda com tombo histórico de 80% da Americanas

12/01/2023 18h26

Por Paula Arend Laier

SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou com um declínio modesto nesta quinta-feira, marcada pelo tombo de quase 80% das ações da Americanas , que perdeu mais de 8 bilhões de reais em valor de mercado após aturdir investidores ao divulgar "inconsistências" contábeis da ordem de 20 bilhões de reais.

O noticiário sobre a varejista acabou ofuscando a relevante pauta do penúltimo pregão da semana, que também contou com anúncio de medidas fiscais pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e dados de preços ao consumidor dos Estados Unidos.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 0,59%, a 111.850,22 pontos, após alcançar 113.128,80 pontos na máxima e 110.981,59 pontos na mínima. O volume financeiro somou 27 bilhões de reais.

A queda ocorre após uma sequência de seis pregões de alta, em que o Ibovespa acumulou valorização de 8%.

"O foco ficou todo voltado para Americanas", afirmou o superintendente da Necton/BTG Pactual, Marco Tulli, acrescentando que mesmo o aguardado anúncio de medidas econômicas pelo novo governo acabou ficando em segundo plano na bolsa paulista, assim como o dado norte-americano de inflação.

Em Brasília, Haddad, apresentou um plano de ajuste de até 242,7 bilhões de reais nas contas de 2023, o que asseguraria um superávit primário. A maior parte do montante representa reestimativa ou aumento de receitas e apenas 50 bilhões de reais em redução de despesas.

Para Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central, apesar de não ser o que o mercado gostaria de ver, com ajuste permanente pelo lado da despesa, o anúncio tem importantes consertos de percurso pelo lado da arrecadação.

"Compra tempo para (o governo) apresentar e aprovar uma nova âncora fiscal. É um início", afirmou.

Em Wall Street, o S&P 500 encerrou o pregão com acréscimo de 0,3%, após dados mostrando que o índice de preços ao consumidor caiu 0,1% no mês passado, o que avalizou apostas de altas de juros menos intensas pelo Federal Reserve.

"O número mostrou a primeira contração desde maio de 2020 e surpreendeu vindo abaixo do esperado o que nesse caso é uma boa notícia", afirmou o estrategista-chefe da Avenue Securities, William Castro Alves, afirmando, porém, que as apostas seguem sendo de aumento de 0,25 ponto percentual em fevereiro.

"O declínio foi de certa forma tímido e muito derivado da queda dos preços de gasolina", afirmou em comentário a clientes, também chamando a atenção para o núcleo da inflação crescendo em linha com o esperado, "sem maior margem para otimismo na luta com a inflação".

DESTAQUES

- AMERICANAS ON desabou 77,33%, a 2,72 reais, perdendo quase 8,4 bilhões em valor de mercado, após descoberta de cerca de 20 bilhões de reais em "inconsistências" contábeis no balanço da companhia relativas a transações com bancos e fornecedores, o que levou à renúncia do presidente-executivo, Sergio Rial, que assumiu o posto em 2 de janeiro. Vários analistas colocaram a recomendação dos papéis sob revisão. A notícia contaminou o setor no começo do pregão, com Via Varejo chegando a cair 15,8% e Magazine Luiza perdendo 11,29% no pior momento. No fechamento, porém, VIA ON marcou queda de 5,38%, enquanto MAGAZINE LUIZA ON subiu 5,28%. Em Nova York, MERCADO LIVRE saltou 9,34%.

- BTG PACTUAL UNIT recuou 3,95%, a 22,88 reais, em sessão com o setor sob pressão, com agentes financeiros também buscando entender os riscos para os bancos do escândalo contábil envolvendo a Americanas - embora os papéis tenham se afastado das mínimas do dia. O Bradesco BBI disse que o pior cenário seria os bancos credores terem que dar baixa em dívidas que somam 20 bilhões de reais. SANTANDER BRASIL UNIT caiu 3,08%, ITAÚ UNIBANCO PN perdeu 1,4%, BRADESCO PN cedeu 2,34% e BANCO DO BRASIL ON terminou com declínio de 0,64%.

- CCR ON avançou 2,55%, a 11,65 reais, no terceiro pregão seguido de valorização, com a alta em 2023 já superando 8%. No setor, ECORODOVIAS ON caiu 3,91%.

- PETROBRAS PN fechou com acréscimo de 1,44%, a 24,63 reais, em mais uma sessão de alta dos preços do petróleo no exterior, onde o Brent subiu 1,65%. Fontes da companhia afirmaram à Reuters que o departamento de governança da Petrobras já está recebendo informações para acelerar o processo que buscará checar a integridade e a elegibilidade do senador Jean Paul Prates (PT-RN) para que ele possa assumir o comando da estatal. No setor, PRIO ON valorizou-se 1,87% e 3R PETROLEUM ON ganhou 1,1%.

- SÃO MARTINHO ON recuou 3,06%, a 23,12 reais, após duas altas seguidas, período em que acumulou elevação de mais de 9%. Ao comentar o plano de ajuste fiscal, Haddad disse que uma reoneração parcial de combustíveis a partir de março está na planilha da pasta, mas a decisão final apenas será tomada em um segundo momento. Nos últimos dias, expectativas de que o ministro pudesse anunciar o fim da desoneração da gasolina forneceram uma recuperação aos papéis, após forte queda desde o começo do ano com prorrogação do subsídio por Lula.

- VALE ON fechou com variação positiva de 0,53%, a 93,74 reais. Os contratos futuros de minério de ferro subiram pela terceira sessão consecutiva nesta quinta-feira, com o índice de referência de Cingapura escalando um novo pico de seis meses, sustentado pelo otimismo contínuo quanto às perspectivas de demanda na China, maior produtora mundial de aço.