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REPORTAGEM

Pistas de aeroportos não são planas, e isso é bom para a segurança

Pistas de aeroportos não são necessariamente planas, o que pode melhorar o escoamento de água e reduz custos com obras - Divulgação/Airbus
Pistas de aeroportos não são necessariamente planas, o que pode melhorar o escoamento de água e reduz custos com obras Imagem: Divulgação/Airbus

Por Alexandre Saconi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

01/08/2021 04h00

Olhando de cima, pode não parecer, mas as pistas dos aeroportos não costumam ser totalmente planas. Seja uma leve inclinação, ondulações ou um abaulamento, isso tem um motivo, que é aumentar a segurança.

De acordo com Jorge Eduardo Leal Medeiros, professor do curso de Engenharia da USP (Universidade de São Paulo), não há uma regra que determine que as pistas sejam necessariamente planas. Pequenas diferenças podem ajudar a evitar acidentes e melhorar pousos e decolagens.

Uma pista pode ter as laterais mais baixas em relação ao centro, com um formato levemente abaulado, o que facilita o escoamento de água. Isso evita o fenômeno da aquaplanagem, que pode causar acidentes com os aviões.

No sentido do comprimento, ou seja, aquele em que o pouso deve ser realizado, pode haver uma leve inclinação entre uma ponta e outra. Essa, entretanto, não costuma ultrapassar 1%, ou seja, em uma pista com 4.000 metros ao todo, a diferença de altura entre as duas cabeceiras não é maior que 40 metros.

Em aeroportos menores e sem torre de controle, onde o piloto pode escolher de qual cabeceira irá decolar caso não haja vento significante, é importante ter visibilidade ampla do local. Isso pode evitar uma colisão com outro avião que esteja operando no mesmo lugar, diz Leal.

Risco de aquaplanagem

Pista Birmingham - Reprodução/Dafydd Phillips/YouTube - Reprodução/Dafydd Phillips/YouTube
Pista do aeroporto de Birmingham, na Inglaterra, apresenta ondulações visíveis à distância
Imagem: Reprodução/Dafydd Phillips/YouTube

Além de ser abaulada, a pista, no sentido transversal, pode ser inclinada apenas para um lado também. Como já foi dito, isso evita o risco de aquaplanagem, que consiste em uma derrapagem gerada pela falta de atrito entre o pneu do avião e a pista devido a uma lâmina de água.

Por causa dos riscos, os administradores dos aeroportos agem para evitar esse fenômeno o máximo que der. Além desse abaulamento da pista, é possível a instalação de asfalto poroso ou, até mesmo, a implantação de ranhuras, chamadas de groove, que facilitam o escoamento da água e aumentam o atrito do pneu com o solo.

Esse fenômeno gerou diversas ocorrências em aeroportos pelo Brasil, entre os mais famosos, alguns ocorridos em Congonhas, em São Paulo. Em 22 de março de 2006, um avião da extinta BRA sofreu uma aquaplanagem e, por poucos metros, não caiu na avenida Washington Luís.

Em 2003, o jato que transportava o então deputado federal Valdemar Costa Neto (PL-SP) derrapou e saiu da pista devido a uma lâmina de água. Em setembro de 2020, foi concluída a reforma da pista central de Congonhas que, entre outras melhorias, passou a contar com novos sistemas para evitar a aquaplanagem.

Custos com terraplanagem

Pista Inglaterra - Divulgação/Elliott Brown - Divulgação/Elliott Brown
Pista do aeroporto de Birmingham, na Inglaterra: ondulações ajudam a escoar água
Imagem: Divulgação/Elliott Brown

No sentido do comprimento da pista, manter a inclinação original do terreno escolhido também pode representar uma grande economia. A construção da pista deve levar em consideração todos os custos com terraplanagem e obras para adequar o solo.

Em uma pista com 45 metros de largura, por exemplo, deve existir o que é denominado faixa lateral, que são espaços extras que chegam a 150 metros para cada lado da pista em si.

Esses lugares servem como escape para os aviões em situações de emergência, e são feitos em terra batida, geralmente. Em uma pista de 4.000 metros de comprimento, corrigir uma inclinação de 1% pode aumentar os seus custos de construção em até R$ 120 milhões apenas em materiais para terraplanagem, estima Leal.