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REPORTAGEM

Que crise? Brasil tem fila para comprar avião, e rico precisa compartilhar

Jatinho Embraer Phenom é um dos favoritos para o compartilhamento de aeronaves - Divulgação/Avantto
Jatinho Embraer Phenom é um dos favoritos para o compartilhamento de aeronaves Imagem: Divulgação/Avantto

Alexandre Saconi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

22/05/2022 04h00

A alta demanda do setor da aviação executiva no Brasil tem feito ricos esperarem vários meses pela chegada de uma aeronave nova. Dependendo do modelo, essa espera pode chegar a anos. Com os preços dos usados em alta, está crescendo o mercado de compartilhamento de aeronaves. Empresários e artistas com alta renda compõem o perfil de clientes.

Nesse segmento, um avião ou helicóptero tem seu valor total fracionado entre um grupo de clientes, que passam a pagar apenas uma parcela do investimento e dos custos fixos, como manutenção, pilotos e hangar (a "garagem" dos aviões). Essa modalidade tem atraído empresários e celebridades, como os empresários Alvaro Garnero e Roberto Justus.

Como funciona?

O avião ou helicóptero é vendido em cotas ou frações. O valor delas varia entre o modelo e a empresa. Cada dono tem direito a voar uma determinada quantidade de horas por ano.

Quando o cotista quiser voar, ele deve pagar os custos referentes às horas em operação, como combustível e taxas aeroportuárias.

A empresa administradora do bem é responsável por toda burocracia e contratação, como a seleção dos pilotos, manutenção e hangar, restando ao cliente os pagamentos pelo trabalho realizado.

Quase sem fila de espera

Os aviões compartilhados costumam já estar disponíveis para os cotistas desde o momento da assinatura do contrato. Isso se deve ao fato de que as empresas do ramo compram os aviões e eles ficam em suas frotas com os clientes comprando as cotas logo em seguida.

Andrade - Divulgação/Avantto - Divulgação/Avantto
Rogério Andrade, CEO da empresa de compartilhamento Avantto
Imagem: Divulgação/Avantto

Ocasionalmente, é possível comprar a cota de um avião que ainda não foi entregue, mas essa não é a realidade de grande parte dos compradores no Brasil, que querem voar o quanto antes.

Para Rogério Andrade, CEO da empresa de compartilhamento de aeronaves Avantto, essa disponibilidade imediata tem feito os ricos optarem pela modalidade devido à rapidez com que poderão usufruir do benefício.

"A razão para isso é muito simples: Geralmente, quando alguém resolve comprar um avião ou helicóptero, é para resolver um problema de hoje, e não um problema de daqui a dois anos. Essa menor disponibilidade de aeronaves no mercado faz com que as pessoas comecem a buscar alternativas. Com a questão da disponibilidade, inclusive do momento de começar a voar [que é imediato após a assinatura do contrato], há uma vantagem competitiva enorme"
Rogério Andrade, CEO da Avantto

US$ 1,4 milhão para voar 10 horas por mês

Quem for um dos seis cotistas de um Phenom 300 (que pode levar até oito passageiros) pela Avantto terá de fazer um investimento inicial de US$ 1,4 milhão (R$ 6,8 milhões). Isso lhe dá um direito a voar até 120 horas por ano ou dez horas por mês.

A mensalidade, que envolve os custos fixos do modelo, é de R$ 50 mil para cada cotista, que ainda deverá desembolsar mais R$ 10 mil por hora voada no jato.

Se a escolha for um Cirrus SR 22 para até três passageiros (mais o piloto), na Brave Aeronaves Compartilhadas, cada um dos cinco cotistas deverá investir R$ 500 mil na aquisição da aeronave. Somam-se a isso os custos fixos mensais de R$ 5.500 e os custos variáveis de cerca de R$ 1.500 a hora de voo.

Se o escolhido for um helicóptero, como o Airbus H120 Colibri pela Avantto, cada um dos 20 cotistas da aeronave desembolsa US$ 80 mil (R$ 393 mil), com custos fixos mensais de R$ 10 mil mais R$ 3.000 a hora voada. Nesse caso, o dono parcial da aeronave pode voar até 60 horas por ano, ou, cinco horas por mês.

Clientes são artistas e empresários

O UOL consultou cinco empresas do ramo para traçar um perfil do cliente e do setor no Brasil. São elas Amaro Aviation, Avantto, Brave Aeronaves Compartilhadas, Prime You e Solojet.

Podem ser encontradas cotas a partir de R$ 500 mil até mais de R$ 11 milhões, dependendo do tipo de aeronave, modelo e horas inclusas no pacote.

O perfil do cotista é de pessoas com mais de 40 anos em média, com ativos financeiros a partir de R$ 1 milhão. São artistas, empresários, executivos de grandes empresas, profissionais liberais, pessoas ligadas ao agronegócio e empresas, que compram as cotas para o uso de seus funcionários e gestores.

Um perfil ideal para o compartilhamento é quem voa de 25 a 400 horas por ano. Menos do que isso seria mais vantajoso optar por táxi-aéreo, e mais do que isso, pode ser melhor ter uma frota própria.

Embora algumas empresas não revelem os números, estima-se que existam hoje entre 150 e 200 cotistas nessa modalidade no país, com cerca de cem aeronaves dedicadas para o serviço.

Como cada cotista pode ter mais de um usuário de sua fração, a quantidade de pessoas beneficiadas cresce, ultrapassando os 500 usuários do serviço diretamente.

Conflito no uso

Ocasionalmente, um avião pode ser requisitado por mais de um de seus donos ao mesmo tempo.

Embora as empresas consultadas digam que isso é difícil de acontecer, esse é um risco real, e cada uma tem uma maneira diferente de lidar com a situação. Em alguns casos, a preferência é de quem agendar o voo primeiro e, em outras situações, a preferência é de quem tem a maior cota da aeronave.

Uma alternativa é trocar o cotista de aeronave, permitindo que ele voe em outra do mesmo modelo ou alguma de padrão superior. Caso a empresa tenha uma quantidade maior de aeronaves na frota, essa troca fica mais fácil.

Potencial de crescimento

Para Rogério Andrade, da Avantto, a pandemia foi um dos fatores que mais favoreceram esse mercado da aviação executiva no Brasil. A busca por voos particulares aumentou em decorrência do isolamento social e da indisponibilidade de voos comerciais regulares no período.

"O mercado vem crescendo tanto que, apenas em 2021, faturamos R$ 101,7 milhões. A expectativa é que em 2022 esse valor chegue a R$ 136,1 milhões, com um lucro operacional 21% maior que no ano anterior", diz Andrade.

É necessário, também, que cada cotista analise a sua necessidade, como a capacidade de transporte da aeronave, tipo de rota, quantidade de horas que deseja voar e local onde irá pousar, por exemplo. Quem pretende decolar de locais distantes de aeroportos pode preferir um helicóptero em vez de um avião, por exemplo.