José Paulo Kupfer

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Opinião

Novidade do Copom de novembro é que não houve novidade

Apesar da guerra no Oriente Médio, que traz incertezas à economia mundial, da persistência da taxa de juros de referência na economia americana em nível recorde, e das confusões com as metas fiscais, no plano doméstico, o Copom (Comitê de Política Monetária) manteve o roteiro já anunciado e, por unanimidade, voltou a reduzir a taxa básica de juros (taxa Selic) em 0,5 ponto percentual, na reunião desta quarta-feira (1). É a terceira redução nesse mesmo ritmo desde agosto e agora a taxa básica vale 12,25% nominais ao ano.

A novidade, desta vez, é que não houve novidade na decisão. O comunicado divulgado no encerramento da reunião do Copom, e que expõe as razões da decisão, repete, quase integralmente, o emitido em setembro e, em ambos, reafirma a perspectiva de estender o ciclo de cortes da taxa básica pelo menos até fins de janeiro de 2024.

Reação antecipada

Coincidindo com o feriado nesta quinta-feira (2), com os mercados de ativos financeiros fechados, a repercussão da decisão do Copom foi quase nenhuma. Na verdade, a reação das cotações veio antecipada, ao longo da quarta-feira (1), com mais intensidade depois que o Fed (Federal Reserve, banco central americano) manteve a taxa de juros de referência americana no intervalo entre 5,25% e 5,5%.

Nos pregões do dia da reunião do Copom, a Bolsa subiu quase 2% e o dólar caiu abaixo de R$ 5. Não há indicações de reversão em curto prazo dessa tendência de ajuste das cotações, depois das altas das sessões anteriores, refletindo aumento das incertezas na área das contas públicas.

Tradutores do "coponês" — o idioma em que são elaborados os comunicados do Copom — observaram apenas que, se em setembro, o comitê "reforçou" a importância de perseguir as metas fiscais, em novembro "reafirmou" essa importância. Registraram também aumento nas preocupações com a situação da economia internacional, agora diante de "novas tensões geopolíticas", e de um "ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho".

Até onde podem ir os cortes nos juros?

Se nada de excepcional ocorrer nos próximos três meses, a indicação do Copom é de que a Selic descerá a 10,75% em fins do primeiro trimestre de 2024. Confirmado esse roteiro, o atual ciclo de cortes da Selic já teria então acumulado redução de três pontos, mas ainda expressaria forte contração da política monetária. O ponto em que a taxa básica é neutra, do ponto de vista da quantidade de moeda em circulação, é atualmente estimado em algum nível em torno de 8,5% ao ano.

Resta o debate sobre a extensão do ciclo de cortes. Há uma tendência em considerar que o movimento de redução da taxa básica possa ser encurtado, sobretudo se a solução que for encontrada para ajustar as contas públicas em 2024 gerar ruídos no mercado. Prevalecem estimativas de que os cortes no segundo semestre de 2024, se ocorrerem, serão no ritmo de 0,25 ponto a cada reunião do Copom. A taxa Selic encerraria o ano que vem entre 9,25% e 10,5% anuais, de acordo com as projeções.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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