Opinião

Bolsa está barata: é hora de investir em ações?

O período de aperto monetário pelo Banco Central brasileiro foi bastante negativo para o Ibovespa, pois tivemos a Selic passando de 2%, em março de 2021, para 13,75%, até o início de agosto deste ano. O aumento da Selic foi ruim para a Bolsa brasileira, pois os juros altos tendem a atrair os investidores para a renda fixa e afasta os mesmos da renda variável.

Com o início do ciclo de redução dos juros pelo Banco Central, iniciado no dia 2 de agosto, devemos ver o interesse dos investidores pela Bolsa de Valores aumentando ao longo do tempo. Conforme a Bolsa de Valores volta a ganhar atenção, muitos investidores vão começar a se perguntar se é um bom momento para investir em ações. Por meio de alguns gráficos, tentarei demonstrar que, em uma visão de longo prazo, investir neste momento na Bolsa de Valores brasileira pode ser uma excelente oportunidade.

Uma das formas de analisar se a Bolsa de Valores está cara ou barata, é verificar o múltiplo de preço sobre lucro (P/L) do índice Ibovespa. Essa métrica, amplamente usada no mercado financeiro, demonstra quanto os investidores estão dispostos a pagar pelas ações de uma empresa, com base nos lucros que ela gera.

Um múltiplo de P/L alto significa que os investidores estão dispostos a pagar mais pelas ações, o que pode ser um sinal de que eles acreditam que a empresa tem uma boa perspectiva de crescimento futuro. No contexto do múltiplo para um índice de Bolsa, a lógica é a mesma, dado que o múltiplo é calculado com base no preço e lucro das companhias que compõem o índice.

Conforme pode ser observado no gráfico acima, com dados de 2015 até o final de agosto 2023, a Bolsa brasileira estava negociando a um múltiplo de P/L de 7,8x, bem abaixo da sua média histórica no período de 15,1x.

Esse fato pode indicar que a Bolsa brasileira está descontada, o que possibilitaria um bom momento de entrada para os investidores. Imaginando que em algum momento o múltiplo deve voltar a convergir para a média, podemos esperar uma valorização relevante da Bolsa local quando este movimento se concretizar. Utilizando a cotação do Ibovespa no final de agosto, de 115.742 pontos, poderíamos imaginar o índice indo para 225.935 pontos, o que representaria uma valorização de 95,2%.

Outra forma de analisar o P/L do Ibovespa, é realizando a comparação do múltiplo da Bolsa brasileira com outras Bolsas de países emergentes. Para tal, realizamos a comparação entre o Ibovespa e o MSCI Emerging Markets, um índice que busca mensurar o desempenho das ações de mercados emergentes em todo o mundo. Alguns dos países incluídos no índice MSCI são China, Índia, Brasil, Rússia, Coreia do Sul, Taiwan, África do Sul, México, Indonésia, Turquia, Malásia, Tailândia, Chile, Filipinas, Egito, Peru, Polônia, Hungria, República Tcheca e Grécia.

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Assim como o P/L histórico do Ibovespa, a comparação com o MSCI demonstra que a Bolsa brasileira negocia em patamares abaixo de seus pares. Utilizando como base o múltiplo do MSCI no final de agosto, de 14,2x, poderíamos esperar um Ibovespa em torno de 211.809 pontos, uma valorização de 83,0%.

Por fim, a comparação da Bolsa brasileira com a Bolsa americana é sempre válida. Analisando a diferença (prêmio) do múltiplo de P/L do S&P 500 versus o Ibovespa, percebemos o forte descolamento entre as duas Bolsas. Com a alta do múltiplo do S&P 500 e a queda do múltiplo da Bolsa brasileira, o prêmio do mercado americano cresceu de forma exponencial.

Isso demonstra que, na ótica do investidor americano, as ações brasileiras estão mais baratas do que costumam estar, quando comparadas com as ações americanas. Para conseguirmos convergir para a mediana do prêmio histórico do S&P 500 em relação ao Ibovespa, a Bolsa local precisaria ir para um múltiplo de 17,8x, o que representaria um Ibovespa em torno de 265.513 pontos. Esse patamar de preço levaria a uma valorização de 129,4%.

Apesar de os dados mostrarem que as ações brasileiras estão descontadas, é importante contextualizar os fatores que levaram a Bolsa local a apresentar uma queda de seus múltiplos. Após o rally de valorização do Ibovespa pós-pandemia, o que levou o índice a superar os 130 mil pontos em 2021, as incertezas em relação à situação fiscal do país, o aumento da inflação global e as perspectivas políticas monetárias mais restritivas no Brasil e no mundo pesaram no Ibovespa. Essa dinâmica mais negativa se mostrou predominante para o preço da Bolsa local, que andou de lado desde o segundo semestre de 2021.

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Conforme comentamos no início do texto, atualmente o cenário local tem uma perspectiva um pouco mais benigna. Essa visão é decorrente do fato que o Banco Central do Brasil iniciou o ciclo de redução dos juros e a inflação brasileira segue o movimento de conversão para a meta de 3,25%. Se por um lado a situação dos juros é positiva para os ativos de risco, a incerteza em relação à situação fiscal do país no futuro continua.

O atual governo, com um viés de aumento dos gastos públicos, precisará buscar novas fontes de arrecadação para conter a expansão da dívida pública. Parte desse aumento da arrecadação pode vir por meio de um possível fim dos juros sobre capital próprio, tributação de dividendos e o fim de benefícios fiscais de alguns setores. Caso essas mudanças ocorram, podemos esperar um impacto negativo no lucro das empresas, o que pode elevar o múltiplo de preço sobre lucro.

Mesmo em um cenário de queda no lucro das empresas, esperamos que, pela ótica do múltiplo de preço sobre lucro, a Bolsa brasileira continue descontada na comparação histórica e com os pares globais.

Desta forma, acreditamos que a Bolsa local deve convergir para as médias no longo prazo e, com isso, entregar uma boa rentabilidade para os investidores que estiverem aproveitando esse momento para montar uma carteira de ações diversificada e com foco no longo prazo. Para aproveitar essa tendência positiva para as ações, no PagBank temos a carteira SuperPag, uma carteira com dez ações, escolhidas por meio de uma análise fundamentalista e com boas perspectivas de crescimento no longo prazo.

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