Por que o investidor estrangeiro está fugindo da Bolsa no Brasil
Agosto não tem sido um mês de sorte para a Bolsa de Valores, com uma fuga recorde para o ano de capital estrangeiro. No mês, R$ 10,51 bilhões em investimentos estrangeiros deixaram a Bolsa, em um movimento global de busca de ativos mais seguros.
No ano, porém, o saldo ainda é positivo. O resultado fica positivo em R$ 13,62 bilhões, de acordo com a Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação financeira para investidores, de Maringá (PR). Os estrangeiros respondem atualmente por 53% do volume financeiro movimentado na B3.
Patamar no ano está bem abaixo do que foi registrado no mesmo intervalo de 2022. O total foi uma entrada de R$ 70,88 bilhões na Bolsa em dinheiro vindo de fora, conforme a Quantzed.
Confira entrada e saída de investimento estrangeiro, mês a mês no ano:
- Janeiro: + R$ 12,55 bilhões
- Fevereiro: - R$ 1,68 bilhão
- Março: - R$ 360 milhões
- Abril: + R$ 3,17 bilhões
- Maio: - R$ 4,15 bilhões
- Junho: + R$ 13,54 bilhões
- Julho: + R$ 8,86 bilhões
- Agosto (até dia 21): - R$ 10,51 bilhões
Fontes: TradeMap e Quantzed, do dia 1° ao dia 21 de agosto.
Dinheiro está indo para os EUA
É um movimento mundial, que afeta outros países além do Brasil, dizem analistas. Os investidores estrangeiros são geralmente gestores de fundos, que movimentam grandes fortunas em todo o mundo. Eles sempre buscam o maior retorno com menor risco.
Atualmente, os títulos do Tesouro americano estão com um bom rendimento, com baixo risco. Na segunda semana de agosto, por exemplo, eles tiveram captação recorde de US$ 5,53 trilhões, conforme o Wall Street Journal.
Os juros americanos estão altos e devem subir mais até novembro. A taxa de juros definida pelo Federal Reserve (o banco central americano) hoje está na faixa entre 5,25% e 5,50% ao ano, o maior patamar em 22 anos.
Todas as Bolsas do mundo saem perdendo. É o que diz Rodrigo Moliterno, diretor de renda variável da Veedha Investimentos.
Notícias globais afastam investidores do mercado de ações
A economia chinesa patinando também aprofunda esse movimento. O setor imobiliário está em crise, e ele era grande consumidor de exportações brasileiras) e os chineses não estão gastando.
As notícias na America Latina também afastam os investidores do Brasil. O desempenho nas eleições argentinas do ultradireitista Javier Milei, a crise politica no Equador e o corte de juros no Chile também fazem o investidor evitar o continente como um todo, diz Beyruti.
Aqui, a taxa é maior, mas não o suficiente para atrair os investidores para a Bolsa. A Selic está em 13,25%, depois do corte feito em 2 de agosto, quando estava em 13,75%. "Ela sai perdendo para os juros americanos por conta do risco e da cotação do real. Transformando dólar em real e colocando o risco na balança, o tesouro americano sai ganhando", diz William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, em Miami. O problema é que o corte da Selic no Brasil coincidiu com um momento global ruim, explica Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos.
Mas estrangeiros tiveram lucro. "Aqui, o investidor estrangeiro entrou com a Bolsa, lá atrás, abaixo de 100 mil pontos e saiu com 115 mil pontos. Então ele teve um belo de um ganho", declara Moliterno.
Até quando essa maré baixa vai durar?
O pior já passou, acreditam Beyruti e outros analistas. Os juros altos nos EUA ainda não conseguiram fazer a inflação americana chegar perto da meta, de 2% ao ano. Em julho, o dado mais recente, a inflação anual dos Estados Unidos subiu 0,2 ponto percentual, chegando a 3,2%. Muito desse período de vacas magras vai depender dessa meta.
Corte de juros aqui vai começar a ajudar as empresas. "Com a taxa regredindo, a saúde das empresa melhora e a tendência é que o investidor volte para a Bolsa para aproveitar esse desempenho melhor das companhias", diz Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos.
A baixa de agora não tira o principal atrativo da Bolsa Brasileira, segundo Moliterno. Esse atrativo é o preço. As ações estão baratas. Então, assim que as empresas melhorem seus fundamentos, o investidor estrangeiro deve voltar. Com o juros caindo para um dígito, o que deve acontecer no começo do ano que vem, até o investidor pessoa física deve retornar para Bolsa
A aprovação do arcabouço fiscal, embora ainda provoque muitas dúvidas, pode ser um fator positivo. O mercado, entretanto, prefere esperar e entender melhor o que vai mudar.
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