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Primo Rico diz que dá para se aposentar com R$ 3,30 por dia. Dá mesmo?

Ninguém quer envelhecer sem ter um centavo no bolso, e ter uma boa aposentadoria é uma preocupação de muitos brasileiros. Em um vídeo em seu canal do YouTube, Thiago Nigro, conhecido como Primo Rico, diz que é possível se aposentar juntando R$ 3,30 por dia e ganhar mais do que o INSS.

No vídeo, ele mostrou como acumular meio milhão investindo o mesmo que é descontado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) todos os meses de um salário mínimo. O UOL ouviu especialistas para confirmar se é possível mesmo.

Qual o cálculo do Primo Rico

R$ 3,30 por dia são o valor que é descontado pelo INSS de um salário mínimo. O salário mínimo atual é de R$ 1.320, e a alíquota do INSS incidente sobre esse valor é de 7,5%, ou seja, R$ 99 por mês ou R$ 3,30 por dia. Ao se aposentar, o INSS pagaria o salário mínimo para esse trabalhador.

O cálculo do influencer de finanças sobre o valor descontado do INSS está certo. A quantia é em cima de um mês com 30 dias e um ano com 365 dias. Mas nem todos os meses e anos possuem o mesmo número de dias, e isso muda o resultado final da conta.

Thiago Nigro sugere usar o mesmo valor para investir em outros ativos. O objetivo é ter mais rentabilidade ao longo dos anos e não depender do sistema público lá na frente. Ele sugere investir em ações no Brasil e nos EUA, fundos imobiliários e no Tesouro Direto.

Hoje, o tempo de contribuição do homem é 35 anos e da mulher, 30 anos. O investidor orienta aplicar o mesmo valor do INSS durante 35 anos em Tesouro Selic, fundos imobiliários e ações no Brasil e nos EUA, em partes iguais. Ele sugere usar ETFs, que são fundos que seguem certos índices, para facilitar os investimentos.

Ele calculou qual seria o valor acumulado descontando a inflação. É importante considerar a inflação nesses cálculos, para não perder seu poder de compra no futuro. Juntando R$ 3,30 por dia em um investimento que rende 6% acima da inflação todos os anos, você terá no futuro R$ 138.603,53. Se o rendimento real, acima da inflação, for de 9%, o valor é de R$ 270.988,77. Já se o rendimento real for de 12% ao ano, o patrimônio acumulado será de R$ 552.959,46. Na verdade, o valor lá no futuro será maior do que esse, mas terá o mesmo poder de compra de R$ 552 mil hoje.

Mas dá para se aposentar?

Ele diz que é possível ter mais de R$ 5.500 de renda passiva por mês. Para saber quanto a pessoa pode resgatar do dinheiro durante a aposentadoria sem perder poder de compra, ele considerou, mais uma vez, o rendimento real, aquele que é acima da inflação. Com R$ 138 mil guardados e um rendimento real, acima da inflação, de 6%, a renda mensal possível é de R$ 693,02. Mas, com R$ 552 mil guardados e rendimento real de 12%, dá para sacar R$ 5.529,59 todos os meses do rendimento.

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A fortuna não diminui. Segundo ele, como o saque é só do que o patrimônio rendeu acima da inflação, o valor total continuará se mantendo o mesmo ao longo do tempo - e pode servir de herança, ao contrário do valor depositado no INSS.

Mas é praticamente impossível ter esse retorno. Um retorno de 12% acima da inflação por ano, só é possível para investidores experientes no mercado, e ao correr mais riscos. A educação financeira ainda não está presente na vida da grande maioria dos trabalhadores que recebem um salário mínimo, o que dificulta entender o mercado e ter um retorno anual tão alto. Por isso que a disciplina e reserva de emergência são os primeiros passos para investir com bons resultados, diz Ronaldo Pagliotto, economista e doutor na área.

A aplicação sugerida é otimista e arriscada. Para manter o pé no chão, investimentos conservadores costumam considerar uma rentabilidade real, acima da inflação, de 3,5% a 4% para projeções a longo prazo, ou um retorno nominal de 10% ao ano, diz Bruno De Conti, educador financeiro do ABC da Economia. Ou seja, bem abaixo dos números usados por Nigro.

E quanto terei se juntar R$ 3,30 por dia?

Dá para acumular mais de R$ 300 mil. Com 10% ao ano de retorno nominal, após 35 anos, o valor total investido seria de R$ 339.163,45. Mas, se descontar uma inflação média de 6%, o valor final teria o mesmo poder de compra de R$ 89.383,29 hoje. Essa é a inflação média desde 2000. A simulação foi feita pela dupla de educadores financeiros do ABC da Economia, Cássia Girotto e Bruno De Conti.

A simulação feita por eles é mais conservadora. O rendimento nominal usado pelos educadores é bem abaixo dos 6% a 12% apresentados por Nigro em seu vídeo, e mais próximo da realidade de rendimentos conservadores.

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Renda mensal seria bem abaixo do salário mínimo, e bem abaixo da indicada por Nigro. Na aposentadoria, o risco da carteira diminui, já que é preferível receber menos mas evitar perder dinheiro. Ou seja, a carteira na aposentadoria considera uma rentabilidade real de 3,5% ao ano, e não 4%.

O investidor poderá resgatar apenas R$ 256,61 todos os meses. Dessa forma, a fortuna se manterá praticamente a mesma e ainda poderá ser repassada como herança. Mas, se quiser resgatar R$ 514 todos os meses, o dinheiro só cobrirá 20 anos da aposentadoria.

O ideal é juntar renda para 20 anos. A expectativa de vida dos brasileiros é de 80 anos, então, se o indivíduo passar a investir com 25 anos e se aposentar aos 60 anos, o objetivo é que tenha pelo menos duas décadas de dinheiro guardado.

Para receber um salário mínimo lá na frente, precisará acumular R$ 254,15 todos os meses - bem mais que os R$ 99 indicados pelo Primo Rico. Esse é o valor ideal, considerando rendimento de 4% pela inflação - lá na frente, o investidor terá o equivalente a R$ 228.713,41, que permitem resgatar um salário mínimo todos os meses por 20 anos. Lembrando que esse valor, lá no futuro, será bem maior, mas terá o mesmo poder de compra que R$ 228 mil têm hoje.

Para carteiras mais arrojadas, podemos considerar uma rentabilidade projetada maior, mas ciente de que o risco também será maior, por isso a importância de um especialista ao seu lado.
Bruno De Conti, educador financeiro do ABC da Economia

Monte a sua carteira de investimentos

Diversificar nem sempre é útil. No começo, quando a quantia ainda é muito pequena, como no caso dos R$ 99 por mês, mais vale a pena aplicar em um único ativo até o montante aumentar e mais para frente, mesclar com outros investimentos, segundo Pagliotto.

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Equilibre renda fixa e renda variável ao longo dos anos. Títulos públicos e CDBs oferecem segurança, enquanto fundos imobiliários e ações costumam trazer mais rentabilidade. A escolha vai depender de fatores como tempo, valor disponível para investir e tolerância ao risco.

Não se esqueça do Imposto de Renda. O planejamento financeiro também precisa levar em consideração a incidência da tributação sobre os dividendos recebidos e as taxas cobradas pelas corretoras, como a de administração.

No caso de quem recebe um salário mínimo, contribuir com o INSS pode ser uma opção melhor, uma vez que o investimento é compulsório. E depois se organizar para começar a investir dentro da sua realidade, aprendendo sobre o mercado financeiro.
Ronaldo Pagliotto, economista

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