IPCA
0,83 Mai.2024
Topo

Volatilidade: de objeto de desejo a motivo de angústia entre operadores

Ari Altstedter

22/01/2015 13h06

(Bloomberg) - Quando o valor do dólar canadense sofreu a maior queda em mais de três anos em apenas dois minutos, Brad Schruder se lembrou de uma lição aprendida no caos da crise financeira.

"Já não se pode confiar nos preços que aparecem na tela", disse Schruder, diretor de vendas cambiais do Bank of Montreal, ontem em Toronto. "Ninguém sabe o que é um preço".

A volatilidade no mercado de moedas, de US$ 5,3 trilhões por dia, se tornou excessiva para muitos operadores, embora normalmente eles dependam das flutuações nas taxas de câmbio para gerar lucros. As oscilações dos preços aumentaram vertiginosamente e atingiram o maior patamar em um ano e meio, porque medidas surpreendentes, como a inesperada decisão do Banco do Canadá de reduzir as taxas de juros ontem, tornaram os investidores incapazes de acompanhar as mudanças, já que as cotações piscavam na tela dos computadores.

Operadores e especuladores já estavam sofrendo pela decisão-surpresa do Banco Nacional da Suíça (SNB), tomada em 15 de janeiro, de deixar de limitar o valor do franco suíço em relação ao euro. O Citigroup Inc., o Deutsche Bank AG e o Barclays Plc sofreram perdas cumulativas de cerca de US$ 400 milhões com operações, disseram fontes do setor na semana passada, e o Credit Suisse Group AG e o Saxo Bank A/S disseram que a medida poderia afetar os lucros.

Intermediários

Quatro dias depois, a Dinamarca reduziu inesperadamente as taxas de juros para defender sua ligação com a moeda comum de 19 países, no intuito de silenciar os especuladores que apostavam que o país nórdico seguiria a Suíça e cortaria seus laços com o euro.

As surpresas ajudaram a levar a volatilidade entre as moedas do G7 para o maior nível desde junho de 2013, após rondar valores mínimos recordes até meados do ano passado, mostram índices do JPMorgan Chase Co.

Os operadores ganham dinheiro como intermediários no mercado cambial. Eles passam cotações para os compradores e depois vão em busca de vendedores por conta própria. Quando os preços mudam com tanta velocidade como têm acontecido ultimamente, o tempo entre passar uma cotação a um cliente e conseguir a moeda pode expor o operador a perdas, disse Schruder, do Bank of Montreal.

A alta da volatilidade chega quando o desmoronamento dos preços do petróleo bruto, que caíram mais de 50 por cento desde junho, está gerando mais ventos contrários para a inflação no mundo inteiro. Ao mesmo tempo, bancos centrais como o do Canadá, o da Europa e o do Japão vêm trabalhando para evitar a desinflação ou a deflação direta.

O Banco Central Europeu manteve as taxas de juros inalteradas em mínimos recorde e prometeu comprar bons de governos como parte de um programa de aquisição de ativos no valor de 1,1 trilhão de euros (US$ 2,3 trilhões) a fim de estimular o crescimento e a inflação.

Dólar canadense

O "loonie", apelido dado ao dólar canadense pela imagem da ave aquática na sua moeda de um dólar, caiu até 2,3 por cento na quarta-feira, para 1,2394 por dólar americano, seu menor valor desde abril de 2009 e a maior queda em um dia desde setembro de 2011.

Na mesa de operações cambiais do Canadian Imperial Bank of Commerce (CIBC) em Toronto, a medida tomada pelo banco central recriou um cenário ocorrido apenas uma semana antes, quando o SNB tomou sua decisão.

"Imediatamente, os operadores começam a gritar", disse Darcy Browne, diretor administrativo de moedas do CIBC. "A princípio, a liquidez desaparece, então a primeira coisa que vem à mente é: 'vamos ter um dia agitado'".

Poucas horas depois, os movimentos bruscos desaceleraram. Browne disse que prefere a emoção causada pela volatilidade alta ao tédio da volatilidade baixa no último verão boreal.

"Há um velho ditado", disse ele em entrevista por telefone, na mesa de operações. "Se fosse fácil, qualquer um poderia fazê-lo, e faria por muito menos. Neste setor, você é pago quando a coisa fica difícil".

Título em inglês: 'Traders Once Starved for Volatility Now See Too Much: Currencies'

Para entrar em contato com o repórter:Ari Altstedter, em Toronto, aaltstedter@bloomberg.net