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REPORTAGEM

Empresário no Brasil dá jatinho para programadores russos fugirem da guerra

ALEXANDER ERMOCHENKO/REUTERS
Imagem: ALEXANDER ERMOCHENKO/REUTERS

Alexandre Saconi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

08/10/2022 04h00

Um empresário polonês radicado no Brasil está oferecendo uma ajuda a russos que estão querendo fugir da guerra na Ucrânia. Paul Malicki, fundador e CEO da empresa do ramo de aviação executiva Flapper, tomou a iniciativa de oferecer transporte em aviões fretados para fora da Rússia e visto de trabalho para países na Europa para programadores daquele país.

O que o empresário oferece e o que pede em troca? Em uma postagem na rede social LinkedIn, Malicki convocou os profissionais interessados em fugir da convocação de reservistas feita pelo presidente Vladimir Putin, oferecendo os benefícios em troca da doação de 10% do salário às forças armadas ucranianas.

"Se você é um programador russo (Flutter, NodeJS, React, PHP, Vue.JS) querendo fugir da mobilização pública de Putin, minha empresa vai patrocinar seu visto de trabalho e oferecer um voo em jato particular para um dos países da União Europeia (se eles permitirem entrar)", escreveu o empresário.

"Também doaremos 10% do seu salário às forças armadas ucranianas, para que continuem a se defender da invasão russa não provocada. Agora vamos ver quem está realmente comprometido em acabar com essa guerra inútil. Sem soldados = Sem guerra", afirmou Malicki na postagem.

Essa oferta coincide com o momento em que o governo russo convocou cerca de 300 mil cidadãos reservistas para lutar no conflito.

Qual é a motivação? Em conversa com o UOL, Malicki, que nasceu na Polônia e tem passagens por empresas como Easy Taxi e Nubank, afirmou que a proposta surgiu a partir da repulsa ao conflito. "Nós nos identificamos com um povo que não quer essa guerra. A gente quer trazer para outros países quem não pretende participar dessa que, provavelmente, é a primeira guerra sem absolutamente nenhum objetivo na história moderna da humanidade", afirma o executivo.

Quanto mais cedo a ajuda chegar, diz Malicki, mais rápido é possível acabar com o conflito. "Como tenho origem eslava, entendo bem as tensões do continente e a geopolítica da região, e sei que isso pode ajudar", diz o CEO.

A proposta não foi feita com os ucranianos, continua o executivo, pois eles estão defendendo o seu país, "e não seria o caso de tirar um soldado da defesa de sua nação".

Qual é a proposta? Malicki explica que pretende terminar em breve as entrevistas, e que já recebeu mais de 50 currículos. O objetivo é que os contratados sejam transferidos para países que aceitam vistos de trabalho russos.

"Vale a pena destacar que os candidatos são muito bem qualificados. A Rússia é tradicionalmente um país forte em matemática e programação. O atual êxodo dos programadores vai certamente afetar o futuro desenvolvimento das tecnologias russas. Faltam desenvolvedores no mundo todo, e várias empresas europeias e do Oriente Médio já estão se aproveitando da situação", diz o executivo.

Por enquanto, a proposta se restringe a programadores, e a primeira pessoa oriunda da Rússia já está em fase final de contratação para trabalhar a partir de Dubai: "Um dos principais motivos é o forte nível de escolaridade desses profissionais e a facilidade de comunicação entre si", afirma o CEO.

Repercussão: Diversos programadores russos aceitaram a proposta e entraram em contato com a Flapper e o executivo para terem uma chance.

Entre os depoimentos, o mesmo sentimento prevalece, de aversão à guerra e a Putin. "Olá, Paul! Eu sou um desenvolvedor PHP da Rússia que odeia o Putin e quer ser realocado para a União Europeia. Espero que você possa ajudar", diz um deles.

"Estou em busca de um emprego como cientista de dados e estou pronto para ser realocado agora para qualquer lugar fora da Rússia. Você pode doar qualquer fatia do meu salário para as forças armadas da Ucrânia, apenas deixe dinheiro suficiente para as minhas necessidades de aluguel e alimentação", escreve outro.

"Como um desenvolvedor front-end russo e dissidente, eu estou muito interessado [na proposta]; Eu ficaria feliz em doar para a Ucrânia podendo ficar seguro e pagar meus impostos a uma nação civilizada. E eu estou, definitivamente, comprometido em acabar com esta guerra inútil", afirma outra pessoa que se candidatou.

As identidades dos candidatos não foram reveladas por questão de sigilo e segurança.

Precedentes: O executivo também já capitaneou outras duas iniciativas em prol da Ucrânia e dos ucranianos após a eclosão da guerra em fevereiro. Uma delas foi uma mentoria a um grupo de empreendedores, que arrecadou verbas para serem enviadas ao país europeu.

Outra iniciativa foi a criação de um voo virtual na plataforma da Flapper com o Antonov An-225, o ex-maior avião do mundo, que foi destruído na guerra. Ao agendar um voo no avião, o valor arrecadado era destinado à Ucrânia.