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Acredite: há quem fique infeliz quando ganha mais

José Dornelas

Colunista do UOL

27/07/2015 06h00

Em tempos de crise, praticamente todo mundo fica preocupado com a diminuição dos ganhos reais, sejam salário, pró-labore, renda etc. Isso ocorre com assalariados e patrões, inclusive os empreendedores apaixonados por inovar e sempre aptos a assumir riscos.

A queda da renda afeta diretamente o ânimo dos mercados e das pessoas, pois o horizonte geralmente nebuloso acaba por mostrar um túnel quase sem luz na saída.

Porém, quando o cenário muda, a maioria das pessoas passa a enxergar a vida de maneira diferente, com muito mais entusiasmo. Mas há exceções inclusive nesses casos, ou seja, pessoas que ficam infelizes quando ganham mais.

Isso ocorre com aqueles que são altamente sensíveis às perdas, ameaças e expectativas não atendidas. Com isso, as emoções negativas tendem a estar muito presentes quando essas pessoas são pobres ou com renda muito abaixo do que gostariam.

Mas, de maneira intrigante, quando essas mesmas pessoas enriquecem ou ganham mais, elas tendem a ficar mais insatisfeitas com suas vidas ao se comparar com a média.

Este achado foi obtido em um estudo realizado com dados britânicos e alemães pelo pesquisador Eugenio Proto, da Universidade de Warwick, no Reino Unido, e Aldo Rustichini da Universidade de Minnesota.

O estudo mostrou ainda que estes indivíduos são muito sensíveis a quaisquer diferenças encontradas entre as suas aspirações (o que gostariam de ter ou conquistar) e suas reais situações financeiras reais, concluindo que o resultado é sempre negativo.

Estes traços de personalidade são definidos coletivamente como neuroticismo pelos psicólogos e podem não ser tão raros assim.

O fato é que aqueles que empreendem, na maioria das vezes, buscam, entre outros objetivos, o sucesso financeiro. E muitos dos que conquistam este sucesso financeiro nem sempre estão felizes com o que conquistaram, ou melhor, com a vida que levam.

Por isso, cabe ressaltar que a busca do equilíbrio deve ser o mote dos empreendedores contemporâneos, já que o ganho pelo ganho não necessariamente traz felicidade.

E a definição de equilíbrio ou a dosagem deste equilíbrio é particular para cada um de nós. Não deve faltar tempo para a família, lazer, atividade física, hobby, socialização com amigos e pessoas próximas etc. Enfim, viver a vida de maneira plena. Como fazer isso?

Talvez a resposta esteja na simplicidade, busca do que realmente lhe traz tranquilidade e satisfação e, aos poucos, distanciar-se que não lhe traz algo de positivo ou drene sua energia.

Não é fácil descobrir a solução exata para essa equação, mas o simples de fato de buscá-la pode lhe distanciar do eventual grupo de pessoas que se sentem tristes ao enriquecerem.