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Equilibrar oportunidade com necessidade para manter as portas abertas

Marco Roza

Colunista do UOL, em São Paulo

26/06/2013 06h00

Dificilmente a gente confessa que se decidiu a abrir uma nova empresa, consumindo economias, amizades e convivência familiar por termos sido estimulados apenas pela necessidade. Que emerge de uma demissão inesperada, da adaptação a uma nova cidade, da exaustão de um período de nossas vidas.

Muitos de nós justificam o viés empreendedor e seus riscos em função de termos percebido uma oportunidade inadiável, ainda não percebida pelo mercado.

Mas também todos nós reconhecemos que se chegar ao fim do mês e não conseguir fechar as contas, que as oportunidades que nos motivam vão se evaporar e nos obrigar a fechar para balanço ou desistir do empreendimento.

Ou seja, ao não atendermos as realidades cruas e nuas que nos são impostas pelas necessidades transformamos oportunidades em pesadelos e viramos estatísticas de morte empresarial prematura.

Porque o que faz uma organização ampliar seu ciclo vital é harmonizar suas próprias necessidades (aí incluídas as de seus gestores) com as oportunidades que só são percebidas por seus gerentes atentos, tensionados e criativos.

O que nos obriga a uma dedicação permanente a ponto de nos ajudar a transformar desafios que a necessidade nos impõe em oportunidades ainda nem sempre identificadas por nossos concorrentes.

Mas é sempre bom lembrar que necessidades permanentemente satisfeitas, mesmo que o sejam no limite, podem nos transformar em sapos calmos, que se acomodam na água morna até a fervura eliminar toda capacidade de sobrevivência. Transcrevo, mais uma vez, a lenda do sapo em água morna para ajustar nossa sintonia:

“Um sapo colocado num recipiente com a mesma água da sua lagoa fica estático durante todo o tempo em que aquecemos a água, mesmo que ela ferva. O sapo não reage ao gradual aumento de temperatura (mudanças de ambiente) e morre quando a água ferve. Inchado e feliz.

Por outro lado, outro sapo que seja colocado nesse recipiente com a água a ferver, salta imediatamente para fora. Meio chamuscado, porém vivo.”

Inspirados nos experimentos reais realizados com sapos que terminam fervidos ou chamuscados podemos avançar e refletir em como harmonizar a necessidade e oportunidade, para ampliar nossas chances de sustentar por prazos mais longos nossos empreendimentos.

Se acordarmos falidos todos os dias, veremos oportunidades na indiferença com que nossos concorrentes tratam seus ainda fiéis clientes. Perceberemos o momento exato no qual a clientela precisa comprar mercadorias embaladas em serviços.

E transformaremos cada venda em compra, pois estaremos ansiosamente presos às emoções e pulsações dos nossos consumidores.

Mas se formos bem sucedidos em transformar em resultados as oportunidades que apreendemos antes da concorrência, corremos o risco de nos acomodar nos louros de nossa eficiência o que só pioraria nossa situação se passarmos a acreditar piamente que somos mesmo mais inteligentes e espertos que nossos concorrentes.

Estaria, nesse caso, pronto o cenário para que a temperatura da água começasse a se elevar, gradativamente, temperada por belas roupas de marca, carrões do ano, restaurantes sofisticados. Tudo de bom que merecemos, claro.

Mas que pode se acumular a ponto de ferver nossa organização, cozinhar além do ponto nosso estilo gerencial e bau-bau”, lá vamos nós para as estatísticas sombrias.

O sucesso está no equilíbrio

Meu amigo e guru Robert Wong autor do livro “O Sucesso está no equilíbrio” (Editora Elsevier) nos estimula a buscar o equilíbrio entre a necessidade, imperiosa e implacável e a oportunidade, criativa, assertiva e surpreendente.

Na apresentação do livro Robert Wong escreve: “O equilíbrio é a grande chave do sucesso pessoal e profissional e pode ser conseguido por meio de uma viagem interior, de autoconhecimento.”

O autor nos chama a atenção em como equilibrar a vida profissional (o trabalho), a vida pessoal (social e amorosa) e a vida espiritual (valores e religião), para atingir um estado de equilíbrio, sabedoria e iluminação.”

Gerenciar um empreendimento é, portanto, olhar para fora, para a cadeia produtiva, os fornecedores, colaboradores e clientes finais.

Mas sem esquecer, jamais, de ajustar nossa visão com nossa “viagem interior” e realizarmos ajustes finos permanentes (que são emocionais, espirituais e intangíveis) que nos ajudam a superar as necessidades sem nos impressionarmos, exageradamente, com as eventuais sobras.

Que devem ser utilizadas para ampliar nossas chances de acertos e realizar, permanentemente, os ajustes finos de empreendedores que se recusam a viver o destino do sapo em água fervente, que começa morna, “caliente”, relaxante e que tem o estranho hábito de nos acomodar em armadilhas mortais.