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Casos de empreendedores com negócios dedicados à reutilização de recursos

Rose Mary Lopes

Colunista do UOL

14/11/2014 06h00

Em artigo recente enfoquei as oportunidades e necessidade de termos mais empreendedores que conjugam verbos iniciados com "r": reciclar, reusar, restaurar, recuperar, reformar, regenerar, reaproveitar. Esses empreendedores propõem negócios ou se envolvem com empresas que se alinham totalmente com a tendência da sustentabilidade.

Precisamos de muito mais exemplos de empreendedores dedicados à causa do reúso e reaproveitamento de recursos. Vamos enfocar dois exemplos.

Começando com o problema de resíduos sólidos: uma diversidade deles é descarte de vários tipos de indústria ou comércio. Assim, tem-se desde borrachas, vidros, metais ferrosos e não ferrosos, papel e papelão, plástico, orgânico, tecido, madeira, resíduos de construção civil, eletrônicos e perigosos.

Deste modo, os materiais que sobram do processo de produção de uns podem ser aproveitados no processo de outros, num ciclo de reaproveitamento de recursos que seriam somente perdas para todos os envolvidos, incluindo-se aí o ecossistema.

Pois bem, já houve quem tenha percebido a oportunidade de intermediar empresas que geram resíduos e outras que podem utilizá-los. De fato há várias dificuldades a contornar para que os interessados possam de fato fechar um negócio trocando entre si os seus resíduos.

Por exemplo, há exigências legais, ambientais ou a classificação e separação do resíduo para se ajustar ao processo de produção do comprador. Isso ainda exige soluções de logística e de pagamento. Os empreendedores da B2Blue perceberam esta enorme e desafiadora oportunidade de gerar uma simbiose entre estas pontas: quem tem com quem pode utilizar o resíduo.

O time da B2Blue saiu a campo e criou uma plataforma online para fazer a ponte entre os interessados em descartar resíduos e os que dele necessitam, mas que desejam se assegurar de suas propriedades e estar dentro dos parâmetros exigidos. Criaram um negócio B2B (voltado para empresas) e que valoriza ou resíduos sólidos.

Já em 2012 aproveitaram a oportunidade de participar de um fim de semana voltado para start-ups. E foi assim que sua representante Mayura venceu o ESPM Startup Challenge em 2012, prêmio que foi sucedido por outros. Afinal, nestes desafios de start-ups não só se conhecem ideias de outros, como se recebe mentoria de pessoas com diversas especializações, além de gerar visibilidade para o negócio.

Um negócio destes, pioneiro, teve que agregar não só as diferentes formações do time fundador – Mayura Okura, Mariane Marcheti e Pedro Maschio – bem como definir e dividir as funções de cada um deles: parte estratégica, aspectos legais e solução de impasses, aconselhamento sobre gestão dos resíduos sólidos dos parceiros, gestão interna, etc.

Entretanto, precisaram também atrair capital financeiro e intelectual de investidores conselheiros que aportam conhecimento técnico sobre meio ambiente, meios de pagamento online, conhecimento jurídico sobre resíduos sólidos, estratégia e outros.

Outro exemplo interessante, de natureza bem distinta, é o da Coopermiti --Cooperativa de Produção, Recuperação, Reutilização, Reciclagem e Comercialização de Resíduos Sólidos Eletro-Eletrônicos-- que já existe desde 2010. A empresa tem uma parceria com a prefeitura do município de São Paulo e atua na logística e manufatura reversa do chamado e-lixo.

Tratam-se  de celulares, televisores, computadores, teclados, CPUs, micro-ondas, rádios, eletrodomésticos. Há um trabalho de inclusão social ao capacitar a mão de obra na desmontagem dos equipamentos, triagem, classificação das partes e tipos de resíduos gerados, destinando-os adequadamente, ou para reciclagem ou reutilização, gerando renda para seus associados.

Assim, também faz parte da missão da Coopermiti a educação das novas gerações acerca dos nossos hábitos de consumo, a geração do lixo e todo o ciclo de desfazimento e reaproveitamento gerado se ele for recebido e tratado de forma adequada e ambientalmente correta. Foi criado um Portal Educativo focado em escolas e professores no qual oferecem materiais, sugerem projetos e planos de aula.

O e-lixo é captado por parceiros da Coopermiti em pontos de coleta próprios, via agendamento no site, ou pode ser entregue pessoalmente. Deste modo, a proposta de seus fundadores, incluindo-se aí Alex Luiz Pereira, diretor Presidente, contribui de forma efetiva para a preservação do meio ambiente e o reuso dos recursos.

Empreendimentos e empreendedores como os da Coopermiti e B2Blue demonstram que há diversos caminhos possíveis para inovar e atacar este gravíssimo problema da sociedade moderna que é o da geração de resíduos e de lixo. Outras soluções e modelos de negócios são possíveis desde que os empreendedores tenham paixão pela causa e percebam as oportunidades e as necessidades.