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OPINIÃO

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Guerra da Ucrânia amplia inflação no Brasil e no mundo

A inflação alta inaugura uma nova era de preços mais persistentemente altos daqui para frente - Getty Images
A inflação alta inaugura uma nova era de preços mais persistentemente altos daqui para frente Imagem: Getty Images
Nilson Brandão

13/04/2022 04h00

Longe de ser privilégio brasileiro, a inflação alta inaugura uma nova era de preços mais persistentemente altos daqui para frente, doméstica e internacionalmente.

Em mais da metade (55%) dos países emergentes, a inflação supera os 7% ao ano, segundo o Bank for International Settlements. As previsões de inflação para 2022 estão sendo jogadas pela janela e revisadas 2 e 3 pontos porcentuais para cima.

No Brasil, a inflação da cadeia de derivados do trigo, combustíveis e petróleo praticamente triplicou no atacado brasileiro com a guerra da Ucrânia.

Uma abertura de dados solicitada pela coluna à Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que a variação destes itens em março (8,2%) foi 2,7 vezes maior que a coletada em fevereiro, antes da invasão russa.

Na próxima segunda-feira (18), o IGP-10 da FGV ainda vai captar um terço do impacto do último reajuste dos combustíveis. Nos Estados Unidos, os preços ao consumidor serão divulgados nesta quinta-feira (14), com tendência de alta.

A invasão da Ucrânia pela Rússia agravou a quebra nas cadeias de suprimento e a alta da inflação que já vinha desde o ano passado. Adicionalmente, elevou a cotação de commodities agrícolas e minerais.

Trata-se de um choque sobre outro, o que já leva autoridades monetárias, executivos e especialistas a concluir que o mundo ingressa em nova era inflacionária, que, a rigor, já vinha desde meados de 2021.

"A inflação global está de volta com força após ausência de duas décadas. Isso está começando a parecer momento de mudança de regime de inflação", diz o economista-chefe da Fitch Ratings, Brian Coulton.

Maior resultado em 30 anos, a inflação anualizada nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE) cravou 7,7% em fevereiro, medida anterior ao início da guerra.

Preços altos geram impactos políticos. A Petrobras foi submetida a uma crise pela insatisfação do governo brasileiro, a respeito da política pública de formação de preços da companhia.

Nos Estados Unidos, petroleiras foram cobradas. Executivos do petróleo passaram seis horas na Câmara se defendendo sobre se estariam se aproveitando para repassar preços aos consumidores.

Inflação alta também é combustível para reação popular.

No Peru, houve toque de recolher para conter atos contra a inflação semana passada. No Sri Lanka, forte movimento contra alta de preços, escassez de itens e cortes de energia.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta que a inflação alta pode gerar tensões sociais em países com fraca proteção social, pouco emprego, espaço fiscal curto e governos impopulares.

"O aumento dos preços dos alimentos tem sido um catalisador para convulsões sociais e políticas nas economias emergentes", indica, na mesma direção, relatório da S&P Global.

Como exemplo, a África Subsaariana importa 85% do trigo que consome. Um terço vem da Rússia ou Ucrânia. Os dois países são os principais exportadores também para a África Oriental.

O choque inflacionário com o avanço das commodities a partir da guerra na Ucrânia representa uma espécie de tempestade perfeita com efeitos potencialmente prejudiciais.

Trabalhadores e fornecedores experimentam aperto no orçamento. Empresas sofrem pressão de custos e buscam alternativas para recompor rentabilidade.

Algumas recorrem a alternativas pouco imaginativas, mas economicamente interessantes para elas, como reduzir o tamanho e conteúdo das embalagens, mantendo preços iguais.

É a chamada "shrinkflation" ou reduflação. Um caso típico circulou a cobertura econômica internacional: a redução da quantidade de chips dentro da embalagem de Doritos.

No ano passado, empresas recorreram no Brasil à modalidade de ajuste, que não chega a ser proibida, desde que claramente informada na embalagem.

"Novo peso, de 100 gramas para 90 gramas. Redução de 10%", foi a mensagem que encontrei semana passada, em uma barra de chocolates. Vale a pena ficar de olhos abertos.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL