Amanda Klein

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Opinião

'Estão nos empurrando para a China'

Entre os muitos efeitos do tarifaço de Donald Trump está a reorganização geopolítica. "Estão nos empurrando para a China", resume um assessor brasileiro envolvido nas negociações comerciais com os Estados Unidos. Na visão dele, o país asiático fará o papel que os Estados Unidos deveriam fazer, intensificando o diálogo com o governo brasileiro e tornando a relação mais próxima e amistosa. O presidente Lula tem viagem marcada para a China em maio e Xi Jinping pode vir à Cúpula do Brics, em julho.

O Itamaraty tem visão mais cautelosa. "Não existe tanto automatismo. Pode ser uma tática negociadora ousada para um acordão com a China. Tem muita coisa em jogo. Trump joga no caos para conseguir algo em troca. Está todo mundo em casa com a calculadora na mão. A poeira não baixou. É hora de avaliar o movimento dos outros", explica um diplomata graduado.

Embora a escalada tarifária possa representar ganho pontual para algum setor, não compensará as perdas, a destruição de riqueza e o deslocamento de produção de um mercado para o outro. Todos perdem na guerra comercial. Outra constatação importante no Itamaraty é que o aumento do protecionismo é resultado de uma "obra dos americanos", com contribuição de democratas e republicanos. Desde Obama, governo após governo atuou para enfraquecer a Organização Mundial do Comércio. "Tiraram os dentes da OMC", resumiu o diplomata. E o mais irônico, segundo essa fonte, é que o tarifaço de Trump "é a receita Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) de industrialização latino-americana dos anos 1960, que os americanos tanto condenaram, e agora é empregada pelos arautos do liberalismo do Partido Republicano.

No Itamaraty, o nome do jogo é pragmatismo. Os canais com o departamento responsável pelo comércio americano, o USTR, estão abertos. Uma reunião virtual com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, está marcada para esta semana. Os negociadores brasileiros vão insistir em retomar as cotas para o aço e alumínio que vigoraram desde 2017. A produção americana atual, segundo esses diplomatas, atende a 25% da demanda do país. Os outros 75% estão em disputa. É possível distribuir entre os diferentes interessados, inclusive o Brasil.

Já a tarifa linear de 10% é novidade. Há muitas dúvidas sobre a aplicação e eventuais isenções. É claro que há planos de retaliação em estudo, que podem atingir bens e serviços americanos. Nessa segunda categoria, incluem-se os serviços tecnológicos. A possibilidade de taxas as big techs - um golpe duro nos americanos - também é aventada na Europa. A maior preocupação no governo é "não trazer inflação para dentro e analisar o impacto sistêmico". No final das contas, quem decide é Lula.

Se há um alento nisso tudo, é que a aprovação do acordo de livre comércio Mercosul-União Europeia pode ganhar tração. Para isso, é necessário ter maioria no Parlamento e Conselho Europeus. "As vozes divergentes estão repensando. Mudou muita coisa", resume o diplomata. É uma referência à França.

Na época da assinatura do acordo, no final do ano passado, o presidente Emmanuel Macron chegou a dizer que o projeto era "inaceitável em seu estado atual". Mas há indicações de que possa ter mudado de ideia. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, esteve na França na semana passada. Segundo confidenciou a interlocutores, teve uma recepção calorosa e saiu confiante. Na sexta, um porta-voz da União Europeia reforçou que o bloco vai "investir muito tempo e energia com os Estados-membros para finalizar o acordo". A única certeza é que nada será como antes. Salve-se quem puder!

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

42 comentários

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Fernando Augusto da Fonseca Alecrim

Depois de Trump destruir a aliança ocidental e fazer dos EUA uma republiqueta de bananas que não respeita contratos nem proporciona qualquer segurança aos europeus, só continua sendo de direita quem realmente não tiver miolos nem alma. É como estar aliado a  hhttler.

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Rafael Oliveira

Não aceitaremos a China, entenderam??? Não aceitaremos a China!!! Vivemos num país maravilhoso, maravilhoso!!! O Brasil é um país maravilhoso e patriótico, entenderam??? Somos amigos dos Estados Unidos da América, de Israel, Rússia, Hungria, Polônia, Argentina e Bielorrússia. Nossa bandeira é a mais linda do mundo e nosso hino nacional o mais emocionante do planeta. Sem mais, os patriotas. 

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Luis Flávio de Lima Coelho

É a nova guerra fria! Só que dessa vez quem está se isolando comercialmente são os EUA ,e tal como a URSS vão perder a guerra. 

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