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Bolsonaro vem forte em outubro: onde estão as propostas para derrotá-lo?
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Jair Bolsonaro vem forte demais para as eleições de outubro.
A dança das cadeiras na janela partidária encerrada na sexta-feira passada, e que transformou o PL - a atual legenda do presidente - na maior bancada da Câmara com 73 deputados federais, é um ótimo termômetro da popularidade do governo.
Há muita gente se iludindo com a promessa de que na solidão da urna eletrônica os eleitores vão, finalmente, punir Bolsonaro por toda sua incompetência.
Motivos não faltam: milhares de mortes evitáveis na pandemia, inflação desembestada, desemprego de 12 milhões de pessoas, índices recordes de desmatamento, sequestro do Ministério da Educação por pastores picaretas.
Mas a cada nova pesquisa divulgada fica evidente que Bolsonaro vem crescendo nas intenções de voto. Sinal de que o presidente conta com uma base popular muito superior à imaginada por uma banda negacionista da realidade política.
Há muitas chaves para entender essa conexão tão visceral do presidente com quase um terço do eleitorado. A mais imediata e sedutora delas é a estética.
O bolsonarismo construiu uma aura de rebeldia contra o politicamente correto e os valores progressistas, calcados no respeito às minorias e na defesa dos direitos humanos.
Além disso, o enredo religioso do político que carrega "messias" no nome - e que se vende como alguém que escapou por milagre da morte para salvar o país - é outra frente dessa dimensão estética capaz de cativar multidões.
Mas é no diálogo com os brasileiros da base da pirâmide social que a eficácia do discurso bolsonarista se mostra mais intrigante. Como pode um governo que defende abertamente a supressão de direitos sociais e trabalhistas ter tanta legitimidade entre os que dependem justamente do trabalho para pagar as contas?
Em países como a França, onde a extremista de direita Marine Le Pen tem sua melhor chance de chegar ao poder nas eleições que começam no próximo domingo, os candidatos "populistas" se conectam com a classe trabalhadora insuflando a xenofobia.
Em outras palavras, o culpado de todos os males é o imigrante que rouba empregos e perverte a cultura nacional. Por essa visão de mundo, o atalho para recolocar o país nos trilhos é simples: fechar as fronteiras.
Por aqui, o extremismo de direita sofreu adaptações à realidade local. A receita bolsonarista é apostar na acumulação primitiva e jogar a culpa em quem supostamente atrapalha aqueles que só querem produzir, sem encheção de saco.
Assim, a solução mágica do bolsonarismo é esvaziar o Estado e estimular o cada um por si. Para caminhoneiros e motoboys com medo de ladrões, a recomendação é simples: compre uma arma. Para o dono de empresa disposto a precarizar seu funcionário, o recado é claro: não se preocupe com a fiscalização do governo.
Na prática, isso soa como um salvo conduto para todo tipo de ilegalidade: do garimpeiro que retira ouro de terra indígena à dona de casa que não registra a empregada doméstica.
Em um país em que os serviços públicos não gozam da melhor reputação e o Estado é visto como negligente, não é mesmo de se estranhar que esse discurso do vale-tudo tenha tanta ressonância: "só depende de mim, com ajuda de Deus".
O que chama atenção, a esta altura do campeonato, é a falta de imaginação dos opositores do bolsonarismo para propor uma alternativa ao verdadeiro faroeste caboclo em que o Brasil foi transformado - em apenas três anos e meio.
Se existem boas propostas para recuperar a economia e gerar empregos decentes, elas não foram colocadas na mesa ainda. E estamos a apenas seis meses das eleições mais importantes desde a redemocratização do país. Até porque Bolsonaro não parece disposto a aceitar uma derrota - se perder.
Sim, também é preciso que setores que chocaram o ovo do bolsonarismo, como a nata do mercado financeiro e os grupos da direita democrática, façam um mea culpa e condenem, de uma vez por todas, a ameaça que o atual governo representa.
Mas, acima de tudo, é necessário construir um projeto de país que faça brilhar os olhos dos eleitores. Foi exatamente o que Bolsonaro fez em 2018, ao canalizar a raiva de uma grande parcela da população brasileira e implementar um programa de governo baseado na pura e simples destruição. Não nos enganemos: há um risco cada vez maior de ele ser bem-sucedido, novamente.
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