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Combinação de desemprego em baixa e inflação em alta pressiona governo

Enquanto não anuncia o aguardado pacote de corte de gastos para equilibrar as contas públicas, o governo se vê às voltas com uma perigosa combinação de desemprego em baixa e inflação em alta.

O copo meio cheio mostra um mercado de trabalho bastante aquecido, com 103 milhões de brasileiros em atividade e uma taxa de desocupação total de apenas 6,4% no terceiro trimestre — o nível mais baixo na série histórica da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), inaugurada em 2012.

Já o copo meio vazio revela como a disparada dos preços dos alimentos e da energia elétrica vêm impactando principalmente a base da pirâmide social. Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a inflação para o grupo de famílias mais pobres, com renda de até R$ 2.105,99 por mês, bateu 4,99% no acumulado até outubro, a mais alta dentre as seis faixas monitoradas pelo levantamento.

Agora, a discussão é como conter o déficit público para frear a inflação, num contexto em que o bom momento do mercado de trabalho torna a tarefa ainda mais complexa.

Sob Dilma, desemprego baixo também pressionou inflação

Em economia, a relação entre desemprego e inflação é uma das mais delicadas. Com mais gente ocupada, a demanda por produtos e serviços aumenta. Quando a capacidade de produção das empresas não dá conta de atender ao crescimento do consumo, o resultado é o aumento dos preços.

A recente corrida presidencial nos Estados Unidos prova como essa equação pode custar caro em termos eleitorais. Ainda que Joe Biden tivesse números inegavelmente positivos para ostentar sobre o mercado de trabalho, o mesmo não podia ser dito sobre a inflação.

Ou seja, os americanos não tiveram grandes dificuldades para achar um emprego ao longo do mandato de Biden, mas viram seu poder de compra minguar. E essa é uma das principais explicações aventadas por analistas para a derrota do Partido Democrata.

O próprio PT já enfrentou esse dilema, dez anos atrás. Ao fim de 2014, último ano do primeiro mandato de Dilma Rousseff, o desemprego fechou em 4,8% nas seis maiores regiões metropolitanas do país, um recorde.

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A inflação, por sua vez, bateu 6,41%, no limite do teto estipulado pelo Banco Central. Foi a faísca da explosão registrada nos dois anos seguintes, que culminaram em recessão.

É bem verdade que a tolerância de Dilma 1 com a alta dos preços era consideravelmente maior que a de Lula 3. Basta comparar os tais "centros das metas" de inflação — 4,5% no caso da ex-presidente e 3% no atual governo. Feitas as devidas ressalvas, o fato é que o sinal de alerta está ligado no Planalto.

Corte de custos sobre os mais pobres vai agravar desigualdade, diz pesquisador da USP

O debate sobre como equilibrar as contas públicas e frear a inflação tem se intensificado nas últimas semanas.

De um lado, o mercado questiona a política de aumento de arrecadação e pressiona por medidas de corte de custos. Algumas delas, inclusive, são de doloroso impacto sobre os mais pobres, como a desvinculação do salário mínimo do piso da Previdência. Algo que não deve acontecer, pelo menos no curto prazo.

De outro, há quem defenda que o andar de cima ainda não contribui da forma como poderia. Rever desonerações, retomar a tributação de lucros e dividendos e aumentar as alíquotas do Imposto de Renda são algumas das ideias para tornar o sistema brasileiro mais justo e progressivo, cobrando mais dos mais ricos.

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O ministro Fernando Haddad não nega a necessidade de "cortar na carne" e, em breve, deve anunciar medidas nesse sentido. Ao mesmo tempo, vem tentando emplacar uma agenda de progressividade tributária, para que os mais ricos deem sua contribuição.

Como bem apontou em entrevista à Folha de S. Paulo o economista Guilherme Klein Martins, membro do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da USP (Universidade de São Paulo), é possível que se chegue a um ponto em que o governo seja mesmo obrigado a rebaixar aposentadorias e diminuir o valor de benefícios sociais para os mais pobres.

Entretanto, ressalva Klein, antes de tomar medidas drásticas que tendem a agravar a já gritante desigualdade de renda no país, é preciso esgotar todas as formas de cobrar mais dos mais ricos e consolidar um sistema mais progressivo — o que nem de longe foi feito.

Equilibrar as contas públicas e reduzir a inflação em um contexto de desemprego baixo é ainda mais desafiador. Mas a conta, diz o pesquisador da USP, não pode estourar apenas no colo dos 28 milhões de aposentados ou das quase 6 milhões de pessoas pobres com direito ao BPC (Benefício de Prestação Continuada) que sobrevivem com um salário mínimo por mês.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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