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Lula 'perde tempo' ao não apoiar fim da escala 6x1, diz líder da causa

Vereador eleito no Rio de Janeiro pelo PSOL e fundador do movimento VAT (Vida Além do Trabalho), Rick Azevedo afirma que o governo Lula "perde tempo" e "já deveria ter se posicionado de forma incisiva" sobre o fim da escala 6x1 — de seis dias de expediente para um de descanso.

Depois de viralizar no ano passado nas redes sociais, a proposta do VAT de acabar com esse regime foi oficialmente encaminhada ao Congresso Nacional no final de fevereiro, por meio de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) protocolada pela deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP).

Em entrevista exclusiva à coluna, o líder do VAT classifica de "malabarismo escravocrata" os argumentos de economistas e entidades empresariais que questionam o fim da escala 6x1, e afirma que vem conversando com centrais sindicais para que a pauta seja o mote do 1º de maio, dia do trabalhador. "Em breve, a gente vai atualizar as redes sociais e soltar uns cards com local e horário dos atos", diz.

Azevedo também reflete sobre a conexão da esquerda com os desejos da classe trabalhadora. "Eu vejo que muitos políticos, de vários vieses, pararam no tempo, não souberam acompanhar as formas de reivindicações", avalia o fundador do VAT. "Então, é acordar e ver que as coisas vão mudando, as ideias são outras, as necessidades são outras", complementa.

Leia abaixo a íntegra da entrevista.

No ano passado, o movimento pelo fim da escala 6x1 teve amplo destaque na imprensa e nas redes sociais, depois que a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) protocolou uma PEC sobre o tema. Você ficou surpreso com a repercussão?

Não deixa de ser uma surpresa, mas eu já esperava, porque a gente estava fazendo um trabalho de base há alguns meses. A gente já estava causando essa revolta para que a classe trabalhadora despertasse. Então, não deixa de ser uma surpresa, mas a gente já confiava nesse poder de revolta da classe trabalhadora.

Como você avalia o argumento de economistas e entidades empresariais de que o fim da escala 6x1 pode aumentar o custo do trabalho e elevar o preço final ao consumidor de produtos e serviços?

Eu avalio como malabarismo escravocrata. A elite, como sempre, fazendo esse malabarismo para tacar o terror na classe trabalhadora, para que a gente não lute por dignidade. Obviamente, na história do mundo sempre foi assim: toda vez que a classe trabalhadora se ergueu para lutar por direitos, sempre teve essas falácias. Sabemos, sim, que é um debate importante essa questão dos lucros, mas sabemos que mais importante é a vida do trabalhador — até porque a gente está falando de ser humano, e não de robô.

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A PEC da deputada Erika Hilton propõe, além do fim da escala 6x1, a redução da jornada de trabalho de 44 horas para 36 horas semanais, com quatro dias de trabalho e três de folga. A rigor, o fim da escala 6x1 poderia ser feito até mesmo com a manutenção da atual jornada de 44 horas semanais. Qual é sua avaliação?

A nossa proposta realmente é bem abusada, digamos assim. Mas a gente já chegou com essa ousadia porque sabe que o debate vai ser rebaixado. E aí a gente está agora com uma economista fazendo algumas pesquisas, trazendo alguns dados, para ter uma resposta mais técnica.

Mas respondendo aqui de forma mais incisiva: essa questão das 36 horas e da escala 4x3 é o que seria ideal mesmo. É o debate que a classe trabalhadora quer, porque também não adianta a gente falar de acabar com a 6x1 e colocar uma 5x2, e o trabalhador continuar sendo sucateado. Então, falando aqui de forma humana, o certo é o trabalhador ter um equilíbrio na semana.

Obviamente, agora na CCJ [Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, onde a PEC será inicialmente discutida] teremos uma discussão mais técnica.

Acabar com o regime 6x1, ainda que se mantivesse uma jornada de trabalho acima de 36 horas, já seria um ganho?

A gente está falando da classe trabalhadora da base da pirâmide, que sustenta este país. Então, a gente tem que exigir muito mesmo. Mas a classe trabalhadora está tão sucateada que, se a gente conseguir ir por esse caminho, também vai ser um conforto para quem está tendo só um dia de folga. O que não pode continuar, e o que a classe trabalhadora não quer que continue, é seis dias de trabalho para um dia de folga.

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Até agora, o governo Lula não apoiou de forma efusiva o fim do regime 6x1. Como você avalia a postura do governo federal em relação a esse tema?

Acredito que eles estão avaliando, vendo qual o melhor momento, em que situação será mais propício para poder vir com tudo. A gente tem, sim, alguns posicionamentos da base do governo que apoia a pauta. Inclusive, o [deputado federal do PT-RJ] Lindbergh [Farias] estava com a gente na última coletiva de imprensa que a gente fez lá no Congresso Nacional, apoiando a causa. Mas, ao meu ver, o governo perde tempo ao não se posicionar imediatamente.

Porém, não posso dizer para você que o governo não está articulando a base. A gente tem algumas articulações justamente para chegar nesse ponto onde ali, na figura do presidente da República, apoie essa causa de forma pública, de forma incisiva, porque vai contar muito para a luta.

Mas você acha que o governo poderia ser mais contundente no apoio a essa pauta?

Acredito. Acredito que o governo perde tempo, que o governo já deveria ter se posicionado de forma incisiva.

Há atos convocados para os dias 1 e 2 de maio em defesa da PEC. Como vão ser?

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Os nossos atos pelo Brasil serão no 1º de maio: todo mundo na rua lutando pelo fim da escala 6x1. E a proposta do 2 de maio é: "fique em casa, em protesto à escala 6x1".

Nós estamos com mais de 3 estados já mobilizados para ir às ruas no 1º de maio. Em breve, a gente vai atualizar as redes sociais e soltar uns cards com local e horário dos atos. Eu já tive várias reuniões com coletivos, sindicatos e várias organizações que vão apoiar os nossos atos. A gente tem uma perspectiva que no 1º de maio a pauta central de luta nas ruas vai ser realmente o fim da escala 6x1.

Muitos críticos dizem que sindicatos e partidos de esquerda estariam descolados dos interesses da atual classe trabalhadora. Qual é sua opinião sobre esse assunto? De que maneira o VAT se conecta com os interesses dos trabalhadores brasileiros?

Eu vejo que muitos políticos, de vários vieses, pararam no tempo, não souberam acompanhar as formas de reivindicações.

Mas eu acredito que agora a gente tem essa chance de fazer todo mundo acordar. A nossa ideia não é ficar apontando quem não está fazendo. A nossa ideia é falar: " acorda, vem para esse caminho. A classe trabalhadora precisa ouvir isso, precisa dessa ação, precisa de você aqui".

E aí o VAT veio com isso. O VAT surgiu no TikTok, que é uma plataforma bem moderna e de pessoas mais jovens. Então, o VAT vem com essa mensagem: a forma que vocês se conectaram lá atrás, em 2003, em 2004, não serve mais para os tempos atuais.

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Então, é acordar e ver que as coisas vão mudando, as ideias são outras, as necessidades são outras. E aí a gente pega esse debate não só para conscientizar a classe trabalhadora, mas para conscientizar também os políticos.

Por que o fim da escala 6x1 toca as pessoas? Você acha que, mais do que falar sobre direitos, elas querem tempo para viver?

Sabe por que que tocou as pessoas? Porque as pessoas estão esgotadas, cansadas, sucateadas. Eu tenho um canal de relatos. São relatos absurdos. Existem aquelas empresas que não cumprem nem a escala 6x1. Tem trabalhadores, principalmente do comércio, do setor de serviço e varejo, que trabalham dez dias para folgar um.

Então, as pessoas se identificaram e começaram a refletir: "'peraí', eu não vim só para trabalhar, eu quero viver".

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

1 comentário

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Marcio Barbosa

Certo seria 5x2 e 40 horas semanais.

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