Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Você sofre de 'neurose de excelência', tão comum no LinkedIn?
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O intervalo entre o Natal e o Réveillon é sempre um momento de repensar a vida e esboçar projetos para o novo ano.
Um dos mais antigos itens da minha lista de resoluções, recauchutada a cada 12 meses, é dar um gás nas redes sociais.
Afinal, se você é jornalista e ainda teima em viver da profissão, não há escapatória, dizem.
Nas conversas sobre esse assunto com amigos, vira e mexe surge a seguinte sugestão: "Por que você não investe no LinkedIn?"
Taí a plataforma talhada para debater assuntos relacionados ao mundo do trabalho, tema por excelência desta coluna.
"Sim, parece uma boa ideia", respondo invariavelmente, mais por gentileza do que por convicção.
Mas sempre acabo empurrando para frente a tarefa de me dedicar aos meus perfis na internet — a verdade é que tenho extrema dificuldade para lidar com redes sociais.
Ser e parecer bom, o tempo todo
Para usar uma metáfora batida, não sou do time dos que conseguem se apegar ao copo meio cheio, da livre circulação de ideias, e relevar o copo meio vazio, do ódio gratuito e do narcisismo barato.
Além do mais, no caso específico do LinkedIn, há um código de conduta que me parece especialmente danoso, estimulado pela chamada "neurose da excelência".
A definição desse conceito, cunhado pela psiquiatra e acadêmica Edith Seligmann-Silva, referência nos estudos sobre trabalho e saúde mental, é bastante intuitiva.
A neurose da excelência é a necessidade compulsiva de ser e parecer bom em tudo, o tempo todo. Evidentemente, ela se aplica a todas as esferas da vida. Mas é especialmente ostensiva no ambiente profissional.
A mais banal das manifestações da neurose da excelência no trabalho é a vontade de mostrar uma agenda sempre lotada e concorrida. Reuniões, viagens, relatórios — o importante é se provar ocupado.
Ela se expressa também naquele comportamento hiperdiligente e voluntarioso, de estar sempre a fim e à disposição. Pode ser num call ou no grupo de Whatsapp da firma.
A neurose da excelência aparece ainda na publicização excessiva de qualquer "conquista". Vale tudo: elogio do chefe, promoção de cargo, premiação em concurso. O que importa é divulgar.
Diante disso, o efeito colateral é até previsível: a absoluta incapacidade de lidar com críticas e frustrações. E, claro, um profundo sofrimento quando um revés acontece.
Vitrine de virtudes
Ao contrário de outras redes sociais, que até toleram lamentações e certas doses de autopiedade, o LinkedIn tem de ser necessariamente uma vitrine de virtudes e vitórias.
É bastante compreensível: quem em sã consciência quer parecer frágil perante um potencial empregador?
Ou melhor: é possível se dar ao luxo de não projetar uma imagem de excelência em um "mercado de trabalho cada vez mais competitivo"?
Alguém pode objetar que o LinkedIn não é feito só de neurose de excelência. Há gente compartilhando conteúdo de qualidade e empresas recrutando funcionários por lá.
É verdade. Da mesma forma, o Instagram não é apenas uma fogueira de vaidades e o Twitter não se resume a um coliseu digital onde inimigos ideológicos se digladiam.
Mas essa ponderação não é suficiente para aplacar a birra que tenho com o LinkedIn. Sabe de uma coisa? Ano que vem, decido o que fazer.
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