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Graciliano Rocha

REPORTAGEM

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Meirelles já opera para reduzir aversão a Lula entre grandes investidores

19.set.2022 - Henrique Meirelles fala durante evento de apoio à candidatura de Lula, que reuniu oito ex-presidenciáveis em São Paulo - André Ribeiro/Futura Press/Estadão Conteúdo
19.set.2022 - Henrique Meirelles fala durante evento de apoio à candidatura de Lula, que reuniu oito ex-presidenciáveis em São Paulo Imagem: André Ribeiro/Futura Press/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

21/09/2022 04h00

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No dia seguinte à adesão à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles almoçou com diretores da XP e mais 20 investidores institucionais na sede da empresa, em São Paulo. No encontro, a portas fechadas, Meirelles saiu pela tangente daquela pergunta que estava na cabeça de quem faz preço na Bolsa brasileira.

Investidores institucionais são gestores que administram o capital de terceiros e representam 26% da participação de todo o capital investido na Bolsa brasileira —uma montanha de R$ 351 bilhões até o início de setembro, segundo o dado mais recente da B3.

Meirelles deixou claro que só vai discutir se embarca ou não em um novo governo depois de vencida a eleição e sob as suas próprias condições, conforme relato de um dos presentes. Ex-ministro de Michel Temer (2016-2018), onde pilotou a construção do teto de gastos, e ex-presidente do BC sob os governos de Lula (2003-2010), Meirelles disse que está bem na iniciativa privada.

Sem responder se vai ou não ser ministro, Meirelles afirmou que um novo governo do petista vai ser pautado por responsabilidade fiscal e que Lula tem dado indicações de que vai priorizar a reforma administrativa para equacionar a questão dos gastos na máquina pública e melhorar a capacidade financeira do Estado.

Na terça pela manhã, antes do almoço da XP, Meirelles deu entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo. Nela, o ex-ministro respondeu que o teto de gastos —uma criação de sua gestão no governo Temer que Lula prometeu acabar durante a campanha— pode coexistir com programas sociais, investimentos em infraestrutura e crescimento econômico.

"Ele falou essa questão do teto, mas por outro lado ele falou coisas muito certas, de fazer a reforma administrativa e de fazer a reforma tributária. Isso está certo. Ele está bem assessorado aí. É apenas uma questão de discutir isso com maior profundidade. Com uma reforma administrativa bem feita, a tributária, pode respeitar o teto e fazer programas sociais, investimentos em infraestrutura e o país crescer muito ao mesmo tempo", disse Meirelles à repórter Adriana Fernandes.

"Coisas certíssimas. O que precisa é fazer a sintonia fina agora", disse ele ao jornal. Em linhas gerais, esse foi o teor do endosso de Meirelles a Lula no almoço na XP.

O ex-ministro contou que participou do ato de ex-presidenciáveis na segunda (19), após ter recebido telefonemas do candidato a vice, Geraldo Alckmin (PSB), e do coordenador do plano de governo, Aloizio Mercadante (PT).

E, num grupo de grandes investidores, ambiente onde estava à vontade, disse que sua aproximação com o PT na reta final da campanha foi bem recebida pelo pedaço do PIB com quem tem interlocução.

Meirelles sabe que seu endosso a Lula agora ajuda a minar resistências em setores da indústria financeira no seu final --especialmente para quem olha de fora (gringos detêm 52% do capital investido na B3). Mas ninguém sério aposta em uma alta taxa de conversão de Faria Limers (majoritariamente pró-Bolsonaro) em Faria Lulers.

Meirelles está fazendo preço?

Uma das coisas mais enganosas sobre a vitalidade de um mercado costumam ser os movimentos de curto prazo nos ativos de renda variável.

Desde a foto com Lula e as conversas com grandes gestores, Meirelles parece estar fazendo preço: da abertura do pregão de segunda ao fechamento de terça, o Ibovespa avançou 3.848 pontos, fechando em 112.516 pontos ontem.

Essas altas são Meirelles mesmo? A parte da Faria Lima mais fiel ao presidente tem dito que não, que existem mil outras razões para isso. No fundo, isso importa pouco para os costumeiros vencedores da bolsa desde sempre (quem olha para o horizonte de anos e compra/vende com base em fundamentos das empresas que estão por trás dos tickers).

As altas de 2,33% na segunda e de 0,62% na terça ocorreram descoladas do Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq, que operam no vermelho, à espera da decisão do Fed sobre juros americanos.