Logo Pagbenk Seu dinheiro rende mais
Topo

Graciliano Rocha

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Como a Faria Lima e os investidores externos digeriram a vitória de Lula

Danilo Verpa/Folhapress
Imagem: Danilo Verpa/Folhapress

31/10/2022 18h23

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Depois de desbancar o incumbente Jair Bolsonaro (PL) pela margem mais apertada em disputas presidenciais desde 1989, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda não falou publicamente sobre como vai ser a sua política econômica e sobre o enorme rombo fiscal do país, temas sobre os quais silenciou durante a campanha eleitoral. Investidores esperam agora pelo anúncio de quem vai integrar a equipe econômica.

  • Com relação à vitória de Lula, investidores externos têm um viés mais positivo sobre o novo governo do que boa parte da Faria Lima, mais próxima da política econômica de Paulo Guedes.

  • Os primeiros sinais no day after da eleição foram a forte valorização do real ante o dólar, que atingiu um pico de R$ 5,40 por volta das 12h05. Depois, a moeda americana começou a mergulhar numa queda de quase 2,5%, atingindo uma mínima de R$ 5,169. Movimento similar ao dos juros futuros, caindo 15 pontos nos contratos mais longos.

  • O movimento do dólar e dos juros reflete uma visão, sobretudo dos estrangeiros, de que a incerteza da eleição ficou para trás e o Brasil tem um conjunto de fatores atraentes: a) é um grande produtor de commodities; b) tem uma política de juros de dois dígitos, mas com perspectiva de controle de inflação; c) com a aceitação do resultado eleitoral por aliados importantes do presidente Bolsonaro, como o presidente da Câmara, as chances de contestação do resultado caíram.

  • O CDS do Brasil, um indicador de risco-país, recuou para 276,9 pontos, o nível mais baixo desde 23 de setembro.

  • Uma explicação para o fluxo externo para o Brasil pós-eleições é que os estrangeiros estão pouco alocados em ativos brasileiros.

  • "Quando o estrangeiro olha para cá e vê que não há contestação do resultado das eleições, que era a preocupação, isso favorece a decisão de alocar já que ele estava pouco comprado aqui. Ele não olha para as mesmas minúcias, mas para um quadro mais geral que é o possível início de um ciclo de baixa na inflação e empresas que estão sendo negociadas a um preço sobre lucro em um nível muito baixo", avalia Wilson Barcellos, CEO da Azimut Brasil Wealth Management, uma firma de investimento de SP.

  • As estatais afundaram, refletindo uma percepção de risco maior de que companhias como a Petrobras e o Banco do Brasil percam competitividade sob o governo do PT. PETR4, a ação preferencial da petroleira, caiu 8,47% (R$ 29,81). As perdas na Petrobras superaram 10% durante o pregão, mas o movimento foi atenuado. BBAS3, o ticker do banco público, caiu 4,64% (R$ 37.02).

  • No sentido contrário, bancos privados, construtoras e conglomerados de educação - setores supostamente beneficiados com uma vitória do PT - subiram forte. No geral, o Ibovespa, índice de referência da B3, fechou o primeiro pregão pós-eleição em terreno positivo (+1,31%).

  • O que Lula disse até agora é que trocaria o teto de gastos, incorporado à Constituição durante a Presidência de Michel Temer (2016), por uma nova regra fiscal, mas ele não deu detalhes de que substituto seria esse. O petista tinha insistido que o mercado deveria olhar para os anos que governou (2003-2010), quando o país manteve disciplina fiscal, controlou inflação e gerou superávit fiscal.

  • Apenas os gastos já contratados no atual governo, como a expansão da base de beneficiários do Auxílio Brasil e a desoneração tributária sobre combustíveis (entre outros), já deverão ultrapassar R$ 100 bilhões extras neste ano. A pergunta de 1 milhão de dólares é como serão acomodados estes gastos e as demais promessas do presidente eleito.

  • "As declarações de Lula sobre a economia foram vagas até agora, mas há uma percepção de que as alianças dele, com o Alckmin na vice e o Henrique Meirelles fazendo campanha, de que o novo governo vai levar a sério o fiscal", disse ao UOL o diretor de investimentos da Somma, Joaquim Kokudai.

  • "Até porque, se o vencedor tivesse sido Bolsonaro, ele também teria que mostrar o que pretende, já que o atual governo fez bastante coisa na contramão do fiscal desde a PEC dos Precatórios", disse o gestor, referindo-se à regra que parcelou dívidas judiciais no ano passado e ao forte aumento de gastos do Estado durante a campanha deste ano.

  • Há muita especulação sobre quem seria o ministro da Economia, o próprio Lula já testou alguns nomes com interlocutores do mercado, mas ele não bateu o martelo.

  • Entre os especulados estão Alexandre Padilha (PT) - para repetir uma fórmula do primeiro mandato de ter um político no comando da Economia e uma equipe de técnicos não ligados ao PT - ou Meirelles (presidente do BC nos governos Lula 1 e 2 e ministro da Fazenda de Temer). Mas, enquanto o próprio Lula não anunciar, o mais conveniente é tratar isso como o que realmente é: espuma.

  • Em 2002, quando assumiu com um mercado financeiro mais hostil à incerteza de ter pela primeira vez o PT no governo, Lula só anunciou Antonio Palocci como ministro da Fazenda em 15 de dezembro, duas semanas antes da posse. Mas não há garantia de que Lula vá repetir o método de decisão que usou no passado.