Graciliano Rocha

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Bolsa de NY busca seduzir empresas brasileiras com acesso a capital global

O vice-presidente da NYSE (New York Stock Exchange), John Tuttle, tem conversado com executivos e empresários brasileiros repetindo um mantra: Wall Street é a melhor alternativa para companhias brasileiras fazerem seus IPO (oferta inicial de ações) e serem negociadas em bolsa.

O racional das conversas de Tuttle, que esteve no Brasil no final de março, é que, ao escolher a NYSE, a maior do mundo considerando a capitalização total, os brasileiros ganham tração em um ecossistema onde estão os maiores investidores do mundo e passam a receber, por exemplo, atenção da cobertura de analistas que não contariam no mercado local. Hoje, 34 empresas brasileiras já são listadas em Nova York, gigantes como Petrobras, Vale e Itaú Unibanco.

Segundo ele, a abertura de capital da Reddit no mês passado é um exemplo de que as condições voltaram a ser favoráveis para novos IPOs: perspectiva de quedas futuras de juros e sucessivos recordes nos índices de referência como S&P500.

A seguir os principais trechos da entrevista de Tuttle ao UOL, por videoconferência:

UOL: O sr. esteve no Brasil conversando com setores da economia e vendendo a ideia de que a Bolsa de Nova York é um bom lugar para fazer brasileiros fazerem o seu IPO (começar a negociar ações em bolsa). O que o Brasil tem a oferecer em relação a outras economias emergentes?

JONH TUTTLE: Os mercados de capitais nos Estados Unidos e no Brasil sempre tiveram um excelente relacionamento. Agora é uma oportunidade de fortalecer esses laços de negócios. O que eu quero dizer com isso? As multinacionais americanas estão procurando diversificar suas cadeias de fornecimento e, olhando ao redor do mundo, muita gente precisa enxergar o potencial global do Brasil, um país com mais de 200 milhões de habitantes, rico em recursos, com uma indústria sofisticada. Olhando para a frente, o Brasil representa uma grande oportunidade e nós queremos ajudar a construir essa ponte listando mais companhias brasileiras em na Bolsa de Nova York.

Mas taxas de juros altas - como estão agora - costumam ser um problema para os IPOs.

O mercado de capitais dos Estados Unidos é o maior do mundo e, se olharmos para o ambiente dos IPOs, o que faz um IPO atraente? Há duas questões. Número um são as taxas de juros [nos Estados Unidos]. Agora elas estão estáveis, com perspectiva de corte no futuro - o que é muito saudável porque as companhias olham para o valuation (avaliação de valor/preço de uma empresa) e para o modo como investidores institucionais tomam suas decisões de alocar capital.

Qual o segundo fator da sua tese?

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O segundo fator é a volatilidade, que também está relativamente baixa e estável. É um bom fator, uma ótima condição para a retomada de IPOs. Nossos índices estão próximos de recordes históricos, o que é outro fator muito interessante porque reflete que as quedas de juros estão no horizonte. Um exemplo do que estou dizendo são IPOs extremamente bem sucedidos na NYSE, como o da Reddit (empresa de tecnologia/rede social) e o da Auna (conglomerado peruano de saúde, com presença em vários países da América do Sul). É um período relativamente tranquilo para novos IPOs e novas emissões porque o mercado está respondendo bem.

Como os ativos brasileiros são vistos por investidores da Bolsa de NY?

Temos um forte pipeline de empresas olhando para aberturas pela frente e, de novo, as condições de mercado estão positivas, mas olhemos especificamente para o Brasil. Brasil tem sido um país muito importante para a NYSE por muito tempo. Hoje temos orgulho em ter 34 empresas brasileiras listas na NYSE e de uma série de setores muito diversificada. Ou seja, são 34 empresas com um market cap (valor de mercado) próximo talvez de meio trilhão de dólares. Se eu olhar para as 2.400 empresas listadas na Bolsa de NY e para as cinquenta mais negociadas diariamente, muitas delas são brasileiras. Isso significa que investidores estão conhecendo melhor ativos brasileiros.

Que setores são os mais atraentes, na sua opinião?

Falando de maneira geral, tecnologia, saúde e energia são setores. Somos bullish (com viés de alta) no Brasil. Nós queremos ser um parceiro do Brasil. Olhemos por exemplo para os desafios das multinacionais americanas nos próximos anos estão buscando cumprir os seus compromissos de zerar emissões de carbono e, em muitos casos, elas terão que investir em energia renovável, limpa e competitiva em termos de custo, o que torna o Brasil muito interessante.

Como o senhor percebe o risco político do país e da região?

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Todo país e toda geografia têm sua dinâmica política de interação entre os setores público e privado. Minha mensagem é de quem passou bastante tempo conversando com líderes do setor privado no Brasil e o que posso dizer é que estou impressionado. Há muitas boas empresas no Brasil prontas a permitir que investidores globais, investidores institucionais e indíviduos a participarem em seu sucesso.

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