Papel de general que chefiava tropa está em aberto na investigação da PF
A investigação da Polícia Federal avançou sobre a parte operacional de um plano para dar um golpe no Estado em dezembro de 2022, mas o relatório que deu origem à operação desta terça (19) foi econômico sobre o envolvimento de oficiais de alta patente, na ativa, que tinham o comando de tropas à ocasião do planejamento.
Embora o foco da PF hoje tenha sido buscar evidências adicionais para instruir um provável processo contra militares que atuaram na formulação de um plano de ação para derrubar/matar os eleitos antes mesmo da posse, os investigadores inventariaram o que chamaram de "Núcleo de Oficiais de Alta Patente com Influência e Apoio de Outros Núcleos".
De acordo com a investigação, este núcleo era composto por militares de alta patente que utilizavam sua influência para angariar apoio para outros grupos envolvidos no plano golpista e era integrado pelos oficiais superiores:
- Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice de Bolsonaro, em 2022;
- Almir Garnier Santos, almirante de esquadra da reserva e à época comandante da Marinha;
- Mario Fernandes (general de brigada da reserva, alvo da operação de hoje) e ex-ministro interino da Secretaria Geral da Presidência da República;
- Estevam Theophilo, general de exército da reserva e à época comandante do Comando de Operações Terrestres;
- Laércio Vergílio, general de brigada da reserva e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal;
- Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, general de Exército da reserva e então ministro da Defesa.
Embora não tenha sido alvo nesta terça, a operação de hoje apresenta novos indícios sobre o papel do general Estevam Theophilo na conspiração. Dos listados pela PF, era o único que comandava tropa, não escrivaninha, no momento em que a trama cresceu.
Já era sabido desde fevereiro deste ano, graças aos dados do telefone celular do ex-ajudante de ordens presidencial Mauro Cid, que o então comandante do Coter estivera reunido em 9 de dezembro de 2022 com Jair Bolsonaro para discutir a minuta de um decreto que daria verniz jurídico ao golpe.
Segundo a PF, o objetivo da reunião era organizar o golpe. No relatório de operação deflagrada em fevereiro, a PF concluiu, a partir de mensagens trocadas entre Mauro Cid e Bernardo Romão Correa Neto, que o general Theophilo "teria concordado em executar as medidas que culminariam na consumação do golpe de Estado, desde que o então presidente Jair Bolsonaro assinasse o decreto que vinha sendo debatido e ajustado".
O que a operação de hoje indicou, contudo, é que alguns kids pretos, militares com formação em operações especiais pertencentes à cadeia de comando de Theophilo já estavam ativamente trabalhando na conspiração mesmo sem assinatura de decreto algum.
O major Rafael Martins de Oliveira, que usou os codinomes "Joe" ou "Japão" na conspiração, era lotado no Batalhão de Ações e Comandos (BAC), subordinado ao Comando de Operações Especiais (COpEsp). Este comando é subordinado ao Comando Militar do Planalto (CMP), mas para fins de preparo e emprego responde diretamente ao Comando de Operações Terrestres (Coter), chefiado por Theophilo no momento das ações.
As investigações mostram que o major teve ampla liberdade de ação em Brasília e foi um dos principais articuladores da operação "Copa 2022", que visava prender ou executar o ministro Alexandre de Moraes em 15 de dezembro de 2022.
Segundo a PF, o major enviou mensagens para Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, demonstrando preocupação com as investigações sobre a participação de kids pretos nos atos golpistas e chegou a manter contato com outros membros das forças especiais após os atos de 8 de janeiro, discutindo a possibilidade de novas ações.
Outro kid preto, o major Rodrigo Bezerra de Azevedo, lotado no Comando de Operações Especiais, também é investigado como participante do grupo. Segundo a PF, seu número de telefone conectou na mesma Estação Rádio Base (ERB) que o número associado ao codinome "Áustria" no grupo "Copa 2022", sugerindo sua participação na operação.
O capitão do Exército Lucas Guerellus, que serviu no 1º Batalhão de Forças Especiais em 2017, foi o responsável, segundo a PF, por alugar veículos em Goiânia, possivelmente para atividades relacionadas ao plano golpista.
Linha do tempo
Três dias antes da reunião de Theophilo com Bolsonaro, em 6 de dezembro, o general da reserva Mario Fernandes imprimiu o documento Plj.docx, que continha todo o planejamento para a execução do plano de assassinar Alexandre de Moraes.
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Quero receberUm dia depois, em 7 de dezembro, a primeira versão do decreto golpista de Bolsonaro foi apresentada ao general Freire Gomes, então comandante do Exército. Em depoimento à PF, Freire Gomes disse que estavam presentes na reunião o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira; o então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier; o então assessor para Assuntos Internacionais da Presidência, Filipe Martins; e o próprio Bolsonaro
Em 15 de dezembro foi posto em prática o plano para matar o ministro Alexandre de Moraes, que só não foi para frente porque a sessão do Supremo acabou mais cedo que o previsto.
No dia seguinte, o coronel Marcelo Câmara disse a Mauro Cid que Alexandre havia viajado a São Paulo para voltar a Brasília no dia 19 de dezembro e viajar de volta a SP no mesmo dia. Só voltaria a Brasília de novo "para a posse do ladrão".
O general Theophilo só deixou o Coter em 25 de novembro de 2023, dia em que foi para a reserva, já sob o governo Lula (PT).
Procurada pelo UOL, a defesa do general Theophilo não retornou às tentativas de contato até a publicação desta reportagem.
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