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José Paulo Kupfer

Inflação em 12 meses é de 3,1%, mas sem alimentos não passa de 1,1%

09/10/2020 15h27

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A inflação, medida pelo IPCA, deu um salto em setembro, registrando alta de 0,64%, em relação a agosto. O ritmo de alta de preços no mês passado foi três vezes superior à do mês anterior e marcou a maior elevação para setembro desde 2003. Outubro ainda vai pesar, e a variação do IPCA deve superar a de setembro, devendo subir 0,66%, segundo estimativas do economista Fábio Romão, da LCA Consultores, especialista em acompanhamento de preços.

Isso tudo poderia fazer parecer que a inflação estaria decolando e ameaçando entrar numa trajetória de perigosas elevações. Mas a tendência não é essa. Os preços no atacado, que estavam apresentando altas fortes, começaram a reduzir a pressão, na primeira prévia de outubro. Além disso, a alta de preços, que se concentra em alimentos, está sendo contida pela ausência de reação dos preços no setor de serviços.

A concentração da alta da inflação em alimentos, reflete pressões de oferta e de demanda. As pressões de oferta têm origem na desvalorização do real ante o dólar, que estimula exportações, notadamente de commodities agrícolas, reduzindo a oferta interna, na ausência de estoques reguladores. As pressões do lado da demanda têm relação com o auxílio emergencial a populações vulneráveis e informais. A primeira etapa do auxílio, beneficiou mais de 65 milhões de pessoas e, ao transferir R$ 600 mensais, injetou R$ 50 bilhões por mês na economia. Com redução do número de beneficiados e do valor mensalmente transferido, as pressões de demanda, ainda que não se esgotem, tenderão a arrefecer.

Tudo considerado, as perspectivas são de que a inflação, mesmo mais alta do que projetam, no momento, os analistas que participam das pesquisas do Boletim Focus, feche 2020 pouco acima do piso do intervalo do sistema de meta, que é de 2,5%, neste ano. No momento, o Focus aponta variação de 2,23%, para o ano cheio, mas as previsões devem caminhar na direção de uma alta nas vizinhanças de 3%.

Embora combustíveis, materiais de construção e equipamentos eletroeletrônicos domésticos estejam no lado das pressões de alta do IPCA, a elevação mais forte do índice é quase que totalmente derivada dos preços de alimentos. Em setembro, óleo de soja e arroz destacaram-se como puxadores da inflação para cima, mas o conjunto da cesta de alimentos, com poucas exceções, registra altas, algumas fortes.

Indicação de que a inflação em alta reflete, quase integralmente, elevações em preços de alimentos podem ser encontradas na variação acumulada em 12 meses do IPCA cheio e sem considerar a categoria alimentos e bebidas. No período, a inflação cheia subiu 3,1%, mas, excluídos os alimentos, a alta não passou de 1,1%, enquanto apenas a inflação de alimentos voou para 15,4%.

Já havia ocorrido uma primeira onda de altas em alimentos, de maio a julho, mas uma segunda onda, que pegou agosto e setembro, foi mais forte. O IPCA evoluiu de menos de 5%, em maio, para perto de 10% em julho, mas explodiu, para 15,5%, nos dois últimos meses.