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José Paulo Kupfer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

PIB para de crescer antes de se recuperar da pandemia e aponta 2022 difícil

01/09/2021 14h51

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Taxas de juros em alta, inibindo ainda mais a atividade econômica. Seca, frustrando safras agrícolas e impondo restrições ao consumo de energia elétrica, ambiente propício a pressões inflacionárias. Desemprego elevado, renda e massa salarial em queda, ou seja, restrições ao consumo. Perspectivas menos promissoras para a recuperação global. Tudo isso e mais turbulências políticas, reforçando incertezas no cenário econômico. Como esperar que a economia avance diante de um quadro como esse?

São naturais, portanto, os movimentos já em curso de revisão para baixo, nas projeções da evolução do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano e, principalmente, em 2022, que começam a aparecer depois de conhecido o resultado do segundo trimestre de 2021. Nos cálculos oficiais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgados nesta quarta-feira (1º), a atividade recuou 0,1% em relação ao primeiro trimestre.

É o retrato de uma economia que estagnou antes de recuperar o que perdeu com o choque da pandemia. E que esbarra em dificuldades para retomar uma trilha de crescimento, mantendo-se ainda 3% abaixo do ponto mais elevado, alcançado no primeiro trimestre de 2014.

A marcha do PIB, trimestre a trimestre, comprova a perda de ritmo: alta de 7,7%, no terceiro trimestre do ano passado, mais 3,1% no quarto trimestre, apenas 1,2% no primeiro tri deste ano e 0,1% negativo, agora no segundo trimestre. Para os dois trimestres restantes do ano, as previsões são de resultados positivos, mas modestos, em torno de 0,2% sobre iguais períodos anteriores.

Já o filme dessa história aponta expansão econômica abaixo de 5%, em 2021, e no caminho de um crescimento em torno de 1,5%, em 2022. Se confirmadas as projeções, será uma repetição do padrão insuficiente, predominante depois da saída da recessão de 2015/2016 e antes da pandemia. Desde a recessão de 2015/2016, a média de crescimento trimestral não tem passado de 0,3%, o que expressa expansão média de menos de 1% ao ano.

O zero a zero no consumo, a queda de 2,8% na agropecuária e a retração de 3,6% nos investimentos são destaques negativos nos números do segundo trimestre. Os recuos foram suavizados pela alta de 0,7% nos serviços, beneficiados pelo avanço nas vacinas, alívio nas internações e mortes por covid-19, e relaxamento nas restrições de circulação.

Inflação em alta e o mercado de trabalho apertado, com desemprego ainda muito elevado e renda contida, corroeram o empuxo no consumo que poderia ter vindo da extensão do auxílio emergencial, ainda que em valor mais baixo. Já a seca e episódios de geada fizeram o serviço de frustrar a lavoura, o que levou à queda na produção agropecuária, ao mesmo tempo em que contribuiu para pressionar a inflação.

Quanto aos investimentos, que apontam, de um ponto de vista mais concreto, os níveis de confiança para o futuro, depois de três altas fortes, a partir do terceiro trimestre do ano passado, voltaram a cair. Pesaram para esse recuo não só a trajetória de elevação das taxas de juros, mas também incertezas à frente, alimentadas pelas turbulências políticas e institucionais, promovidas pelo presidente Jair Bolsonaro.

Tudo considerado, o que salvou o segundo trimestre de um resultado pior foi o setor externo e o consumo do governo. As exportações líquidas subiram como resultado da elevação de 9,5% nas vendas externas, na comparação com o trimestre anterior, e da queda de 0,6% nas importações. As despesas do governo, puxadas por gastos na área de Saúde, avançaram 0,7% no período.

Não são muito animadoras as perspectivas para frente. Não se prevê, na virada de 2021 para 2022, o transbordamento ocorrido na passagem de 2020 para 2021. Em razão desse transbordamento ("carry over", na expressão em inglês e no jargão econômico) que, mesmo crescendo num ritmo em torno de 2% anuais, no fim do ano, a expansão do PIB deve se sustentar acima de 4%, em 2021. Com a economia mal se segurando no semestre semestre deste ano, não se poderia contar com esse tipo de impulso em 2022.