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José Paulo Kupfer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Gasolina e inflação cairão, mas continuará sobrando mês no fim do salário

23/07/2022 04h00

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Os preços da gasolina e as tarifas de energia elétrica vão recuar e puxar para baixo os índices de inflação. Nas projeções dos analistas, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) deve fechar 2022 nas vizinhanças de 7,5%, talvez até mais perto de 7%. Queda diante dos 9% de alta previstos até junho, mas ainda assim estourando o teto do intervalo do sistema de metas, que é de 5% em 2022, para centro em 3,5%.

Esse previsto recuo da taxa de inflação, que deve começar a se concretizar com uma deflação em julho, pode ajudar nas narrativas eleitorais do presidente Jair Bolsonaro. Mas não deverá trazer alívio significativo para o bolso das pessoas, principalmente grupos de renda mais baixa, que concentram seus orçamentos em gastos com alimentação.

De acordo com projeções da consultoria MCM, uma das maiores e mais influentes do mercado, os preços da gasolina deverão fechar 2022 com queda de 12% em relação ao valor cobrado nas bombas na entrada do ano, enquanto as tarifas residenciais de energia ficariam 20% mais em conta. Também a alta nas tarifas de transporte urbano não passará de 3%.

Com base nessa estimativa, o valor médio do litro da gasolina baixaria para R$ 5,30, ainda assim R$ 1 acima do preço médio vigente no início de 2020. O valor permaneceria quase 30% maior do que o registrado em maio de 2020, quando a cotação internacional do petróleo registrou baixa recorde.

Do outro lado da marcha inflacionária, as projeções da MCM põem diesel, gás de botijão, medicamentos e alimentos. O preço do diesel, o derivado que mais contamina os outros preços, segundo as previsões da MCM, terminará o ano 40% acima do praticado no começo de 2022. No mesmo período, os preços dos medicamentos registrarão alta de 12% e os alimentos no domicílio vão subir pesados 15%. O valor do botijão gás pode subir 10% no ano.

São duas as principais razões da esperada redução nos preços da gasolina. A primeira e mais relevante é o recuo das cotações internacionais de petróleo. Os preços estão em queda diante da perda de ritmo da demanda, que pode se retrair ainda mais com a previsível intensificação dos sinais de recessão na economia global, apesar das restrições na oferta, resultantes da guerra na Ucrânia e das sanções às exportações russas de petróleo.

Também os cortes de impostos federais e o ICMS estadual contribuem para abrir espaços a reduções de preço nas bombas. Segundo estudos do economista Eduardo Costa Pinto, professor do IE - UFRJ (Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e especialista em políticas de petróleo, com base na política do PPI (Paridade de Preços de Importação), a margem de manobra de momento para a fixação de preços nas bombas pelas distribuidoras chega a 30%, mesmo com as altas recentes nas cotações do dólar ante o real. Costa Pinto avalia que cerca de um terço desse espaço vem do corte de impostos.

Confirmada a pressão estimada nos preços dos alimentos, gás de botijão, e medicamentos, a redução de 1,5 ponto a 2 pontos percentuais na inflação de 2022 não deverá ser tão sentida no bolso das pessoas. No supermercado, os preços continuarão elevados e subindo, apenas com altas menos pronunciadas, em alguns casos.

Inflação subindo em ritmo mais lento não quer dizer, necessariamente, preços em baixa. Se um produto ou serviço custava R$ 100 e passou a custar R$ 120, a inflação no período foi de 20%. Mas, se, depois, de R$ 120 subiu para R$ 125, o preço continuou a aumentar, mas a inflação foi de apenas 4%.

Bolsonaro poderá juntar centavos de redução de preços e décimos em recuo de índices de inflação como argumentos para bater bumbo do seu governo no período eleitoral. Mas, para a grande maioria da população o cotidiano da "sobra de mês no fim do salário" continuará tão dura quanto já estava.