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BC ficou 'atrás da curva' e precisa agora acelerar cortes nos juros
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É mínima, para não dizer nenhuma, a possibilidade de que o Copom (Comitê de Política Monetária) dê início ao esperado ciclo de cortes na taxa básica de juros (taxa Selic), nesta quarta-feira (21). Não há motivo técnico para que a taxa básica continue nos 13,75% nominais ao ano em que se encontra desde agosto de 2022, mas a mexida deve aguardar até o próximo encontro do Copom, em agosto, por uma questão de ritual do sistema de comunicação do Banco Central.
Dar início, na reunião do Copom de junho, aos cortes na Selic configuraria um "cavalo de pau" na comunicação do BC. A expressão, no jargão do mercado financeiro, designa a ocorrência de mudança radical e inesperada na direção de políticas. Até aqui, nos documentos oficiais publicados e nas declarações do presidente e de diretores, o BC tem resistido a sinalizar recuo nas taxas básicas, apesar da cada vez mais disseminada crítica a esse imobilismo.
Demora em iniciar cortes prejudica a economia
A demora no início dos cortes, a esta altura, é prejudicial ao esforço de retomada dos negócios e da atividade econômica. Ao manter juros imóveis nas alturas — a taxa básica real de juros na economia brasileira é a mais alta do mundo —, vê-se agora com mais clareza, sem necessidade, o BC não só colabora para dificultar a recuperação de empresas e pessoas penduradas em dívidas, como contribui para que investimentos sejam adiados, retardando possível melhora no ambiente econômico.
Trata-se do mesmo mecanismo negativo que operou quando o recente programa de incentivo para a compra de veículos — o programa do "carro popular" — demorou para ser deslanchado depois do seu anúncio. As vendas simplesmente ficaram paralisadas, pois os potenciais compradores, racionalmente, decidiram esperar a entrada em vigor dos benefícios anunciados. De modo análogo, é de se perguntar quem vai tomar dinheiro aos juros do momento, se as taxas devem cair logo ali na frente.
Mercado antecipou mexida para agosto
Assim como não esperam mudanças em junho, os analistas aguardam que o Copom prepare o terreno para iniciar o ciclo de cortes na Selic em agosto. A expectativa é a de que o colegiado promova alterações no texto do comunicado da reunião de junho, com argumentos e indicações suficientes justificar mudanças na linha da políticas até agora teimosamente mantida, para abonar reduções da taxa de juros já no início do segundo semestre.
Embora uma parcela de economistas de bancos e consultorias ainda relute em aderir ao coro de que já passou da hora de cortar a taxa Selic, o conjunto do mercado financeiro deu aval implícito ao início do movimento em agosto. As taxas dos juros futuros de médio e longo prazos recuam desde março e se encontram no nível de 11% ao ano. O nível das taxas futuras longas indica as expectativas dos agentes econômicos em relação à trajetória dos juros.
BC agora vai correr para compensar atraso
No último Boletim Focus, publicação semanal do BC que informa a mediana das projeções de mais de uma centena de especialistas do mercado, divulgado nesta segunda-feira (19), as estimativas para a marcha da taxa básica até o fim do ano já são de cortes acumulados de 1,5 ponto percentual, a partir de 0,25 ponto, em agosto. Os demais 1,25 ponto seriam distribuídos nas três últimas reuniões do ano, em setembro, outubro/novembro e dezembro.
A resistência da diretoria em iniciar os cortes, em resumo, fez com que o BC se atrasasse na política de juros e ficasse "atrás da curva", como diz um outro jargão do mercado financeiro. A expressão designa o fato de que ocorreu um descompasso entre mercado e BC, em relação à velocidade do ajuste da trajetória dos juros.
Em relatório a clientes, o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, sugere que o Copom deveria compensar o atraso, acelerando os cortes nos juros em velocidade maior do que a indicada pela mediana registrada no Focus.
O atraso do Copom recomenda redução da Selic em 50 pontos e aviso de que vem mais. José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator.
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