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José Paulo Kupfer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

BC decepciona, se isola, mas não queima todas as pontes de corte em agosto

22/06/2023 12h27

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Será mesmo que o Copom (Comitê de Política Monetária) não iniciará em agosto um novo ciclo de cortes na taxa básica de juros (taxa Selic)?

A resposta seria "sim", a julgar pelas expectativas formadas logo após a divulgação, ao fim da reunião desta quarta-feira (21), do decepcionante comunicado relativo à decisão de manter a Selic em 13,75%, que não sinalizou, como esperado, um primeiro movimento de redução dos juros já no começo do segundo trimestre.

Mas, se forem consideradas as projeções dos principais indicadores econômicos para os próximos meses, e também o histórico das decisões do Copom, sob pressão do ambiente econômico, não é tão certo que a primeira mexida nos juros básicos desde agosto de 2022 ficará mais para frente.

Examinado com uma boa lupa, o comunicado que causou tanta decepção não queimou todas as pontes para que promova um corte na Selic na próxima reunião do Copom, marcada para os dois primeiros dias de agosto.

Experientes tradutores do "coponês" — o idioma cifrado em que são redigidos os comunicados do Copom — fazem uma leitura menos dura dos termos contidos no documento que resume os pontos discutidos na reunião de junho.

Além do sinal dado com a retirada da frase com a qual, nos últimos comunicados, o Copom informa que não "hesitará em retomar a alta dos juros caso necessário", outros sinais foram captados na direção da abertura de uma fresta para reduzir os juros básicos. Dois exemplos:

Ênfase na vinculação das decisões futuras à evolução dos dados, sabendo-se que as projeções para o futuro próximo dos principais indicadores da economia são benignos.

Afirmação de que a estratégia de manutenção da taxa básica por período prolongado tem se mostrado adequada, quando, nos comunicados anteriores, a mensagem era a de que o Copom "estava avaliando" se essa estratégia era adequada.

Também é preciso considerar, na formulação de hipóteses para um próximo início do ciclo de cortes nos juros, que a pressão nesse sentido ganhou amplitude. Não são mais só Lula e seus ministros que reclamam dos maiores juros reais em todo o mundo. Líderes empresariais e até mesmo executivos influentes do mercado financeiro passaram a pedir redução nos juros básicos.

Ao insistir no imobilismo — já há quem rotule a posição do Copom como negacionismo —, o Banco Central tem crescentemente se isolado dos grupos de influência nas decisões econômicas. Improvável que o BC desafie o próprio mercado financeiro e mantenha o isolamento em que agora se encontra por período prolongado, mesmo com o escudo da independência institucional e mandato fixo de seu presidente e diretores.

Tanto é assim que as primeiras reações concretas dos analistas do mercado financeiro resultaram em pequenos ajustes na marcha prevista no ciclo de cortes dos juros básicos ainda em 2022. De 12,25% no fim do ano, conforme o último Boletim Focus, a 12,5%, depois da divulgação do comunicado mais duro do que o esperado, as previsões ainda são de que a taxa Selic será reduzida em pelo menos 1,25 ponto, ao longo das quatro reuniões do Copom, no segundo semestre.