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Ata corrige comunicação desastrosa do BC, mas extrapola em análise política
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Divergindo do comunicado, a ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), divulgada nesta terça-feira (27), informa que a maioria dos membros do colegiado, que reúne presidente e diretores do Banco Central, e decide o nível da taxa básica de juros (taxa Selic), considera ser possível iniciar já em agosto um novo ciclo de cortes nos juros.
No comunicado, divulgado no encerramento da reunião de junho do Copom, na quarta-feira (21), essa informação fundamental para avaliar os próximos passos da política de juros foi sonegada. Com a ata, o BC mudou o rumo da sua comunicação e correu para se "ancorar" com o mercado, tentando minimizar o desastre em que se transformou sua comunicação com o público.
Cortes nos juros podem começar em agosto
Tanto no comunicado quanto na ata, os membros do Copom mostram preocupação com a "desancoragem" das expectativas, em relação à marcha da inflação, no futuro próximo. Cotejando os termos do comunicado da última reunião, não é difícil entender algumas das razões da "desancoragem". A comunicação está falhando.
Mesmo depois dos termos duros do comunicado, que, nas camadas mais visíveis, não abria qualquer espaço para previsões de cortes, os analistas do mercado financeiro continuaram a apostar em uma primeira mexida nos juros em agosto, um ano após a última.
No Boletim Focus desta segunda-feira (26), os analistas mantiveram a expectativa de que o início de um ciclo de cortes se daria em agosto, com a taxa Selic recuando dos atuais 13,75% nominais ao ano para 12,25%, no fim de 2023 — um corte de 1,5 ponto percentual, em quatro restantes reuniões no segundo semestre.
"Desancoragem" com sinal trocado
Houve, portanto, uma "desancoragem", mas com sinal trocado. Os analistas divergiram do próprio Copom, não o contrário. O termo "desancoragem" é usado, em tempos normais, para expressar a distância das projeções dos analistas em relação ao nível da inflação fixado pelo sistema de metas, que todos sabem dever ser perseguido pelo Banco Central.
Depois da ata, reabriu-se o caminho para sintonia entre BC e mercado. A expectativa geral agora confirmada é a de que o Copom fará um corte de 0,25 ponto, na reunião marcada para os dois primeiros dias de agosto. A convicção de que o início do ciclo de cortes será de 0,25 ponto tem como base o destaque no texto do documento segundo o qual esse início deveria ser "parcimonioso". Restarão, assim, se confirmadas as expectativas do mercado, três cortes, de 0,25 ponto, e dois de 0,5 ponto em setembro, outubro e dezembro.
"A avaliação predominante foi de que a continuação do processo desinflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas, pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião." Trecho do parágrafo 19 da ata da reunião do Copom de junho
A ata agora divulgada também permite inferir que o BC não tem se limitado a examinar e avaliar aspectos técnicos da conjuntura econômica, mas extrapola em análises políticas. É o que permite que se conclua, na leitura do parágrafo 14 do documento.
BC assume tom político
Pode-se considerar que a afirmação, contida na última frase do parágrafo, de que não há "relação mecânica entre a convergência da inflação e a aprovação do arcabouço fiscal", tenha uma conotação técnica.
Mas seria apenas "técnico" o período inicial do mesmo parágrafo 14, no qual o BC "avalia que a apresentação e a tramitação do arcabouço reduziram substancialmente a incerteza em torno do risco fiscal", acrescentando que "permanecem desafios para o cumprimento das metas estipuladas para o resultado primário"?
São, de fato, muitos — uma maioria de analistas de viés mais liberal e ortodoxo — os que duvidam que o arcabouço fiscal em tramitação no Congresso permitirá cumprir as metas de resultado primário propostas pelo governo. Mas há também muitos que consideram ser o arcabouço suficiente para garantir o cumprimento da meta. A escolha de uma visão não exclusiva não pode ser considerada "técnica".
Também não é técnica a menção, contida no parágrafo 12, à "confiança nas metas de inflação" como requisito para a "ancoragem" das expectativas e para um "processo desinflacionário mais célere e menos custoso, permitindo flexibilização monetária". Também aqui se trata de interferência, institucionalmente indevida, na decisão sobre alterar ou não as metas já fixadas até 2025, que terá lugar na reunião do CMN (Conselho Monetário Nacional), marcada esta sexta-feira (30).
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