José Paulo Kupfer

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Opinião

PIB voou no 1º semestre, parou de crescer no 2º, e deve desacelerar em 2024

As surpresas dos dois primeiros trimestres não se repetiram nos dois últimos. Confirmando a desaceleração prevista para o segundo semestre, e o impulso da expansão no primeiro semestre, o ano de 2023 fechou com crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 2,9% sobre 2022, quando a atividade econômica avançou 3%.

Fotografia da marcha do PIB no ano passado, divulgado nesta sexta-feira (1º), pelo IBGE, é bem diferente do que apontam as projeções para a trilha da economia em 2024. Em 2023, segundo dados agora revistos, o PIB avançou 1,4% no primeiro trimestre, 0,8%, no segundo, e ficou estagnado nos dois últimos trimestres do ano.

No ano em curso, o crescimento tende a ser mais bem distribuído entre os trimestres, com aceleração um pouco maior no segundo semestre. Projeções sinalizam crescimento de 0,3%, no primeiro trimestre, 0,4%, no segundo, e de 0,6% em cada um dos dois últimos.

Se confirmadas as previsões, a expansão, no ano calendário, será menor, em relação a 2023. Depois do conhecido o resultado do ano passado, as apostas são de que a economia possa avançar um pouco acima de 2% em 2024. Aqui, é preciso notar as diferenças entre nível e ritmo da atividade econômica.

O ritmo deve cair, mas o nível da atividade, subir. O crescimento menor de 2024 se dará sobre uma base que já teve expansão de 2,9%. No biênio 2023/2024, primeira metade do governo Lula, o PIB avançaria 5%, se confirmadas as projeções.

Isso significa que, mesmo em desaceleração neste ano, a economia continuaria mantendo condições de absorver empregos, sem recuos nos salários. Haveria massa salarial suficiente para impulsionar o consumo das famílias.

Não por coincidência, as projeções apontam o consumo das famílias como o componente que puxará o PIB em 2024, pelo lado da demanda. Mesmo subindo metade da variação registrada em 2023 — cerca de 1,5%, em comparação com 3,1% de 2023.

O desempenho da economia em 2023, muito acima do previsto no começo do ano passado, reflete, basicamente, quatro fatores:

Excepcional crescimento da agropecuária, que avançou 15,1%, com destaque para as culturas de soja e milho;

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Alto crescimento da indústria extrativa mineral — petróleo, gás e minério de ferro —, com alta de 8,7%;

Impulso fiscal, representado pela expansão dos gastos em programas sociais (Bolsa Família turbinado, aumento do salário mínimo, BPC —Benefício de Prestação Continuada — etc), ao lado do recuo da inflação, principalmente em alimentos, dando combustível ao consumo das famílias, que subiu 3,1%;

Forte expansão das exportações, principalmente de commodities agrícolas e minerais, expansão de quase 10%.

A agropecuária, considerando seus muitos impactos indiretos no conjunto da economia — transporte, armazenagem, máquinas agrícolas, caminhões etc —, foi responsável por um terço do PIB de 2023. Será também o setor que explicará, em parte, a desaceleração de 2024. As previsões para este ano apontam recuo na produção setorial entre 2% e 3%. O recuo, contudo, em relação a um aumento extraordinário da produção em 2023, ainda expressará expansão elevada.

Algo semelhante se dará, de acordo com as projeções, com as exportações. As vendas ao exterior cresceram quase 10% em 2023, mas não deverão evoluir mais do que a metade disso, em 2024.

Na análise do recuo previsto para as exportações, o economista Bráulio Borges, da LCA Consultores e também pesquisador do Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas), chama a atenção não só para a perspectiva de menor crescimento da China, mas também, e com ênfase, para a expectativa de recuo profundo da economia argentina.

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"A Argentina é o principal comprador de manufaturados brasileiros. As vendas brasileiras para eles já foram maiores, mas ainda são relevantes. As exportações brasileiras serão muito negativamente impactadas pela situação argentina". Bráulio Borges, economista

Outro elemento com previsão de menor contribuição ao crescimento do PIB neste ano, em relação ao anterior, é o impulso dos gastos públicos. Esse impulso menor refletiria o esforço do governo para se encaixar nos limites e critérios do novo arcabouço fiscal, bem como cumprir, ou pelo menos não se afastar muito, da meta de equilíbrio entre receitas e despesas primárias estabelecida para 2024.

Os investimentos, que sinalizam os espaços para avanços futuros na atividade, continuaram a sentir o peso das taxas de juros elevadas, restringindo o crédito para empresas, e das incertezas em relação ao crescimento econômico. Depois de um suspiro em 2022, os investimentos voltaram a cair forte, desta vez em 3%, no ano passado. A taxa de investimento se manteve em níveis baixíssimos, em 16,5% do PIB. Previsões são de que fiquem estagnados em 2024.

Do lado do que pode ajudar a economia a segurar a tendência de queda no ritmo de crescimento, em 2024, os analistas destacam a resistência do mercado de trabalho, e da massa de salários, combustível para o consumo das famílias. Esperam também que os precatórios pagos no fim do ano passado, acrescidos da parcela que será distribuída este ano, irriguem a atividade.

Calcula-se que o pagamento dos precatórios assegurará 0,3 pontos percentuais de expansão para o PIB de 2024. A esse impulso, soma-se o transbordamento do avanço de 2023, apesar da desaceleração na segunda metade do ano passado, que está sendo estimado no entorno de 0,5%. Esses fatores explicariam pouco menos da metade da expansão na vizinhança de 2%, projetada para 2024.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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