Katherine Rivas

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Reportagem

Isa Cteep (TRPL4): analistas avaliam se é hora de ir às compras

O investidor pessoa física ficou de fora da festa. Como já era esperando amplamente pelo mercado, a Eletrobras (ELET3) anunciou que venderá 60 milhões de ações da Isa Cteep (TRPL4) em oferta secundária (follow-on). No entanto, longe da operação ser aberta a todos os públicos focou apenas em um grupo mais restrito: os investidores profissionais, que possuem R$ 10 milhões investidos ou são agentes de investimentos, analistas e consultores de valores mobiliários.

Afinal, será que o investidor pessoa física deveria aproveitar as quedas recentes e comprar por conta própria os papéis da transmissora? Ou a companhia não está tão atrativa e barata o suficiente para quem busca dividendos? A coluna conversou com analistas e traz a resposta.

Segundo dados da Elos Ayta Consultoria, as ações preferenciais da Isa Cteep (TRPL4) recuavam 3,84% desde o anúncio da oferta até o fechamento de 17 de julho. Já os papéis ordinários (TRPL3) apresentavam queda de 4,72% no mesmo período.

O que aconteceu?

A Eletrobras já havia tentado fazer uma oferta para vender as ações da Isa Cteep. Isso aconteceu em outubro, mas a Eletrobras desistiu ao constatar que precisaria da aprovação dos debenturistas para a venda, lembra Victor Bueno, sócio e analista da Nord Research. "Essa aprovação foi obtida há 30 dias, permitindo o lançamento da oferta agora", diz.

Com a venda de 60 milhões de ações preferenciais da Isa Cteep (TRPL4), a Eletrobras levantará R$ 1,62 bilhão. Ainda a depender da demanda, a Eletrobras pode vender mais 70 milhões de ações, elevando a operação para R$ 3,5 bilhões.

A precificação ocorrerá no dia 18 de julho e a liquidação no dia 23 de julho.

Atualmente, a Eletrobras tem 9,7% das ações ordinárias da Isa Cteep e 52,6% das preferenciais. Com a oferta, a Eletrobras passará a deter apenas 20,1% das ações preferenciais e 16,1% do total da Isa Cteep.

O free float (ações em livre circulação de mercado) saltará nas ações preferenciais TRPL4 de 46,2% para 78,6%. Enquanto no total de ações, o crescimento do free float será de 28,4% para 48,1%, representando um aumento de liquidez.

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Muda algo na Isa Cteep?

A saída de um grande investidor não é encarado como algo positivo, mas neste caso se tratou de uma estratégia de pós-privatização, lembra Bueno. Segundo o analista, o objetivo da Eletrobras é reduzir participações minoritárias consideradas não estratégicas, simplificar e otimizar seu portfólio, além de controlar a alavancagem — que nos últimos anos saiu de 1 vez a relação entre dívida líquida e ebitda e foi para 2,5 vezes em poucos trimestres.

Com isso, não deve ocorrer nenhum tipo de alteração nos fundamentos da Isa Cteep, pontua Bueno. Na visão dele, não é porque a Eletrobras está saindo que os investimentos da Isa Cteep vão mudar, nem a visibilidade futura da companhia ou muito menos ter os dividendos e resultados alterados.

A participação da Eletrobras na Isa Cteep sempre foi mais passiva e sem interferência relevante na estratégia, por isso os fundamentos ligados ao ponto operacional devem permanecer os mesmos, avalia Bernardo Viero, analista da Suno Research.

O que muda é a possibilidade de a Isa Cteep ter maior liquidez de negociação das suas ações, observa Viero. "Os acionistas atuais ganhariam indiretamente com mais investidores relevantes podendo fazer preço de forma positiva nos papéis", diz.

Vale a pena comprar Isa Cteep agora?

Embora a queda recente das ações abriu uma oportunidade, o espaço para valorização dos papéis TRPL4 é curto. Na Nord, por exemplo, o preço-teto (preço limite) de compra para as ações TRPL4 é R$ 27, muito próximo do preço de tela atual.

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Apesar disso, ainda há oportunidade de garantir bons dividendos, na visão da Nord. Bueno projeta um dividend yield (retorno em proventos) de 7,5% a 8% para os próximos 12 meses.

Dá para comprar, mas há oportunidades mais atrativas no mercado. Segundo Bueno, pode ser um bom momento para aumentar posição na TRPL4 ou até mesmo comprar as ações pela primeira vez, mas é possível encontrar preços mais atrativos e rendimentos maiores em empresas como CPFL Energia (CPFE3), Vale (VALE3) e BB Seguridade (BBSE3) - todas com dividend yield de 10%.

Não seria a primeira escolha, mas caso o investidor se sinta confortável, não seria uma decisão equivocada, avalia Bruno de Oliveira, analista CNPI do Projeto Vida de Acionista. Dado que os fundamentos da Isa Cteep não mudaram é importante aproveitar eventuais quedas de preço, na visão dele. Mas, o preço limite de Oliveira para garantir as ações TRPL4 já foi ultrapassado, de R$ 20.

O analista, contudo, prefere o investimento em Banco do Brasil (BBAS3) que pode entregar um dividend yield superior a 11% em 2024 e é uma opção mais barata e rentável do que a transmissora. Para Isa Cteep, a projeção de dividendos de Oliveira para os próximos 12 meses é de 7%.

Para iniciantes, é importante lembrar que a Isa Cteep paga dividendos apenas uma vez ao ano o que pode elevar o custo psicológico para quem está começando na trajetória de investimentos, lembra Oliveira.

Mesmo que pague dividendos elevados atualmente, a Isa Cteep pode vir a perder parte considerável das suas receitas com o fim da RBSE (Rede Básica Sistema Existente) e ver seus proventos pressionados, destaca Viero, da Suno. A RBSE é uma indenização paga às transmissoras e que no caso da Isa Cteep tem duração até 2028.

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Os proventos da Isa Cteep devem continuar acima de 7% nos próximos anos, mas Viero prefere opções que sejam mais sustentáveis e com dividendos crescentes ao longo do tempo, entre estas Engie (EGIE3) e Eletrobras (ELET3).

Segundo o analista, o risco é o investidor demorar a perceber que embora o dividendo da Isa Cteep esteja em um patamar considerável, ele não deverá crescer e poderá passar por mais problemas na medida que os fluxos da RBSE diminuírem, já que os novos ativos não são suficientes para compensar a queda nos resultados. Viero projeta um dividend yield de 7,3% na TRPL4 para os próximos 12 meses.

Vantagens e riscos

Para quem ainda está interessado no investimento em Isa Cteep, Bueno destaca que a companhia atua em um dos segmentos mais previsíveis do setor elétrico, o de transmissão. A empresa é remunerada por levar energia do ponto A ao ponto B, independente do volume.

Transmissoras são remuneradas por contratos de concessão de longo prazo, periodicamente reajustados pela inflação. A Isa Cteep possui 35 concessões atualmente e cerca de 90% dos contratos são corrigidos pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) e um vencimento médio para outubro de 2045.

Diante da sua necessidade de expansão, por conta da RBSE, a Isa Cteep arrematou diversos leilões nos últimos anos - atualmente possui 137 subestações próprias e 23 mil km de linhas de transmissão, diz Bueno.

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A expansão operacional permitiu em um crescimento da Receita Anual Permitida (RAP), passando a ter 12,1% de participação de mercado no segmento.

A companhia também reduziu sua alavancagem para 2,3 dívida líquida sobre ebitda.

Em relação a dividendos, a Isa Cteep possui como política pagar, no mínimo, 75% do seu lucro líquido em proventos (payout) e vem fazendo isso nos últimos anos, lembra Bueno.

Entre os riscos, um seria o aumento da alavancagem diante dos novos projetos, que pode chegar a 4 vezes dívida líquida sobre ebitda e acabar comprometendo parcialmente os proventos, observa Oliveira, do Projeto Vida de Acionista.

Outro ponto de atenção seria a redução drástica da receita oriunda da RBSE a partir de 2028. Segundo Oliveira, certamente este fato mexerá com a receita total da empresa, mas até o momento parece que este risco já está mapeado pela companhia e que medidas estão sendo tomadas para não comprometer o negócio.

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