Mariana Grilli

Mariana Grilli

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

Retração do Fiagro, RJs cercam o agro: como fica o 'médio investidor'?

Há pouco mais de um ano, eu conversava com uma fonte no escritório de uma instituição financeira nas imediações da Faria Lima, quando ela disse a seguinte frase: "Se sua avó e o motorista de aplicativo estão investindo, não é bom sinal". Em tom de ironia, ela se referia à entrada de pessoas físicas no mundo dos Fiagros (Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais).

A possibilidade de pessoas físicas investirem no agro, seja em ativos de natureza imobiliária rural ou de atividades relacionadas à produção agropecuária, fez os Fiagros incharem. De acordo com a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), o patrimônio líquido dos Fiagros atingiu R$ 40,5 bilhões em setembro deste ano — há três anos, o produto mal existia.

Só que investir no agro requer compreender mecanismos complexos dentro e fora da porteira, e talvez a população urbana não tenha sido ensinada para tal.

A frustração veio há um mês, quando mais de 31 mil cotistas do Fiagro Capitania Agro Strategies (CPTR11) ficaram sem dividendos em outubro, reflexo do pedido de recuperação judicial da AgroGalaxy (AGXY3).

Em 11 de outubro, quando o comunicado sobre o CPTR11 foi divulgado, o ativo era cotado a R$ 6,58. Em 11 de novembro, a queda acumulada é de 3,95%, para R$ 6,32. Antes da concretização da RJ da AgroGalaxy, em setembro, foram registradas perdas de até 18% nos Fiagros.

Para quem investe no setor, o momento é de cautela. Números divulgados pela Serasa Experian nesta terça-feira (12) mostram que, no terceiro trimestre de 2024, houve retração de 40,7% nos pedidos de RJ, incluindo produtores pessoa física, pessoa jurídica e empresas.

Apesar da baixa, vale lembrar que 215 agricultores brasileiros pediram recuperação judicial no segundo trimestre do ano. Também foram 94 pedidos de RJ de empresas no período, um aumento de 22% em comparação com o período de janeiro a março.

Acreditamos em um represamento no segundo trimestre que acabou inflando a quantidade de solicitações e impactando a relação com o período seguinte. O ideal é que sigamos analisando os próximos meses para chegarmos em conclusões mais assertivas.
Marcelo Pimenta, diretor de agronegócio da Serasa Experian

Para o campo que busca se financiar por CRAs e Fiagros, também é preciso cautela com o comportamento do 'médio investidor'. Afinal, a falta de compreensão sobre o calendário-safra, a rotação das commodities e a influência de países concorrentes na formação de preços na Bolsa de Chicago pode assustar.

Continua após a publicidade

Na prática, há o receio de uma "bolha" de injeção de dinheiro, cujo recurso anteriormente captado não necessariamente se concretize a ponto de financiar as safras. Não por acaso, a indústria a céu aberto é vista por títulos com maior remuneração, mas também maior risco.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

Só para assinantes