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Mariana Londres

REPORTAGEM

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Após falas de Lula, dólar abaixo de R$ 5 vira sonho de noite de verão

Lula em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar - Reprodução
Lula em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar Imagem: Reprodução

Do UOL, em Brasília

03/02/2023 13h20

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Desde a eleição, o mercado espera de Lula um tom mais moderado em relação aos temas econômicos. A segunda entrevista do presidente após tomar posse, ao meu colega Kennedy Alencar, não só frustrou novamente essa expectativa como ampliou os temores, já que Lula foi ainda mais contundente nas críticas, especialmente aos juros altos e ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

A leitura do mercado já é expressa em números: o dólar a menos de R$ 5 por enquanto foi um sonho de uma noite de verão, a Bolsa tende a cair (apesar de oscilar em função de muitos outros fatores) e os juros futuros a subir. Veja as cotações.

Autonomia do Banco Central

Para gestores com quem eu conversei, as falas de Lula sinalizam que o presidente pretende acabar com a autonomia do Banco Central após o mandato de Roberto Campos Neto, que se encerra em dezembro do ano que vem. E acabar com a autonomia, na visão dos gestores, abre portas para interferências do Executivo, como ocorreu sob Dilma nos preços administrados (especialmente energia) e com a derrubada dos juros "na caneta".

Para o mercado, Dilma 2 na economia foi um pesadelo que eles não querem ter de novo.

Quais falas foram consideradas mais duras?

  • Lula ter chamado Roberto Campos Neto de "esse cidadão" e ter dito que vai perguntar ao Congresso se estão felizes com o presidente do Banco Central.
  • O presidente disse não haver nenhum motivo para os juros serem mantidos em 13,75% ao ano.

O que mais o mercado teme?

Em linhas gerais, mais interferência do governo. Que se reflete em várias áreas, para além do Banco Central:

  • Que Lula indique um diretor de política monetária do BC mais alinhado ao governo do que ao mercado. Até agora a tendência era de um nome de consenso entre a Fazenda e o presidente Roberto Campos Neto e um perfil mais pró-mercado.
  • Que o Conselho Monetário Nacional (CMN) eleve as metas de inflação, hoje em 3,25% para 2023 e 2024 e 3% para 2025.
  • Que o BNDES use novamente recursos do Tesouro em benefício de algumas empresas (que ficaram conhecidas como os campeões nacionais) ou obras de infraestrutura em outros países.
  • Que haja interferência indevida do governo nas taxas de juros definidas pelo Banco Central.
  • Que o governo coloque dinheiro na economia de forma irresponsável, sem a devida preocupação fiscal.

O recado do Banco Central

A elevação das críticas de Lula acontecem no dia seguinte à publicação do comunicado do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) após a decisão de manter a Selic em 13,75%.

Apesar das reiteradas críticas de Lula aos juros altos, o Copom disse ser necessária a manutenção da Selic por um período "mais prolongado do que no cenário de referência". Antes o Banco Central falava em período "suficientemente prolongado".

Como o recado do BC foi mais duro do que o esperado, é possível que Lula tenha elevado o tom em reação ao teor do comunicado. A ata do Copom será divulgada na semana que vem e tanto o texto quanto a reação de Lula precisam ser observados com lupa.

O mercado também leu no último comunicado do Copom recados de que o Banco Central preza pela independência conquistada.

Divergências

Está claro que o Lula e o Banco Central divergem em relação à atual taxa de juros. O mercado agora espera que a articulação política reduza essas arestas para melhorar as expectativas, que se traduzem no dólar, bolsa e principalmente na curva de juros.