Por que Lula pode antecipar a indicação para a presidência do BC
Mesmo antes de o presidente Lula voltar a intensificar os ataques contra o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na semana passada, o Ministério da Fazenda já defendia internamente que o ideal seria que Lula antecipasse a indicação do novo presidente do BC para o mês de agosto.
Não existe uma data exata de prazo para a indicação, mas o ideal é que ela ocorra a tempo de uma transição tranquila. O mandato de Roberto Campos Neto termina em 31 de dezembro e o nome precisa ser sabatinado e aprovado pelo Senado até o último dia de trabalho antes do recesso, que é 22 de dezembro. O próprio Campos Neto já defendeu publicamente que o ideal seria que a indicação ocorresse entre setembro e outubro.
O presidente Lula costuma deixar indicações importantes mais para perto do fim dos mandatos que se encerram. Foi assim para as diretorias do Banco Central. Mas, desta vez, auxiliares do presidente tentam convencê-lo a antecipar a indicação, usando o argumento do tempo para uma transição tranquila. Há ainda a leitura de parte desses auxiliares de que um novo presidente indicado reduziria a relevância do atual presidente do BC, diminuindo também o espaço para ruídos entre Lula e Campos Neto.
Na linguagem de Brasília, a indicação antecipada faria o café de Roberto Campos Neto esfriar mais rápido, o que pode interessar a Lula, na medida em que ele tem se incomodado com as movimentações políticas do presidente do Banco Central.
O impacto dos nomes
O mercado já absorveu o nome de Gabriel Galípolo para o comando do BC, especialmente porque já teve tempo de observar a sua atuação tanto na secretaria executiva da Fazenda quanto na diretoria de política monetária do BC. Se ele for, portanto, indicado para o comando da autoridade monetária em julho ou agosto, o impacto no mercado será entre neutro, por já estar precificado, e positivo, pela retirada de uma incerteza do radar.
Na semana passada, a fala do presidente Lula em entrevista à CBN sinalizou que não há martelo batido em relação a Gabriel Galípolo. Lula disse que o próximo presidente precisa ser uma pessoa "madura, calejada, responsável, alguém que tenha respeito pelo cargo que exerce e alguém que não se submeta a pressões de mercado". Entre os nomes que circulam como possíveis indicações de Lula, Galípolo não é o mais experiente.
Diante dessa leitura de que Lula ainda não escolheu o sucessor de Campos Neto, a ala mais radical do PT passou a defender o nome do economista André Lara Resende, a exemplo do que havia feito antes da posse de Lula para o Ministério da Fazenda (e antes do anúncio do nome de Fernando Haddad).
As especulações acenderam um sinal amarelo no mercado, que prefere para o comando do BC um nome menos ligado às alas mais radicais do PT e já com um histórico de atuação no Copom. Apesar de ter sido citado, o nome de André Lara Resende não está hoje na mesa como uma possibilidade real de escolha do presidente.
Dentro do Ministério da Fazenda, a leitura é que o nome de Gabriel Galípolo ainda mantém o favoritismo dentre as possíveis escolhas do presidente Lula, apesar de não haver unanimidade na pasta em torno do nome. Importante lembrar que Galípolo foi trazido ao PT pela presidente Gleisi Hoffmann e foi o responsável por construir pontes entre Lula e o mercado ainda durante a campanha, no primeiro semestre de 2022.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é próximo do diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do BC, Paulo Picchetti, e por isso ele é citado como possível indicado a presidente. Mas o diretor tem um perfil técnico e acadêmico e há uma leitura que a presidência do BC precisa ser exercida com alguém que tenha também um perfil político.
Outro nome que voltou à bolsa de apostas foi do ex-diretor do BC Luiz Awazu. Ele deu uma sinalização importante ao governo na semana passada ao criticar a PEC de autonomia financeira do BC, durante audiência na Comissão de Constituição e Justiça no Senado. Internamente no governo é preciso acompanhar se surgem resistências ao nome.
Escolha
Interlocutores próximos de Lula sempre lembram que a decisão é do presidente Lula, que não abre muito nem para os mais próximos. Mas é certo que Lula irá ouvir os ministros Rui Costa, da Casa Civil, e Fernando Haddad, da Fazenda, antes de tomar uma decisão e a posição da Fazenda neste caso específico tem um peso grande.
Timing
Quando Gabriel Galípolo foi indicado para diretoria de política monetária do BC, o tempo entre o envio da indicação formal pelo presidente Lula até a data da posse foi de cerca de dois meses. Por isso, uma indicação de Lula perto do final de outubro já ficaria apertada. Em entrevista na última sexta-feira (21) Lula disse que "está chegando o momento de trocar Roberto Campos Neto".
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