Mariana Londres

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BC vai acelerar ritmo de cortes na Selic, como defende Haddad?

Neste mês de setembro, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) volta a se reunir para discutir a taxa básica de juros com o cenário de redução de 0,5 ponto percentual. Hoje a Selic está em 13,25% ao ano.

A projeção do tamanho do corte está no último comunicado, da reunião do mês de agosto, quando o comitê pontuou que: "Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário".

Ou seja, se não houver alterações importantes no cenário que pressionem a inflação, o Copom deve manter os cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões. No último boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira (4), as projeções de inflação tiveram uma alta mínima, 0,02 ponto para este ano e em 0,01 ponto para o próximo, respectivamente a 4,92% e 3,88%. Para 2025 e 2026 projeção para o IPCA permanece em 3,50%. Ou seja, pouca alteração no horizonte.

Com isso, entre os agentes de mercado as novas discussões são:

(1) quando termina o ciclo de cortes;

(2) se o BC pode acelerar a queda, com cortes de até 0,75 p.p.

O fim do ciclo de cortes tende a coincidir com o juro neutro, ou juro de equilíbrio, que é o patamar em que a economia cresce com seu maior potencial, com inflação sob controle.

Em entrevista no mês de agosto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reclamou do ritmo de queda da Selic, argumentando que com o juro real 4,5 e 5% e a inflação de 4%, o juro neutro seria de 8,5% ao ano. "Isso significa que tudo acima de 8,5 é recessivo. Quanto tempo vamos demorar a chegar no juro neutro se temos oito reuniões do Conselho de Política Monetária por ano?"

No último sábado (2), um dia depois do resultado PIB (crescimento do país) ter surpreendido para cima, o ministro defendeu queda de 0,75 p.p na próxima reunião.

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Se o Copom mantiver os cortes a 0,5 p.p. a cada reunião, os juros no Brasil estarão a 11,75% ao ano ao final deste ano (o que coincide com a expectativa do mercado expressa no boletim Focus) e só chegarão perto de 8,5% ao final do próximo ano.

Conversei com Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama Investimentos. Nas projeções dele, o Copom vai cortar os juros no Brasil até o patamar de 9% ao ano.

Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Órama
Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Órama Imagem: Divulgação

"Juro neutro é aquele juro que você não está nem estimulando e nem desestimulando. É onde a política monetária é neutra. Então, nesse sentido, se a gente imaginar que a inflação vai para 4%, que é o que o mercado vem trabalhando, estamos falando de um neutro de 4,5% a 5%. Com isso, a nossa projeção na Órama é de Selic terminal [ao final do ciclo de quedas] em 9% ao ano".

O economista não acredita em espaço grande para cortes mais acelerados, de 0,75 p.p, porque o cenário externo, que afeta diretamente o Brasil, está mais desafiador neste segundo semestre. Na China há queda de crescimento, deflação, crise no mercado imobiliário e por consequência menor demanda pelos produtos (commodities) brasileiros.

"A gente precisaria de uma série de situações que até onde a vista alcança não estão no radar. Então acho que a gente vai fazer quatro cortes de 0,50 p.p para terminar o ano de 2023 em 11,75% e depois mais cinco cortes de 0,50 p.p e um de 0,25 p.p para chegar aos 9% [em setembro de 2024]."

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Mas Alexandre Espírito Santo não descarta que a questão política pode facilitar uma aceleração na queda dos juros, com cortes de 0,75 p.p ou até 1 p.p a partir de janeiro de 2024. O presidente Lula, o grande defensor da queda dos juros, indicou este ano dois diretores para o Banco Central e em dezembro poderá indicar mais dois. A taxa de juros é definida pelos nove diretores da autoridade monetária.

"Muito possivelmente você vai ter quatro diretores com essa tendência de querer acelerar [os cortes]. Como a gente já tem alguns votando por essa velocidade maior, pode ter, no ano que vem, quedas de 0,75 p.p, ou até 1 p.p. Mas vai depender se a inflação estiver dentro da meta, eu não me surpreenderia com cortes maiores para chegar mais rápido no juro neutro. Não é o cenário que eu trabalho, mas eu não ficaria surpreso".

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