Controle de comissões na Câmara passa por cifras bilionárias
A disputa pelo comando das comissões na Câmara dos Deputados tem um ingrediente a mais neste ano: o volume das emendas de comissão (ou RP8), que mais do que dobrou em relação ao ano passado. Só a Comissão de Saúde da Câmara, por exemplo, terá R$ 4,4 bilhões em recursos do orçamento público para direcionar para políticas públicas.
Apesar dos recursos disponíveis, as emendas de comissão não são impositivas, e, portanto, os valores tendem a não ser integralmente pagos. Mesmo assim, a disponibilidade abre espaço para negociações políticas, tanto entre as lideranças no parlamento, quanto por parte do Executivo, que costuma liberar mais emendas quando precisa mobilizar a base para a votação de projetos estratégicos.
No total, estavam previstos R$ 16,6 bilhões para as emendas de comissão (Câmara e Senado) em 2024, mas o presidente Lula vetou R$ 5,5 bilhões do total. Os parlamentares defendem a derrubada do veto, mas ainda há uma negociação sobre esses recursos e sobre o veto.
Independente do veto ser mantido ou derrubado, a comissão da Saúde da Câmara se mantém como o colegiado com o maior volume de recursos, já que não sofreu cortes pelos vetos. Tanto o PT quanto os partidos do centro disputam o comando da comissão (hoje presidida pelo PL).
A escolha das comissões segue uma ordem respeitando o tamanho das bancadas. A partir desse critério também são feitos acordos políticos. Por exemplo. O maior partido da Câmara é o PL, e, portanto, ele pode fazer a primeira escolha de comissão e quer ficar com o comando da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça). Depois as escolhas vão sendo feitas seguindo a ordem dos tamanhos dos partidos, com eventuais trocas por acordo.
Por que o controle de comissões é importante?
Comandar as comissões traz poder político. Além do protagonismo, os presidentes dos colegiados definem as pautas de votação e conseguem acelerar ou atrasar a tramitação de projetos. Por isso a CCJ é historicamente a comissão mais disputada das Casas legislativas.
Também alvo de disputa, ao lado da CCJ está a Comissão Mista de Orçamento, cuja composição segue outra lógica por ser uma comissão das duas Casas. Neste caso, além da importância política há a econômica: os membros da comissão são os responsáveis pela elaboração do Orçamento. Neste ano, a presidência ficará com um deputado, e a relatoria com um senador.
Comissões e ministérios
A escolha das comissões pelos partidos também passa pelos comandos dos ministérios pelos aliados. Por exemplo: O PSB do vice Geraldo Alckmin comanda o Ministério da Indústria e Comércio e Serviços e o das Micro e Pequenas Empresas. Faz mais sentido, portanto, o partido manter o comando da comissão de Indústria, Comércio e Serviços (apesar de após os vetos ela ter ficado sem recursos para as emendas de comissão).
Já o PP de Lira comanda o Ministério do Esporte. É natural que tenha interesse pela comissão do Esporte, que tem R$ 650 milhões após o veto de quase metade do valor das emendas. Em 2023, a comissão do Esporte foi comandada pelo PL.
As comissões com mais recursos
O Orçamento de 2024 prevê R$ 53 bilhões para emendas parlamentares em geral. Do total, R$ 11,5 bi são para as emendas de bancada, R$ 19,4 bilhões para as emendas individuais dos deputados e R$ 5,6 bilhões para as emendas individuais dos senadores, todas impositivas, além de R$ 16 bilhões para as de comissão (antes do veto), montante que ultrapassa o dobro do valor destinado a essa rubrica no exercício financeiro de 2023.
Veja abaixo as comissões com mais recursos:
- Comissão da Saúde na Câmara: R$ 4,53 bi (não sofreu veto)
- Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo do Senado: R$ 2,47 bi (outros R$ 1,91 bi vetados)
- Comissão de Integração e Desenvolvimento Regional da Câmara: R$ 1,22 bi (outros R$ 1,22 bi vetados)
- Comissão de Constituição e Justiça do Senado: R$ 725 milhões (outros R$ 62 milhões vetados)
Histórico das emendas
Alterações legislativas feitas desde 2015 mudaram a lógica do controle do Orçamento do País, cuja execução passou também para as mãos do legislativo.
Newsletter
OLHAR APURADO
Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do UOL sobre os principais assuntos do noticiário.
Quero receberAté 2015: deputados e senadores apresentavam suas propostas e o Executivo decidia se iria conceder ou não as verbas e quando elas seriam disponibilizadas.
A partir de 2015: promulgada em março de 2015, a Emenda Constitucional 86 é o que conhecemos como Orçamento Impositivo. Obriga o Executivo a pagar as emendas parlamentares individuais. Metade do montante dessas emendas precisa ser destinado à saúde. Pela legislação em vigor, as emendas individuais são de execução obrigatória até o limite de 1,2% da Receita Corrente Líquida (RCL).
A partir de 2019: promulgada a Emenda Constitucional 100, que determina a execução obrigatória de emendas de bancada estadual. Metade do montante dessas emendas precisa ser destinado a obras. As emendas de bancada também são impositivas, mas limitadas a 1% da RCL.
Outubro de 2019: Congresso aprova LDO com execução obrigatória também as emendas do relator-geral do Orçamento e das comissões permanentes.
Dezembro de 2022: STF limita o uso das emendas de relator (RP9) apenas para recomposição de orçamento. Com isso, aumenta o volume de recursos direcionado para outros tipos de emendas.
Deixe seu comentário