Mariana Londres

Mariana Londres

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Governo alinha comunicação econômica para reduzir solavancos

Depois de um primeiro semestre difícil para a equipe econômica do governo, a gestão Lula começou o segundo semestre em um esforço coordenado de comunicação que, até agora, alinhado a outros fatores, ajudou a reduzir solavancos, especialmente no dólar e na curva de juros.

Na reunião ministerial do final da semana passada, Lula passou otimismo aos seus ministros sobre os dados da economia, dados somados aos resultados das políticas públicas que o presidente considera fundamentais.

Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu a necessidade do corte de despesas, que já foi motivo de reações pouco amigáveis dos seus colegas de Esplanada nos bastidores e até publicamente.

Desta vez, Haddad teve o apoio público ao final da reunião do ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, que em declaração à imprensa lembrou que a Casa Civil também faz parte da Junta Orçamentária, e portanto, atua na decisão de contingenciar, além de ter reforçado o discurso do presidente Lula em defesa da responsabilidade fiscal do governo.

Essa comunicação coordenada ajuda a percepção do mercado de que o ministro Fernando Haddad não está isolado na tarefa de manter as contas do governo no azul. Nesta semana, em evento para o mercado (Warren), Haddad manteve o tom de otimista e disse que o governo está no bom caminho para controlar as contas públicas.

O fator Galípolo

A comunicação alinhada entre Lula e os ministros Haddad e Rui Costa na reunião de quinta-feira (8) aconteceu no mesmo dia em que o favorito para assumir o comando do Banco Central e ex-número dois da Fazenda, Gabriel Galípolo, começou a falar em eventos sobre a possibilidade de o Banco Central voltar a subir os juros.

A fala de Galípolo foi bem recebida pelo mercado por sinalizar que ele agirá em eventual comando do BC independente do desejo do presidente Lula pelos cortes dos juros. Também levou ao mercado a percepção que Lula deu carta-branca para uma eventual elevação da Selic, o que contribuiu para: queda do dólar, redução dos prêmios de risco na curva de juros, e alívio para a bolsa brasileira.

Comunicação ajuda, mas não basta, ainda há grandes desafios

Ainda não sabemos quanto esse alinhamento de comunicação irá durar e qual será o efeito no médio prazo, até porque a árdua tarefa do ministro da Fazenda de manter as contas no azul ainda não terminou. O contingenciamento de R$ 15 bilhões anunciado em julho (o que, aliás, ajudou a melhorar o humor do mercado) que já não foi bem recebido pelos demais ministérios, pode ser ampliado.

Continua após a publicidade

Há ainda o desafio do Orçamento de 2025, que será enviado até o dia 31 de agosto pelo Ministério do Planejamento. A peça precisa incluir os R$ 25,9 bilhões de cortes já anunciados pela equipe econômica, que acabam esbarrando nas vinculações dos pisos de Saúde e Educação, indexações de benefícios e política de ganho real do salário mínimo, consideradas praticamente cláusulas pétreas para o presidente Lula.

Lula no palanque

Apesar do otimismo de Lula na reunião ministerial e de suas falas sobre a importância da responsabilidade fiscal, quando fala diretamente aos eleitores em eventos ou entrevistas para o grande público, o presidente deixa de lado o discurso da responsabilidade fiscal e reitera que não vai abrir mão de políticas públicas como da valorização do mínimo, vinculações e da sua promessa de elevar a isenção do pagamento de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000. Medidas que dificultam o ajuste de contas.

Por que o primeiro semestre da equipe econômica pode ser considerado difícil?

No primeiro semestre de 2024, tivemos alta persistente do dólar, inflação pressionada, dificuldade da equipe econômica de convencer os demais ministérios a cortar gastos e de aprovar novas medidas arrecadatórias no Congresso. Apesar do clima desfavorável, Haddad disse também na reunião ministerial que medidas de aumento de receita ainda são necessárias.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes