Aprovar Galípolo no Senado antes do próximo Copom será vitória da Fazenda
O plano A da equipe econômica do governo é que o nome de Gabriel Galípolo para o comando do Banco Central em 2025 seja aprovado pelo Senado antes da próxima reunião do Copom, marcada para 17 e 18 de setembro. Mas há um rito a ser cumprido e a aceleração desse processo depende de ajustes entre o governo e o comando da Casa Alta.
Por que a aprovação nas próximas semanas é o Plano A?
A equipe econômica quer evitar que o nome do novo presidente, anunciado nesta quarta-feira (28) pelo ministro Fernando Haddad após reunião com o presidente Lula, fique em suspenso entre anúncio e aprovação. Além disso, a próxima reunião do Copom é considerada sensível em função da possibilidade de alta da taxa básica de juros, e ter um nome já aprovado reduz incertezas.
Importante lembrar que a Fazenda defendia internamente no governo que Lula indicasse o sucessor de Roberto Campos Neto ainda no mês de agosto, como contei na coluna em junho. A indicação antecipada pode, portanto, ser considerada uma vitória do ministro Fernando Haddad.
O que falta amarrar no Senado?
O governo e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, precisam aparar arestas em outros assuntos para que a sabatina seja marcada e a indicação votada em plenário, possivelmente no dia 13 de setembro. É possível que o tradicional beija-mão aos senadores seja abreviado, um 'fast track', já que Galípolo já fez isso ao ser indicado diretor de política monetária. De qualquer forma, os senadores esperam gestos de deferência.
As questões envolvem ainda o presidente da CAE (Comissão de Assuntos Econômicos), Vanderlan Cardoso (PSD/GO). Já houve avanço nos acordos - por exemplo, o PDL das armas foi retirado de pauta e o governo ficou de enviar outro decreto sobre o assunto. Mas ainda há pontos a serem resolvidos, como a PEC de autonomia do Banco Central, que sofre resistência do governo.
O ministro Fernando Haddad admitiu que não conseguiu falar com Pacheco antes de oficializar a indicação e marcar a data da sabatina, mas a tendência é que as conversas avancem.
Qual é a expectativa do mercado sobre a decisão do Copom?
Segundo o último boletim Focus, a maior parte dos agentes de mercado do Brasil acredita que o Banco Central irá manter a Selic (taxa básica de juros) nos atuais 10,50% ao ano. Mas, nos últimos dias, tem aumentado o número de agentes que apostam em elevação para 10,75% ou até 11%. Entre bancos de fora do país que investem no Brasil, a maior aposta é que a Selic de 10,5% seja mantida.
A divisão no mercado ocorre porque a situação doméstica no Brasil justificaria uma elevação, em função da pressão nos preços e das previsões de que a inflação pode terminar o ano perto do teto da meta, que é de 4,5% (o centro é 3% e o piso 1,5%). Por outro lado, a expectativa de queda de juros nos Estados Unidos também pode ser levada em conta para a manutenção da Selic a 10,5%, já que a queda dos juros americanos aumentaria o fluxo de dólares para o Brasil, o que reduz a pressão inflacionária no Brasil.
O que é esperado de Galípolo?
Ao ser indicado como presidente, Galípolo deve aumentar o seu protagonismo no colegiado em um momento decisivo para a trajetória da taxa Selic. Nas últimas semanas, o diretor de política monetária vem falando publicamente que o aumento da taxa de juros está na mesa do comitê, o que ajudou a melhorar projeções, com reflexos na curva de juros e no dólar. A expectativa do mercado é que Galípolo siga um posicionamento técnico por ser o próximo presidente de um banco central independente. Politicamente, o governo Lula gostaria que os juros fossem mais baixos.
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