Fundos multimercados perderam meio trilhão nos últimos três anos
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Fundos multimercados brasileiros vêm sofrendo resgates em grandes volumes nos últimos anos e esse enxugamento dos recursos explica parte do mau humor do mercado com a gestão Lula 3.
Os multimercados são fundos que alocam os recursos dos clientes em uma cesta de produtos financeiros (ações, títulos públicos, CDBs, moedas estrangeiras, câmbio, derivativos). O gestor do fundo decide como alocar os recursos em cada tipo de ativo e o valor das cotas varia conforme as oscilações dos ativos que compõem o fundo. O objetivo é alcançar a maior rentabilidade possível com a estratégia de alocação.
Segundo a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), a classe multimercados de fundos de investimentos acumulou perdas de R$ 356,7 bilhões em 2024, o terceiro ano seguido de captação líquida negativa, um quadro que vem se agravando desde 2022 (R$ 87,6 bilhões) e 2023 (R$ 134 bilhões de resgates). Ou seja, a perda dessa classe de ativos soma R$ 578 bilhões, ou meio trilhão, nos últimos três anos.
Em 2024, o mercado como um todo teve captação líquida de R$ 60 bi em 2024. O resultado positivo, apesar da deterioração dos multimercados, foi impulsionado pelos fundos de renda fixa, classe de ativos que teve a maior captação da história, de R$ 243 bi. Esses ativos se tornaram atrativos pela elevação dos juros, com alta rentabilidade e risco baixo.
O grande problema desse cenário é que a parte da indústria que fica machucada é a que trabalha com inteligência e gestão.
Nos últimos três anos, os multimercados sofreram com a queda das ações da Bolsa brasileira, a B3, e com apostas dos gestores que não se concretizaram. Em 2024, houve frustração especialmente em relação ao pacote fiscal do governo, com impacto nos juros e dólar. Com isso, uma parte grande do mercado financeiro brasileiro - corretoras, gestoras, e assets - teve que reduzir operações. O que se viu na Faria Lima foram gestoras que há quatro anos tinham bilhões sob gestão voltarem a administrar cifras na casa dos milhões e corretoras com quem conversei que falam em quedas de receita na casa dos 35%.
Outro efeito negativo do cenário é que as maiores empresas brasileiras, que criam empregos na economia real, as listadas na B3, perdem a possibilidade de expansão com a captação de recursos na Bolsa de valores.
"A gente vê uma indústria de fundos muito machucada, que terá que se repensar. Temos ainda a reforma tributária que vai afetar fundos como os imobiliários e fiagros e esses fundos têm patrimônio perto de R$ 300 bi, então o cenário para 2025 ainda é muito desafiador", diz Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Way Investimentos e coordenador de Economia e Finanças da ESPM.
Para 2025
Para este ano há dois pontos que precisam ser observados, se vai haver correção nos ativos no exterior, que estão supervalorizados: essa correção pode trazer de volta recursos que saíram do Brasil para aplicar lá fora, ou se crises externas podem bagunçar ainda mais o cenário interno.
O segundo ponto, de acordo com Espírito Santo, é como atrair de volta investidores para a classe de multimercados: "Há um fenômeno estudado pelas finanças comportamentais que é o viés de arrependimento do investidor. Como o investidor tem aversão à perda, quando ele perde dinheiro em algum ativo específico, ele demora para voltar, fica uma espécie de trauma". A indústria de multimercados, portanto, tende a demorar um tempo para se recuperar.
Como efeito desse cenário, devemos continuar com escassez de IPOs: "Os acionistas das grandes empresas estão preferindo recomprar ações, colocar dinheiro de volta na empresa, do que vender parte na bacia das almas que se tornou a Bolsa brasileira", conclui o economista.
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