Apesar de dados positivos, mercado vê risco econômico. Saiba qual
A economia brasileira tem apresentado vários dados positivos: crescimento acima do projetado para 2024, mercado de trabalho aquecido, aumento de salários, Bolsa de Valores batendo recorde em real, retomada de investimentos e do mercado de crédito.
Apesar das boas notícias, o mercado acendeu um alerta nos últimos dias para a deterioração da política fiscal (gestão das contas públicas e capacidade do pagamento da dívida), motivado por um conjunto de ações do governo e reforçado pelo resultado fiscal de julho pior do que o esperado. Entre eles estão:
- Dados do PLOA (Projeto de Lei do Orçamento 2025 que será entregue ao Congresso) difíceis de serem concretizados para fechar as contas no azul (déficit zero). Como exemplo, a soma das receitas extras esperadas: R$ 166 bilhões. Do lado das despesas, dados subestimados de despesas da previdência, segundo especialistas em contas públicas.
- Pouco espaço para mudanças estruturais de corte de despesas. O pente-fino em benefícios sociais é uma boa notícia, mas considerada como ajuste, e não um corte estrutural.
- Drible ao arcabouço fiscal, como na proposta do projeto de lei enviado ao Congresso do Vale-Gás turbinado, ou Gás para Todos. A Fazenda já se manifestou dizendo que a ideia será revista, mas o texto inicial acendeu um alerta no mercado.
- Insustentabilidade do arcabouço fiscal no médio prazo. O arcabouço fiscal aprovado pelo Congresso no ano passado tem um 'defeito de fábrica', que é o fato que os pisos de saúde e educação crescem mais do que as demais despesas, e se nada for feito, em pouco tempo não haverá espaço para os demais gastos. A Fazenda já tentou promover ajustes na vinculação do crescimento destas despesas, mas ainda não conseguiu e há resistências dentro do governo.
- Aumento do número de aliados em cargos estratégicos de estatais, a exemplo do que vem sendo feito na Petrobras sob Magda Chambriard.
- Antecipação do debate eleitoral de 2026: o anúncio do vale-gás turbinado com valor de cerca de R$ 13 bilhões em 2026, além de outras propostas vocalizadas pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, trouxeram a percepção ao mercado de que a corrida eleitoral de 2026 foi antecipada, o que é sempre um risco para as contas públicas.
O maior temor do mercado é que o governo Lula 3 na economia seja menos parecido com as gestões Lula 1 e 2, e mais parecido com a gestão Dilma. Cada vez que há sinais de piora fiscal, o mercado reage precificando ativos (juros futuros e dólar mais altos) motivado por esse temor de deterioração obervado na gestão Dilma, marcada por maior intervencionismo e menos austeridade.
Sinais positivos para a política fiscal
Há, no entanto, dados que foram considerados positivos para a política fiscal e outros que estão no radar. A perceção do risco fiscal daqui até o final do ano irá depender de alguns desses fatores:
- Contingenciamento/bloqueio no Orçamento deste ano, totalizando R$ 15 bilhões, anunciado em 18 de julho pelo ministro Fernando Haddad.
- Transição tranquila no Banco Central e falas do presidente indicado, Gabriel Galípolo, que se for preciso os juros serão elevados.
- No próximo relatório bimestral de receitas e despesas, em 22 de setembro, o mercado espera um novo contingenciamento entre R$ 10 e R$ 20 bilhões.
- Outro ponto que será observado pelo mercado será o relatório de 22 de novembro, que vai sinalizar se o governo pretende fechar as contas dentro dos limites da meta de déficit zero (e observar se está mirando o centro da meta ou a banda inferior). A banda permite resultado negativo de até R$ 28,8 bilhões neste ano.
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